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Cronicas-->A espuma do Mijo -- 26/08/2014 - 14:10 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

                 Não sei por que não ouço mais um cão uivar?

              Será que os cães da cidade não uivam como os da campanha onde me criei?

           Não sei por que não ouço mais um galo a cantar na madrugada, se tantas

madrugadas eu vi acontecer, trabalhando em uma falha de linha de transmissão?

             Não sei por que não vi quando pela primeira vez espumei minha urina, talvez o prazer

do inesquecível primeiro orgasmo, tenha me feito perder o interesse por isso?

 

               Criado no meio rural, muito vi com admiração quando cavalos e cavaleiros paravam para dar uma mijada, tanto os homens como os amimais deixavam no chão um mote de espuma, e eu dizia: como coisa de homem, um dia vou fazer espuma assim ou maior. Algo que as realizações da vida e os prazeres provocados pelo mesmo instrumento fizeram-me esquecer.       

                  Quando um sonho passa a ser preocupação ou até mesmo pesadelo. Quanta coisa que a gente queria em criança que as brumas do tempo apagaram a nossa memória? Quantas vezes deparamo-nos com algo que sonhávamos em criança e que o tempo desvaneceu? Quantas vezes rimos de nossos sonhos bobos infantis? Em sonhos de menino eu já fui padre e já fui médico. A primeira foi uma indução das freiras do Colégio Nossa do Horto em Dom Pedrito onde fiz minha Primeira Eucaristia e fui coroinha. Que meninos Santos dizia a Irmão Escolastica. Eu e meu primo José Germanos. A segunda pela pompa de ser chamado “Doutor” pelo dinheiro que o médico ganhava e pela figura de Semideus que na época eu já enxergava. O dinheiro faltou para as duas.

              Um velho enfermeiro, disse-me certa feita que noventa por cento dos médicos pensam serem Semideuses e que os outros dez por cento tem a certeza de serem Deuses. Diz o velho professor Federico Baioch em seu livro Sorrisos que o médico e o padre são semelhantes o primeiro se diz sacerdote do corpo e o segundo médico da alma. No fim os dois acorrem ao paciente moribundo o médico debalde tenta salvar o corpo e o padre a alma a muito perdida.

                   Uma tia minha errada mente fora para o Convento, anos mais tarde voltara para casa, desiludida para cursar o normal, a custa da minha Tia Tetê, não por que Tetê se ela era Henriqueta. Mas morreu titia, sendo Tetê para os sobrinhos, os maridos dos sobrinhos, as esposas dos sobrinhos e para muitos dos sobrinhos netos e cônjuges. Com disse voltou desiludida, na velhice tornou-se espirita. Loira adorava dizer-se italiana por ser neta de um italiano. Na passagem por um convento em Caxias do Sul aprendeu alguns costumes alimentares, que queria enfiar-nos. Só não entendi como nunca tentou enfiar a polenta, alimento primordial dos “Gringos” na rotina alimentar da casa do meu avo, filho de um imigrante.

                 Meu tio, Dartagnan Luiz Gonzaga, adquiriu um cão Galgo. O encarregado de dar comida ao cachorro era eu. Numa casa de pobres, meu avo era Guarda Livros, hoje Contabilista e mina avó costureira, um galgo com toda a sua voracidade tinha de ser alimentado com uma papaça de farinha de milho cozido. Um dia atrasei-me e meu avo chegou para o almoço, quando eu inocentemente racionava o cachorro, eu e meu tio quase fomos surrados:

                “Onde já se viu darem pulenta para os cachorro? Quem não tem dinheiro para dar comida descente ou ao menos frissura que não os tenha”.

                Essas foram as Iradas palavras dele. Muito bem lembradas quando treze ou quatorze anos depois fui viver no meio Italiano onde nem mesmo o caviar Frances tem tanto destaque na mesa.

              Segundo esse tio, o ultimo sobrevivente, dos meus vinte e dois tios de ambos os lados, que andou pesquisando as origens da família, diz ter encontrando indicio de que Meu bisavô Domingos Minervini tenha participado, aos dezesseis anos de idade do cerco de Roma com Garibaldi.

                Com endereço fornecido pelas irmãs escrevi para alguém, mais precisamente quem sabe para um seminário, manifestando o desejo. Recebi uma carta resposta. Os estudos eram gratuitos, mas o enxoval exigido era muito além das posses de meus pais. Imagine-se eu que mal tinha um sapatinho para passear no domingo, ter de levar: dois pares de sapato, um par de tênis, um par de chuteiras, não sei quantos calções, dois pares de pijamas, dois jogos de cama e não o que mais e, o que mais.

