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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->8. O CENTRO ESPÍRITA “JESUS DE NAZARÉ” -- 31/05/2002 - 06:17 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Exatamente às dezenove horas e trinta minutos, o carro de Fernando se postava à frente do vetusto prédio, em cuja fachada se lia o nome da instituição. Havia duas portas. A central permanecia aberta e iluminada. A da esquerda estava fechada.

Os amigos entraram e não deram com ninguém no corredor. As portas laterais trancadas. A do fundo dava para um auditório, com muitas cadeiras simples e alguns bancos.

Fernando reparou que a caiação era recente e que os materiais empregados não eram de primeira. Força do hábito.

Ao fundo, havia um palco com o cortinado aberto. Sobre o tablado, comprida mesa e cadeiras em toda a volta, como se estivesse preparada para a reunião.

Não havia ninguém. Mas ouviram João, de algum ponto, que lhes dizia:

— Chegaram cedo. Vão sentando. Deixa arrumar o aparelho de som que já vou aí.

Vozes fizeram-se ouvir da entrada. Pessoas chegavam conversando. Pareciam familiarizadas com o ambiente. Jeremias verificou tratar-se de conhecidos seus. Sobressaía do grupo o vozeirão grave de baixo profundo de um dos palestrantes das quintas-feiras.

Feitos os cumprimentos de praxe, foram instalar-se nas cadeiras do palco. Ali endereçaram saudações a alguém atrás do cortinado. Era o João, por certo.

Fernando não percebeu qualquer preferência pelos lugares, mas notou que as cabeceiras não foram ocupadas.

Jeremias levantou-se:

— Espere um pouco, que vou ajudar o João.

Antes que chegasse a subir, ouviu-se suave melodia. Música de câmara, suave, tranqüilizante. Era convite ao silêncio. Aliás, a inscrição ao fundo, no alto, avisava: O SILÊNCIO É UMA PRECE.

Fernando pôde reparar na decoração. Havia um quadro de avisos, pequena lousa, onde se anunciava o orador da próxima quinta-feira. Do outro lado, algumas flores artificiais. Quadro não havia nenhum, mas uma faixa pedia para que se lesse Kardec e se vivesse Jesus. Era o único indício de religiosidade.

Acostumado aos templos católicos, Fernando estranhava sobremodo a rusticidade do ambiente.

Enquanto se entretinha em observar o relógio no fundo da sala, chegaram mais algumas pessoas. Entraram silenciosas. Cumprimentaram de longe. Subiram ao palco. Foram efusivas com os presentes. Sumiram um instante atrás da cortina, de onde partiram risadas e expressões de carinho. E voltaram para se sentarem ao derredor da mesa do palco. As cabeceiras persistiam desocupadas.

A misteriosa ausência visual do João, fez que Fernando o imaginasse paramentado. Não como o padre na igreja, mas como o “babalaô” no terreiro. Atrapalhava-se com as nomenclaturas. Desconfiava de que João deveria ser o mestre de cerimônias ou o oficiante do culto. A diferença que sentia quanto à Umbanda era a doçura da música, em contraste com as retumbantes batidas dos atabaques. Também se frustrara na expectativa de encontrar imagens ou telas de entidades, além das flechas, arcos, zarabatanas e outros petrechos que se colocavam no altar do culto do terreiro. Nenhuma vela.

Quando todas as cadeiras laterais foram ocupadas, João apareceu com a mesma roupa que vestia à tarde. Veio diretamente ao encontro de Fernando, trazendo Jeremias pelo braço.

— Peço desculpas por não ter vindo recebê-lo antes. O aparelho estava rodando em falso. Quando não se tem à mão as ferramentas adequadas, não se consegue fazer nada direito. Enfim, está funcionando. Não repare na singeleza da casa. Temos tido algumas dificuldades financeiras e, se não fosse a contribuição do Jeremias, não teríamos pintado o salão. Mas não pense que iremos pedir-lhe nada. Vamos deixar claro, desde já, que aqui nada é cobrado de ninguém. Os diretores e os associados que podem deixam uma mensalidade para a caridade. Quem quer contribuir com qualquer valor, aceitamos. Mas os balancetes estão afixados no corredor de entrada. É tão pouco o movimento que me envergonho de elaborar as prestações de contas. O pessoal do escritório é que se diverte comigo, quando quero colocar tudo no computador.

Falava de carreira.

— Está na hora de começarmos. Não se assuste que iremos amainar as luzes. É mais fácil alcançar concentração na penumbra. Se for preciso, podemos deixar tudo aceso. Você ouvirá algumas leituras. Faremos a rogativa aos amigos da espiritualidade para que nos ajudem. Depois, a palavra será dada aos espíritos habilitados para se manifestarem através dos médiuns. Vocês dois ficarão aqui embaixo e eu peço que não conversem. Será bom que nos acompanhem nas preces. Principalmente, ajam com naturalidade, como se estivessem em reunião de pessoas da sociedade. Se algum sofredor for trazido, não se assustem com as expressões de dor. O plano espiritual cuidará de tudo e nos dará a alegria de poder ajudar. Quanto ao seu caso específico (dirigia-se a Fernando), não tive tempo de conversar com ninguém. Se os guias quiserem fazer referência aos problemas, será a resposta às questões que fizer intimamente. De qualquer modo, não espere muito na primeira reunião.

João falou de um jato. Parecia ter decorado o discurso. Pediu licença, subiu ao palco, ocupou a cabeceira direita. A outra permaneceu vaga. Um dos médiuns foi ao interruptor e apagou as luzes, acendendo outra de cor azulada. O ambiente quedou silencioso, apenas com a música, que se intensificava.

Fernando mantinha-se curioso. Depois de alguns instantes de silêncio, João levantou-se e desapareceu atrás da cortina. A música cessou. E algumas lâmpadas se acenderam. Era o momento da leitura.

Ao volver o olhar para o salão, lá no fundo estava o Roque, sem charuto, sentado na última fileira. Ao seu lado, a mesma senhora da vitrina. Fernando ficou tranqüilo com a atitude de ambos. Venceu a tentação de tocar em Jeremias e observou que a mulher punha o indicador sobre os lábios, impondo-lhe silêncio.

— Vamos pedir ao irmão Renato que faça a leitura do “Evangelho”.

Era João, que dava início aos trabalhos.

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