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Cartas-->Délcio Vieira Salomon BH 1 (*) -- 25/09/2007 - 16:02 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Délcio Vieira Salomon BH 1 (*)


Belo Horizonte, 28 de dezembro de 2006


Prezado Benedito


Somente agora encontrei tempo e sossego para escrever–lhe para dizer algo a respeito da impressão que seus dois livros – SALDUNES e REMINISCÊNCIAS – me causaram. Sublinhe o que acabo de escrever: "dizer algo sobre impressão causada". Não me arrisco a fazer comentários, por mais que tivesse intenção de elogiar o poeta e sua obra. Sim esta intenção a tenho e deixo meu testemunho logo neste intróito.

Desde os primeiros poemas lidos em Saldunes senti que estava diante do autêntico poeta. Há quem faz versos, há os que sabem fazer versos, mas revelar-se poeta, são poucos e os considero privilegiados (até hoje não sei se pela genética ou pela conjunção de fatores, desde os hereditários até os culturais, incluindo nesses últimos os de formação e educação). E você pertence a essa grei.

Não sou capaz de colocar num ranking os melhores. Mesmo tendo gostado mais de Saldunes do que de Reminiscências, não os coloco em termos comparativos quanto ao valor objetivo. Apenas subjetivamente.

Não sei se foi por causa dos momentos de leitura, meu estado psicológico, mas Saldunes me pareceu mais ligado à Vida, ao Ser Humano, enquanto tem no Amor e nas Paixões da Alma (como Descartes as considerava) sua razão de ser.

Curiosamente no Saldunes predomina o soneto (creio que em Reminiscências há apenas uns quatro ou cinco). Como é sabido, desde que Petrarca o inventou, tornou-se a forma das mais desafiadoras e, ao mesmo tempo, a mais bela das expressões poéticas. Não é fácil colocar em catorze versos, obedecendo à regra de dois quartetos e dois tercetos, a disposição das rimas e fechar com chave-de-ouro a "trama" construída no poema, seja esta uma reflexão, um descrição, uma análise, uma crônica, um conto, uma sinopse ou outro gênero literário que o propósito do poeta tem em mente. O soneto prima pela mensagem transmitida tanto quanto pela originalidade e a concisão ao revelar estado de alma: a alma toda do poeta naquele momento - seu "eu e suas circunstâncias".

E senti que você consegue alcançar com facilidade todas essas características, ao escrever um soneto.

Talvez por manter-se mais imbuído das correntes que antecederam ao modernismo, sem com isso querer rotulá-lo de clássico, romântico , parnasiano ou mesmo simbolista, em Saldunes, notei que neste texto você se revelou o poeta que se identifica com o que sente e escreve muito mais que em Reminiscências

Aludi aos dois momentos da literatura: ao período antecedente ao modernismo e ao período do modernismo até nossos dias. Curiosamente percebi que, se em Saldunes você se revela o poeta do primeiro período, como apontei há pouco, mas em Reminiscências se mostra adepto da fase modernista em diante.

Sem aderir ao verso livre, sem rima (tão característicos do modernismo, em termos de forma), nos dá prova cabal que escreve ao gosto contemporâneo, quando recorre com freqüência aos poemas sintéticos, notadamente aos haicais, sobretudo aos consagrados por Guilherme de Almeida (para mim um dos maiores poetas de nossa língua): além das rimas, a "chispa poética" contida em três versos: o primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o segundo com sete.

É nessa sua capacidade de registrar o tema e seu desenvolvimento na fôrma da concisão, sem perder a clareza e a beleza, nem sacrificar o conteúdo que enfatizo seu mérito de poeta, particularmente quando recorre aos haicais e aos poemas de poucos versos.

Sou levado, com todo o misto de sinceridade e admiração, a atribuir a você o que Cândida Papini disse a respeito dos haicais: "a economia de meios (o dizer muito com poucas palavras), o olhar atento à imagem instantânea, que cintila por um breve momento e logo se desfaz, o estado distraído e ao mesmo tempo alerta se exigem dos haijins (como são chamados os haicaistas)".

Pegando a esmo, ao folhear seu texto, não é o que nos revela este seu haicai?

Benefício

Valeu toda a crença,
Amiga. Ao bem que a abriga
Não há mal que a vença.

Quando você me mandou seus dois livros, pediu-me que apontasse os que mais gostei. Tentando fazer o dever de casa, em gratidão ao belíssimo presente com que fui contemplado, andei colocando cruzes nos poemas que mais me agradavam ou mais me impressionavam no momento da leitura. Revendo-os agora, me sinto confuso. Quase 90% são destacados. Conclusão: não posso atendê-lo. Perdoe-me.

Mas para que não paire suspeita de gentileza em forma de mentira, lá vai uma amostra dos 90% ( mais uma vez sublinhe: amostra!) :

Em Saldunes: Amarguras (não só pela forma, como também pela sensibilidade social) - Angústia (ao leigo revela pessimismo, mas quem é poeta há de ser porta-voz da realidade na sutileza da imaginação) – Conflito (Se não tivesse já recebido medalha de ouro por este soneto, eu lha conferiria: como foi capaz de expressar a alma humana – esse soneto é de revelação universal) – Confronto ( que flash da vida urbana!) – Desejo ( mais uma vez tenho de lhe louvar a concisão. Só quem domina a arte poética é capaz de expressar o que expressou em estrofes de cinco versos e em trissílabos!) - Nulidade (me pareceu que coroou uma tríade juntamente com Nada e Não ser, de muita beleza!) – Questionamento ( em que se destaca fina ironia, tal que me fez lembrar Voltaire) - Saldunes (acredito foi o poema que o levou a dar título ao livro. Honestamente foi a primeira vez que li esta palavra. Fui ao dicionário e só depois, então, é que li seu poema. Diante da amada que cinde a corrente do amor e deixa o amado segurando na mão o elo partido, por isso arrasado, há tudo que ver com o que diz o dicionário: os guerreiros que juravam eterna amizade e iam acorrentados para o combate. Belíssimo esse poema seu. Aproximei-me levemente do seu tema quando um dia escrevi, tomado pelos mesmos sentimentos: Tecla batida / por uma vida / em duas partida: / uma nas brumas do tempo / perdida / outra qual fênix / de cinzas renascida / dois elos que clamam / por nova fusão / da corrente rompida.

Em Reminiscências: Afrodite (pela perfeição do haicai) – Alvitre (um dos poucos sonetos do livro e que maravilha de concisão e de mensagem!) – Amar-te ( trova linda e perfeita!) – Asneira (em que se revela o grande crítico social) – Baú ( perfeito haicai) – Benefício (já destacado!) – Bom humor (a revelar o poeta e avô coruja, mas sem cair no pieguismo. Simplesmente belo poema!) – Brilhante ( além de perfeita trova, enternece ao saber dedicado à esposa) ...

São tantos a primar pela belza e concisão que ficaria a arrolar mais do que amostra, seu livro todo.

Por tudo isso, meu caro Benedito só posso reiterar minha admiração pelo poeta e o entusiasmo com que li e praticamente reli seus dois livros.

Fica aqui meu forte abraço e espero continuar a contar com sua produção em nosso Usina de Letras.

Que 2007 seja marcado em sua vida por muitas realizações, muita saúde e as bênçãos de Deus.

Délcio Vieira Salomon


_______
(*) Autor do livro "Na mesma tecla", São Paulo (SP), All Print Editora, 2007.










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