Houve eras em que as nuvens
Eram minhas diversas camas
Meus desejos todos realizados
Nos braços de belas mulheres
Mas o ciúme do criador
Crivou meu ser, desnudou minh’alma
Metamoforseando-me de alado
À sibilante... rastejante ser egoísta...
Foi-me tirado o poder
De ver adiante de mim mesmo
Minhas omoplatas servem agora
Para assegurar ao criador
De que serei bípede adunco
Armado para destruir o belo...
O belo de amar. O belo de saber
Estar sendo amado...
Hoje minha acepção de mundo
É apenas uma foice afiada
Laminada pela maldade...
Do ciúme de quem mesmo me criou...
“Ó! Sei que de meus pés
Quando nos passos dados
Meus apostemas germinam flores liquidas
A derramarem sangue acérrimo...”
As trevas me servem como mantos
Encobrindo-me. Negligenciando meus erros...
Alimentando-me de meus sentidos dúbios
Vejo as máscaras enojadas de seus donos
Pessoas que serpenteiam em torno de si mesmas
Siamesas na vontade alheia de sugar o sangue
Os beijos dados em minha face...
Retratam o desprezo da corda
Quando teve que cortar o Judas...
Destino pelo qual fora escrito por quem não o perguntou
“Ò! Como podes me julgar sabendo que de mim nada fora
escrito, mas me escreveram: sem perguntas; sem permissões!
A história precisava de um algoz: fez-me algoz, pois sem
Algoz, efeito algum não produziria e fiéis não ganharia”
As fêmeas ancas que surfaram as ondas
De minhas veias, tornaram-se meus caninos
Vejo-te, babo, desejo tanto...
Tua esternoclidomastóideo
Tanto quanto a eucaristia...
Minha anistia... Minha alforria
Em meu sepulcro conheci a verdade ...
O epitáfio em minha lápide avisava-me:
Aqui jáz um epicurista que acreditou
No amor e do amor ousou ser amado
E quando amado, ser bem tratado
Pela mulher de teias douradas...