O OUTRO LADO DO MUNDO
Somos cenário e personagem
Sondagem
Batedores dos sons
Que o universo recolhe
Homenagem de bronze
Aos emissores que morrem
( Transposição e Permanência / Landro Oviedo )
É verdade que, apesar da tarde ensolarada de agosto, sentia-se um pouco tenso. Como dizia o seu amigo do peito: um pouco cinza. Plúmbeo. Subia-lhe do estômago uma pesada sensação de mal-estar, um murmúrio gritado no silêncio, uma voz dolorida anunciando uma iminente tragédia.
Era agosto e lhe chegava uma música não identificada, um grito qualquer da infância, um sussurro tênue, doce e distante.
Súbito as pernas dobraram e sentiu o asfalto golpeando seu rosto. Caído, percebeu que se desprendia, alheio a seu corpo, estranho à exclamação atordoada de uma mulher, que olhava o desfalecido na tarde agonizante.
Viu, com olhos novos, como o erguiam da rua. Surpreendeu-se ao ver o trejeito da sua boca e ao verse, tão próximo e de fora, coberto o rosto de sangue, os lábios raivosamente apertados e as pálpebras fechadas. Levaram-lhe num taxi, em desesperada correria.
Ele sentou-se no fio da calçada, aparvalhado, tentando organizar seus sentimentos. A rua, a cidade, o mundo, tudo ficou vazio, silencioso, solitário. Ele ficou sozinho, perguntando-se se estava sonhando com uma tarde ensolarada de agosto ou se estava pisando do outro lado do mundo.
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