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Contos-->CAMISA 12 -- 08/10/2001 - 00:30 (ricardo moura braga cavalcante) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CAMISA 12

Futebol. Paixão das multidões. Milhares de fanáticos torcem, gritam, digladiam-se pelo seu time de coração. Domingo à tarde. Estádio lotado. Clássico estadual. Alvinegro versus tricolor. Dia de decisão, seja lá de qual decisão for. Biriba é o nome do jogo. Camisa nove. Artilheiro. Favoritíssimo para a seleção nacional. Ídolo da massa. Deus do esporte bretão.
Domingo à tarde. Motel de luxo. Um belo casal assiste ao jogo pela tv por assinatura. Ele, casado, mas não com ela. Ela, casada, mas não com ele. Se amam há algum tempo. Às ocultas. Ele, torcedor fanático do time de Biriba. Ela, também. Depois de se amarem por algum tempo, fazem uma refeição leve. O narrador esbaforido começa a transmissão. “Boa tarde, fãs do esporte. Aguardamos ansiosamente a decisão do campeonato. Biriba está confirmado com a número nove. É promessa de gol. A torcida faz a ola... Começa a partida !!!”
“Amor, faz uma massagenzinha, faz?”, diz ela sussurrando. “Faço, mas vira pra lá que eu quero ver a TV”, responde, aplicando um creme nas mãos, sem, no entanto, tirar os olhos da tela. “Trinta minutos do primeiro tempo, passou pelo zagueiro, ajeitou para a perna esquerda, mirou e ... Gol!!! Goooooolll!!! Biriba, camisa nove, faz Maranguapinho um, Catandura zero!”. Ele pula da cama aos gritos, vibrando completamente nu. Ela sorri feliz, mas discretamente.
Intervalo. Pausa para o amor. Insensato e tórrido, como manda o figurino do amor infiel. Neste jogo, só há melhores momentos, e, dependendo do caso, com direito a replay. Enquanto a partida prossegue, muitos gols são marcados, fazendo a alegria da ansiosa torcida, que deseja a todo custo ver a bola entrar. “Veja só torcida brasileira, ele dribla a marcação, avançando perigosamente. Os laterais partem do grande círculo para a linha de fundo. O cruzamento é feito. Não há impedimento no lance. O atacante passa pelos dois marcadores e ... é Gol!!! Quase que o atacante entra com a bola e tudo! A torcida vai ao delírio, pois foi um gol de placa. Os adversários se abraçam, saboreando ainda o momento máximo do esporte horizontal”. Biriba, quase no mesmo instante, marca o segundo gol. Maranguapinho, 2, Catanduva, zero. O time alvinegro é o novo campeão. A torcida grita olé muito antes do término do jogo.
“Esse Biriba é um craque”, ele diz, ainda ofegante. “Com certeza, ele joga muito bem”, ela responde, indo ao banheiro. “Somos campeões”, comemoram os dois. Fim de jogo. Ele começa a se arrumar; calça a meia, veste a calça. Age sem pressa, não quer ir embora, mas chegou a hora. Ela sai do banheiro e manda-o parar. “Está na hora amor, temos que voltar logo”, ele diz. “Não se preocupe”, diz ela, “o Biriba vai comemorar o título com os colegas, depois tem mesa-redonda. Podemos ficar aqui até mais tarde, ou você não quer uma prorrogaçãozinha? ”
Biriba é o nome do jogo. Camisa nove. Artilheiro. Ídolo da massa. Deus do futebol. Corno...

