NUNCA MAIS TUA BOCA.
Havia certa urgência no teu olhar. Não era só a tensão da partida, algo indefinido nos envolvia e deixávamos num limbo de indefinições. Como se não soubéssemos o quê éramos e o quê queríamos.
Naquela altura da nossa história já não esperávamos nada. Ias embora, eu ficava. Empreendias uma viagem para um mundo que era totalmente desconhecido para mim, e para ti também ainda que tentasses negar.
Juramos novamente amor eterno e marcamos para os próximos e longínquos anos um reencontro que, no fundo, saibamos ser pouco provável, para não dizer impossível. Com um beijo mais demorado te afastaste quase chorando e caminhaste até a porta de embarque.
Desde o terraço, perto do restaurante, te vi subir no avião e fiquei como um idiota, igual a todos os outros, olhando como o aparelho efetuava suas manobras, chegava até a pista e em louca carreira ganhava altura, apontava seu nariz para as nuvens e pouco a pouco desaparecia no horizonte.
Enquanto voltava para minha futura solidão, dirigindo displicentemente pela estrada quase deserta, tua figura de mulher apaixonada se desenhou clara e forte na minha memória. Já eras passado. Nunca mais tua boca, nunca mais tuas pernas ágeis e deliciosas, nunca mais tuas costas firmes e meigas, nunca mais tua barriguinha hospitaleira, nunca mais o fogo do teu amor. Como num tango qualquer deixei escapar uma lágrima e desejei que o tempo parasse e que eu me transformasse em pó no ar da tarde.
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