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Infanto_Juvenil-->APRENDENDO A SE AMAR -- 28/08/2007 - 20:00 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

SABE AQUELA GAVETA QUE A GENTE DEIXA TÃO BEM TRANCADA QUE ATÉ PARECE UM COFRE FORTE? FICA TÃO FECHADA QUE ATÉ A CHAVE SOME. FOI O QUE ACONTECEU COMIGO. PROCUREI MUITO, QUANDO JÁ IA DESISTIR, PARECE QUE ACONTECEU UM MILAGRE, A DANADA DA CHAVE ESTAVA QUASE AO LADO DA GAVETA.
QUIS ABRIR A GAVETA PORQUE ESTAVA COM MUITA SAUDADE. EU QUERIA PEGAR UMA FOTO DE DOIS ANOS PASSADOS, COM TODA MINHA TURMA DA ESCOLA. ERA COMO SE EU PUDESSE FAZER O PASSADO CAMINHAR PARA O PRESENTE. MAS, ANTES DE ACHAR A FOTO, ACABEI ACHANDO DUAS FOLHAS DE PAPEL BEM DOBRADINHAS. O QUE SERIA? NÃO TINHA A MÍNIMA IDÉIA. MORDIDA DE CURIOSIDADE, ABRI PARA VER O QUE ERA E FUI LENDO:


Algumas poucas pessoas dizem que sou bonita. Não acredito, pois muitas outras dizem que não sou e outras não dizem nada, mas é claro que me acham horrível, pois a cara delas já conta. E tem mais: qualquer espelho diz que sou feia, desajeitada, gorda. Se pergunto: “espelho, espelho meu, existe uma menina mais feia que eu?” E ele já responde: “NÃÃÃO!!!” Acho que meus pais não quiseram me fazer uma obra prima, como meu irmão. Ele é lindo, mas é um chato.
Adianta eu ter olhos azuis? São azuis, mas são esquisitos, desbotados,a cor é fraquinha, parece que alguém estava com preguiça ou era mão de vaca e não usou uma boa passada de tinta.
E meu cabelo, então? É bem loiro, quase branco, espiga de milho, escorrido, parece uma chapinha que não deu certo. Parece mais uma vassoura de bruxa, não ajuda em nada a deixar meu rosto mais bonito.
E minhas pernas? Caraca! Muito compridas e finas, como uma saracura! Que arrepio de raiva ouvir essa palavra! Saracura foi um nome que explodiu nos meus ouvidos, pela primeira vez, com o grito de meu irmão. De tanto ele me infernizar, procurei na internet para saber certo o que é. “Pequena e desajeitada, a saracura passa o dia escondida em silêncio, mas nas horas do alvorecer e do fim da tarde, ouve-se seu canto que diz claramente ‘três potes-um coco-um coco”. Ridículo! É demais! Mas o maior ridículo é que sou mesmo uma saracura, perna fina e corpo gordo. Também sou desajeitada e prefiro ficar mais escondida para não tirarem uma onda de mim. Tenho ódio disso!!!
Meus pés e minhas mãos são enormes e tento fazer que fiquem escondidos. Ah! Tenho tantas colegas bonitas! Tudo nelas está certinho e fica bem. Comigo é só desastre! E meu irmão passa por mim e já tira uma: “pezinho de anjo, perninha de saracura, precisa ocupar tanto espaço? Já fez chapinha na vassourinha?” Fico louca e parto para cima dele, mas ele é mais forte e me dano.
Quando me olho no espelho, fico louca de raiva, porque estou gorda. Quase nem como com medo de engordar. Muitas vezes, no intervalo da aula, fico babando de vontade de um enorme cachorro-quente que minhas colegas comem e eu só falo que não gosto ou falo que já comi um chocolate, pra não dar bandeira. Como elas conseguem comer e não engordar? Em pensamento, eu arranco o cachorro-quente de uma delas, engulo num segundo e ainda lambo os dedos de catchup e mostarda. E o pior que até em pensamento eu engordo mesmo. Nunca vou ter sucesso em nada se não ficar bem magra.
Não tenho vontade de ir à escola, mas meus pais me obrigam. Tem umas aulas que são maneira como a da professora de artes. Ela sempre vem com novidades. É sangue bom! Num dias desses, ela veio com um papo tipo assim: “Cada um de vocês já olhou bem para seu corpo? Olhar, olhar mesmo, de prestar atenção? Ele deve ter partes que você gosta e outras que você gostaria que fossem diferentes. Mas ele é seu corpo, vai acompanhá-lo pela sua vida afora. É seu, não tem jeito, não dá para ser igual a ninguém”.
Que mico esse papo! Eu vou ficando um nadinha porque eu não gosto do meu corpo, gostaria MUITO que fosse diferente. E a professora, falando, falando: “É muito importante trabalhar o amor ao seu corpo - aquilo que é próprio de você - e não o amor à moda, às coisas que simplesmente aparecem nas propagandas. É importante tirar, de tudo que vê, aquilo que faz melhor para você – pessoa única. Cada um já se olhou bem? Então, vocês vão fechar os olhos um tempo e olhar seu corpo com os olhos de dentro”.
Que maluca essa professora! Fechei os olhos e não conseguia ver nada, afinal estou cansada de ver a caca que sou! De repente, todos quietos e uma música suave foi se espalhando... Depois de um tempo, lá vem ela perguntando : “vocês olharam bem para seus pés? Olharam? Eles são nossas raízes na terra, com eles é que vamos para frente, eles sustentam nosso corpo... Todo o corpo está reproduzido na planta dos pés. Existe um ponto específico no pé para cada órgão do corpo, segundo os estudos de reflexologia”.
Aí a professora ensinou a gente a massagear os próprios pés. No início uma saia justa! Mas foi ficando demais! A gente podia sentir algum lugar no pé que incomodava, outro que era gostoso. Depois ela conseguiu formar duplas e um massageava o pé do outro. Nessas alturas, não achei que era mico e meus colegas também não. Em seguida ,formamos fila e íamos andando de acordo com o que ela indicava: “caminhar pisando em ovos, caminhar como elefante, caminhar com raiva, caminhar nas nuvens...” Um monte de jeito de mexer com os pés. Virou uma farra gostosa, mas a gente sabia que era séria. Ela disse que quis mostrar que os pés nos sustentam, e nos levam para a frente, em sentido amplo, e é por aí que vamos gostar de cada parte de nós. Eu achei tudo gostoso, mas não levei fé nesse papo não. Como vou ter um pezinho delicado? Como vou comer e não engordar? Como vou acertar as partes de meu corpo?
Na segunda parte da aula, ela propôs um relaxamento. A gente já conhece porque de vez em quando ela faz isso. Cada um pegou Um colchonete para se deitar. Uma música que parece careta, mas devagar vai ficando legal. Como sempre, a professora vai dizendo para a gente relaxar tal parte do corpo, até que a gente fique bem mole mesmo. Dessa vez, até meus pés ficaram uma maria-mole de tão relaxado. Aí ela propôs que cada um deveria se imaginar um pássaro e, em bando, todos voavam, voavam bem juntos. Depois de batermos bastante as asas, paramos num riozinho para beber água. A partir daí, cada um, no seu tempo, foi voando um vôo solo. E cada um pousaria onde quisesse. Não sei como foi, mas a voz da professora sumiu e eu fui parar num castelo. Dentro do castelo! Fiquei numa sala onde havia muitos espelhos. Eu não era mais pássaro, era uma pessoa, como sou. Não tinha jeito de olhar para outro lugar, pois tudo era espelho. Fiquei assustada porque a imagem era muito bonita. Olhei para trás para ver se alguém estava se refletindo ali. Não tinha ninguém. Era eu! Linda!!! Estava com um vestido lindo, longo, um sapato de salto, maravilhoso e gostoso nos pés, não apertava nada, e meus pés pareciam bem menores. E eu caminhava por todos aqueles espelhos e meus pés pareciam flutuar. Meus olhos brilhavam e o espelho me mostrava uma luz azul dentro deles. Pareciam duas pedras de água-marinha! Como era possível? Em cada espelho eu também via uma nova parte de mim. Era como se eu fosse montando um quebra-cabeças com meu próprio corpo. E eu sorria com o que eu via. Era uma magia! De repente, ouço a professora: “e aí, gostaram de ser pássaros?” Alguns falaram algumas coisas e ela pediu para desenhar ou escrever sobre tudo que havia acontecido, podia escolher e levar na próxima aula.
Fui para casa bem esquisita. Eu não era mais eu de antes? Será que se eu olhar no espelho em casa vou me ver como no relaxamento? Entrei de leve e fui para meu quarto. Fechei a porta e demorei para olhar no espelho, pois o medo me balançava. O que vou ver? Olho ou não? Olhei. A mesma garota que estava naquele castelo! Como pode, se não estou no relaxamento?

QUE BOM ACHAR ISSO QUE ESCREVI! DEVO TER PERDIDO O PEDAÇO FINAL. MAS SEI QUE ESSE DIA FOI DEFINITIVO EM MINHA VIDA. PASSEI A ME ENXERGAR DE VERDADE, VALORIZAR-ME, E PROCURAR TER SEMPRE UMA BOA AUTO-ESTIMA. NOSSA! DOIS ANOS SE PASSARAM! TODOS AS PESSOAS QUE ME CONHECEM, NÃO PARAM DE ME ELOGIAR, DIZENDO QUE ESTOU BONITA MESMO. ARRANJEI UM NAMORADO, E FAZ SEIS MESES QUE ESTAMOS JUNTOS E ELE ACHA QUE SOU MARAVILHOSA, E SEMPRE REPETE: POR DENTRO E POR FORA. ENTENDI QUE MEUS PAIS NÃO CAPRICHARAM APENAS NO MEU IRMÃO. ENTENDI TANTA COISA!
MEU IRMÃO VARREU A SARACURA, VARREU A PRÓPRIA VASSOURA E JOGOU TUDO NO LIXO. AFINAL, EU ME ENCONTREI, APRENDI A ME AMAR E ME VALORIZAR, E ELE CAPTOU ISSO. BATEMOS LONGOS PAPOS, SAÍMOS JUNTOS, UMA BELEZA!
PENA QUE PERDI O CONTATO COM A PROFESSORA FANTÁSTICA QUE ME FEZ GANHAR A MIM MESMA!
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