Ricardo M. B. Cavalcante




































I

Detesto fila. Seja lá de que tipo for. Embora seja uma forma civilizada de convivência, vitória da razão sobre a barbárie, não deixa de ser chata. Como sempre tenho de enfrentá-la, imagine o inferno que é minha vida. Porém, não me entrego fácil. Vou armado até os dentes. Ando com walkman, palavras cruzadas, a Bíblia ou até mini-game. Quando um conhecido precisa resolver alguma coisa e vai encará-la, vamos juntos. Um dando força para o outro. E a conversa? Rola de tudo. Do futebol à arte japonesa contemporânea. Por causa desse meu trauma é que tudo começou. Minha vida foi para o brejo por culpa de uma fila!
Segunda de manhã. Dia perfeito para pagar conta. Mato trabalho sem qualquer remorso. Chamo um amigo meu, daqueles do peito mesmo! Conversa para o dia todo. Mas o desgraçado tinha um problema, um problemaço! Não vou mais adiar a história. Pois bem, chegamos às onze, e a fila do banco já era um caracol humano imenso, dava quatro voltas e meia. Não é preciso dizer que estávamos na meia. Nos guichês, três funcionários. Volta do feriado, todo mundo liso e apenas três funcionários. Sentiu o drama?
Começamos a conversar para matar o tempo. Tudo ia bem, até que de repente o meu amigo fico calado, pensativo. Olhei para ele, sem entender nada. Aí ele me explicou. Disse que era daquelas pessoas exibicionistas, que tinha muitas fantasias não-realizadas, umas coisas... como era mesmo o nome? Ah! Coisas freudianas. Libido reprimido. E eu não entendo lhufas. Foi quando ele disse que queria mostrar... É, isso mesmo, queria mostrar o pingolim para as câmeras internas do banco. Meu, fiquei passado, era muita doideira prum cara só.
Quis abafar a história. Minimizar o assunto. Não deu. Mal virei a cara, o indivíduo tinha aberto o zíper e mostrado o bilau para a câmera. E o bráulio do meu amigo era daqueles grandes, tamanho família. As pessoas que estavam na fila, não haviam percebido nada, até que ele começou a rir e a balançar aquele treco. O cara tava quase em êxtase. Eu ainda tentei cobrir, mas me digam, que homem iria ficar na frente daquele bimbo?
Eu é que não! Um menino que estava com sua mãe viu aquela cena e saiu gritando, rindo e querendo fazer o mesmo. A mãe, furiosa, partiu para cima do meu amigo com uma bolsa pesando uns dez quilos. Aí a bagunça foi contagiosa, porque havia os que queriam acabar com aquilo, mas também havia os que queriam mostrar os seus documentos. E a mulherada? Não iam querer ficar para trás. Foi um mostra-mostra, que eu mostrei o pinduco.
Nesse momento, chegaram os seguranças. Tinham visto tudo pela câmera (os vigias presentes junto com os caixas também estavam se exibindo). Na hora em que eles iam entrar, alguém gritou: abaixo à repressão sexual! E ninguém deixou os caras entrarem, formaram uma barricada com objetos de metal que travou a porta. Estávamos presos e semi-despidos. O responsável pelo monitoramento, só de gracinha, conectou as câmeras à um transmissor de sinais. Toda cidade passou a nos ver via UHF! E o meu amigo? Corria feito louco pelo banco gritando: mamãe, mamãe.
Enquanto isso, não muito distante de onde estávamos, o carro-forte do banco estava sendo assaltado, sem nenhum empecilho. Soube disso depois, quando despertei. E o pior é que estavam nos culpando, como se fossemos cúmplices dos assaltantes. Juro que sou honesto, apesar de não poder dizer o mesmo do meu conhecido, que acabara de levar uma bolsada nas partes pudendas. De longe, ouvi apenas o grito de agonia. Logo surgiram algumas mulheres em defesa do meu amigo, dizendo que ele não havia feito nada de errado e que não precisavam bater nele e partiram para cima da outra. Foi uma bela briga. Enquanto elas se engalfinhavam, alguns casais recém-formados escondiam-se afim de se descobrirem melhor. Avistei uma bela jovem, de seios desnudos, sorrindo para mim. Mas, quando ia me dar bem...
Gases lacrimogêneos atirados pela tropa de choque (a imprensa, os bombeiros e o dono do banco também já estavam lá ). Aquilo virou uma zona. Todo mundo cego, correndo e gritando por socorro. Os caras entraram quebrando tudo, mas a gente não deu moleza, reagimos do jeito que dava. Um office-boy que acompanhava de fora, gritou: vamos entrar pessoal e levar a grana! Imagine o centro da cidade numa Segunda. Cheio, não? Agora imagine uma rua de gente entrar de uma vez em um banco? Foi o que aconteceu. O caos urbano. Só me lembro de uma pancada pelas costas, então eu desmaiei...

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