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cronicas-->A morte veio busacar-me e levou outro em meu lugar -- 11/09/2014 - 11:19 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A morte Levou outro em meu lugar
Jamais imaginei ser salvo por alguém de quem nunca ouvira nem falar.
Sempre ouvi dizer que a morte é cega e não sabem quem vem levar, por isso existe a expressão:
Estar no lugar errado na hora errada
Naquela tarde, de segunda feira, eu senti que as coisas estavam dando erradas para mim, eu tive certeza de que não sairia daquele hospital caminhando, ou melhor, eu jamais sairia, seria retirado pela porta dos fundos. Quando cursei Administração Hospitalar, especialização, muito ouvi dizer que ninguém fica no hospital, ou sai pela porta da frente ou é levado, com os pés para frente, pela porta dos fundos, o necrotério.
Por falar com os pés para frente. Esta foi uma das tantas coisas que me desagradou no hospital desde que fui levado de maca para o quarto. O hospital é tal igual a uma prisão lá o paciente perde todo o poder de decisão. Com a diferença, pró-cárcere, ao menos para os parentes e os direitos humanos o recluso, não passa de uma injustiçada vitima enquanto paciente esta lá para espiar as suas culpas da vida desregrada. Principalmente para aquele parente Adventista do Sétimo a achar que ele, como ímpio que desrespeitou o sábado, bebeu e fumou, comeu pato marreco e outros insetos semelhantes, não poderia ter cavado melhor destino. Eu sempre soube que quem é carregado assim é presunto, defunto no jargão policia ou marginal.
O médico veio para a sua visita diária. Algo não costumas para os pacientes do SUS, graças a Deus, a minha cómoda condição financeira conquistada ao longo dos anos - Talvez tenha sido o único eletrotécnico, a adquirir automóvel depois dos dez anos de profissão - Eu tenho um bom plano de saúde. Ele trazia uma noticia assombrosa, Eu iria para a UTI, embora eu estivesse bem.
A vida eu soube que o hospital tem um roteiro. O paciente entra mal, pela UTI, vai para o quarto a espera da alta e, sai. Ou, entra no hospital em estado regular, piora, numa van tentativa de salvação vai para a UTI e é retirado pela porta dos fundos.
Toda a família reunida, debalde tentava convencer-me da veracidade das palavras do médico: Eu estava bem. Só não ido direto para a UTI, onde seria mais bem monitorado, por falta do leito hora vagado. Olhei pela janela casualmente, por aonde se chegasse a ela, poderia ver o por do sol e, lembrando-me de um filme de Faroeste, imaginei com nostalgia, se no dia anterior havia perdido a oportunidade de ver meu "Ultimo por do Sol".
Meu pai não gostava do por do sol. Achava-o muito triste. Adorava o alvorecer. Eu ao contrario sentia uma atração imensa pelo por do sol. Essa diferença logicamente era devida ao tipo de vida de cada um. Ele numa vida tranquila de campónio, muito tivera a oportunidade de ver o amanhecer tomando um gostoso amago. Eu, no entanto, praticamente nunca tive oportunidade dessa feliz observação, ou como iria curtir o nascer do sol, quando eu o via nascer estando entre "Joanas e Mendonças" após uma noite de trago e farra ou profissionalmente, molhado com frio e sono depois de uma noite atendendo uma falha de lihas. Ele morreu logo depois do por sol.
Na eminência da chegada da enfermeira, com a maca, meu meio de transporte, com os pés para frente em direção a UTI, minhas filhas, amontoavam meus trastes na desocupação do quarto. Cheguei a pensar se na noite antes do enforcamento do Sadan Hussein a sua cela teria sido assim desocupada?
A cheda da minha esposa deu-me a certeza de algo até hoje não confirmado, Eles estavam cientes da necessidade de uns instantes a sós com minha velha companheira, pois talvez fosse meus últimos momentos de privacidade com ela. Discretamente o quarto esvaziou, restando somente os dois. Era nossa derradeira oportunidade de despedida. Longos anos de batalhas de vitórias e derrotas de enganos e desenganos que chegavam inesperadamente ao fim me Ela mostrava-se firme e confiante tentando convencer-me da veracidade das palavras do médico, eu sem medo, mas previdente como sempre, tratei de transmitir-lhe as minhas ultimas vontades na esperança do respeito a elas por meus filhos.
Bateram a porta do quarto. Senti o coração apertar. Esta na hora de ir corredores a fora com os pés para frente. Adentrou no quarto um jovem de barbas, caprichosamente aparadas, Capitaneando duas enfermeiras, ninguém pilotando a maca, o quarto voltou a atopetar-se com meu familiares, quando ele se apresentou não sei se me senti uma pessoa muito importante ou se me apavorei quando ele se apresentou:
Eu sou o Dr. Paulo Farias, medico chefe da UTI.
Nunca ouvi falar do chefe da UTI, vir acompanhar um paciente. Será que sou tão importante? Logico que não. A gravidade do meu caso é tal a não permitir minha condução sem a presença do médico.
Continuando ele explicou-me de a minha vaga ter sido ocupada por alguém chegado ao hospital baleado. Ele encaminhara via internet, meu eletrocardiograma para uma avaliação pelo Instituto de Cardiologia de Ijui, para com essa avaliação poder decidir se havia necessidade de desocupar outro leito. Como eu estaria melhor que os outros pacientes da UTI, ele decidira que eu deveria aguardar nova vaga e, que durante essa espera estaria a disposição do meu posto de enfermagem o médico de plantão da UTI, para caso meu quadro apresenta-se qualquer sinal de emergência. Escapei de ir para UTI.
Deduzo que lá no além decidiram que a morte viria buscar-me naquele leito, ao por do sol de quinta feira, ou não lhe deram o nome ou simplesmente na viagem ela desprezou-o. O endereço, Hospital Santa Lucia, estava certo o local, UTI, e até o leito estavam certos,para que nome? Missão cumprida.
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