Usina de Letras
Usina de Letras
72 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62206 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10354)

Erótico (13567)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Histórias de apagões - Conceição -- 29/05/2001 - 08:33 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Num destes apagões, Conceição foi pega desprevenida no trigésimo sexto andar de um prédio de escritórios, teve que descer pela escada. Naturalmente, a escada não tinha luz de emergência, e a descida teria que ser feita no escuro mesmo. Não havia outro jeito. Conceição rosnou um pouco, na verdade relutou muito, ponderou a hipótese de passar a noite no prédio e esperar o restabelecimento do transporte vertical. Depois, pensou melhor e resolveu encarar. Começou a descida tateando com o pé a cada novo degrau. Depois foi se acostumando e já podia andar um pouco mais rápido. De tanto rodar, acabou perdendo a noção de quanto já tinha descido e em que andar realmente estava. Lá pelo terceiro, desconhecendo que já estava praticamente no final de sua caminhada, resolveu parar por um instante e descansar um pouco. Lastimou não ter nada para comer, um biscoito, um chocolatinho, uma fruta que fosse. Já acostumada à escuridão, sentou-se. Cansada que estava, adormeceu.

Quando acordou, três horas depois, atordoada, não entendeu o que estava ocorrendo. Aquela escuridão, aquele abismo, os degraus para baixo ou para cima, uma certa dor nos joelhos. Julgou-se morta. Na realidade ela tinha muitas dúvidas sobre sua condição, mas o que mais poderia ter acontecido para ela estar ali sozinha no escuro? Dando-se conta de que estava em uma escada logo pensou que, subindo, seria conduzida ao céu. Na realidade ouvia vozes vindas de baixo, uma algazarra, alguns gritos mais estridentes que ela não sabia identificar se eram de dor ou mera frescura. Mas quem arriscaria? Afinal, ela tinha todos os méritos, por que não o céu? O céu, naturalmente, haveria de ser para cima. Pensando bem, não seria tão mal assim, no céu não deveria ter apagões. Como que por instinto apressou-se a rasgar uns carnês que tinha na bolsa, pensando que não precisaria mais honrá-los e deu graças por ter usado o dinheiro da conta de luz numa festa, que acabou sendo sua festa de despedida. E que festa, pensou ela, com um sorriso nos lábios. Depois pensou e rapidamente recolheu o sorriso, pouco apropriado para o ambiente celestial que imaginava encontrar. Mas arriscou um novo pensamento na festa, desta vez como sorriso contido. Que festa. Quem precisa de energia para uma festa daquelas? Elétrica, quero dizer.

Só não entendia o motivo daquela escuridão toda. Não teve dúvida, começou a subir e foi subindo. A cada andar ela conseguia distinguir portas e por algum motivo, talvez intuição, notava serem vermelhas. Do outro lado um vozerio, gente reclamando, alguma fumaça por baixo da porta. Ficou com receio e achou melhor não arriscar. Porta vermelha no meio desta escuridão toda, não haveria de ser para o céu. O céu, provavelmente teria uma porta azul claro, com nuvens brancas, delicadas, e certamente deveria ser mais pra cima. Seguiu subindo, já imaginando as alegrias da nova condição.

Ao chegar à cobertura, vendo o céu estrelado achou que podia voar, já estava morta mesmo.

Voou.

Não há provas, mas parece que teve dificuldade em entrar no céu, mercê daquele sorriso que ela não podia evitar.


Escrito em 22.05.2001
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui