Acordo. Um mês novo, um limiar novo a beirar o infinito. O mês de maio,das noivas, o dia do trabalho; Maio cheio de ventosos ares, das pipas nos postes, dos papagaios empinados de linha cheia de cerol, enfunando qual velas de navios fantasmas. Nessa hora, tudo é silêncio. Posso ouvir as gotas da nuvem prenunciada no frio que me apura os ossos. Canta um sabiá teimoso, ainda(porque todos se recolhem juntos ao frio que se avizinha).
Eu sou teimoso. Matei a cobra, a pele dela está exposta no varal, são quinhentos anos de cobra matada, esticada nos varais da História. E permanecemos aqui, na janela, com um frio dos diabos e uma xícara de chocolate quente nas mãos, porque os pés assumem sua função de garras que me prendem ao chão ( eu voo alto mas alguém de mim insiste em me prender as rédeas. Sei que tenho um pouco de ícaro, também um pouco de Minotauro, porém tomo o chocolate --está delicioso)
Maio, mês das noivinhas em toda parte, das fotografias romànticas, da saudade das mães que já se foram; maio do desgosto das nuvens de sal e pimenta, mês das virginais vestidas de branco, comprando rios de seda, o frisson dos panos entrando nas igrejas, os gritinhos dos amigos e os buquês em escala industrial.
Maio, mês das locas de la Plaza de Mayo.
Meu chocolate, esse desce com as tiraminas, os açucares invertebrados, o cacau que um dia foi fruto e foi árvore que foi semente, semente de uma árvore de maio numa floresta de ano inteiro. Colhido por mão enxutas e grossas. Mãos que diziam assim: "Hum, mas que essa aqui tem carne, caso da morena que sobe lá de banda a rua de arrabol de casa, caso que ela tem um rostim danadim de bom e umas ancas que trazem esse sabor aqui. Hum, cheiro de flor que ela tem, caso que sim e eu caso com ela ou não me chamo Miguilim". Óoooooo, desce para a Terra, Voador, desce e toma teu chocolate, misturado à s lágrimas das lembranças, caso que ela foi embora.
Ah, maio, Mayo, Mayana, Maíra. Cigana, Maio me engana. Passa um Bem-te-vi, passa um avião, maio é o mês da lira, da confusão; Mês das nuvens rápidas. Caso que não sei de nada não. |