                          Quando se abriu para mim, as portas da Escola Técnica de Pelotas, onde aprenderia uma profissão, estudaria de manhã e tarde, recebendo almoço e café da tarde, eu agarrei essa oportunidade com as duas mãos. Com um curso profissionalizante eu poderia cursar uma faculdade de Engenharia Elétrica, mais uma porta que se fechou para mim. Cursei outra faculdade para conhecimentos e deleite meu.

                    Volvidos uns bons quarenta anos, levado ao esquecimento do sonho do mijo forte, Um dia na praia do Cassino num lugar ermo, quando eu já era chefe de serviço, e por ser o mais velho do grupo de chefes de área, gozando já um cero respeito paramos para urinar na areia, um deles notou:

                  “Que interessante esse monte de espuma que fazes ao urinar?”

                 Quando morava, no Querência Hotel em Vacaria, no quarto contiguo ao meu, dividido por parede de madeira, morava outro colega, irmão de uma poetiza Azildo Bristotti, que passava horas declamando, ou cantando em voz alta e inúmeras vezes eu o ouvi cantar ou declamar:

               “Não sei por que, esta noite não ouço os meninos da rua cantar das crianças”.

               Assim muitas vezes me pergunto:

              Não sei por que não ouço mais um cão uivar?

            Será que os cães da cidade não uivam como os da campanha onde me criei?

                 Não sei por que não ouço mais um galo a cantar na madrugada, se tantas madrugadas eu vi acontecer, trabalhando em uma falha de linha de transmissão?

                Meu sempre dizia que gostava muito do amanhecer. Achava muito triste o por do sol e, morreu pouco depois do por do sol.

                 Como essa coisas, quiçá, pelas tantas realizações pessoais, e por que não os desenganos? Eu perdi a oportunidade de curtir o prazer de pela primeira vez curtir o espumar o espumar da urina. Quiçá, porque já não mais significasse ser homem fazer isso. Como um dia descobre-se que fazer um filho, o que qualquer um faz, não significa ser homem, mas fazer um homem o que muitas vezes uma mulher sabe fazer melhor é ser homem. Assim como não entendo como homens com um mundo de realizações morram na direção de um carro tentado provar ao mundo e para ele mesmo que é superior no volante. Até aquele dia na areia do cassino.

                Curti esse prazer por longos vinte anos, até que em conversa de bar acendeu-me uma luz de alerta. Gosto de bar assim como gosto do Café, não tanto pelos cafezinhos como pelas taças de vinho, ou pelos cálices de cachaça enfeitada apelidada de conhaque, que não foram muito poucas tomadas por mim como do ambiente do bar. Até do borracho que cai na calçada aprendesse alguma lição. No bar aprende-se a conhecer a vida da cidade. No bar ouve-se as lorotas, sobre trapaças aplicadas pelo picareta de carros.

             No bar conheci um cidadão de setenta e cinco anos, que se divertia contando suas aventuras casado com uma menininha de dezesseis anos, que o traia a olhos vistos, sem que ele percebe-se, para ele tudo era infantilidade, como ela ir procurar, com o priminho, ninho de cavalo no mato enquanto ele assava o churrasco. Ele era caso com uma senhora da idade dele e criava essas historia como motivo para frequentar o bar quando ele era abstêmio.

           No bar, sem que as pessoas imaginassem algo sobre mim apareceu trazido por um bioquímico a hipótese de avaria no rim. Programei uma visita a um urologista, quando deveria ser um nefrologista. Visita essa que foi sendo protelada, não gosto de me médicos nem de hospitais, a antepenúltima vez que consultei, há 22 anos, custou-me um dos maiores prazeres da vida e que ainda vai ser a minha “Causas Mortis” o cigarro. Existem dois homens que eu são consciência eu não gostaria de encontrar, mas que, um dia mais cedo o mais tarde terei de encontrar. O médico, nem que seja para assinar meu atestado de óbitos senão para necropiciar-me e, o coveiro.  Acabei encontrando o médico antes. Os rins pararam provocando-me um edema pulmonar agudo. A espuma da urina era o alerta de que eles já vinham a mais de vinte anos falhando.

           Hoje volvidos quase sessenta anos eu fico olhando o vaso para ver se não espuma e, pior eu que não gosto de médico espero de um que me faça parar de espumar e, e faça-me voltar a arrebentar o fundo do vaso com a pressão do jato ou que tal pressão tenha o efeito do enchimento do balde com o lava jato. 

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