Num amplo e requintado hall do aeroporto
Esperando quatro horas por um avião mal programado
Eu fui convidado a relaxar
Bem gostaria nessas horas
De me espalmar num sofá ou numa poltrona
Deixando as horas passar
Mas havia no aerohall um entrave
Que era um fundo musical de melodia
Vagarosa e ruim
Que dá pelo nome de Itapoã
Da autoria de um badalado compositor
É um fundo inteiramente desaconselhado
Porque de tão morrinhento que é
Só convida à preguiça e à depressão
O que se aconselha para o relax oficialmente proclamado
É uma música condizente
De som vivo e energia estratégica
Ao nível da mente e do corpo
Capaz de produzir e alimentar um movimento de alegria
E de auto-estima
De tranquilidade de utopia e de bem-estar
O que aqui faz falta
Neste clima de "relaxa que o avião já vem"
É um exorcismo definitivo para esse Itapoã
Que continua rondando
E cansando monotonamente os ouvidos
Há horas
E saturando todas as atmosferas do aeroporto
Num tom decadente e definhante
Com jeito de quem agoniza
Gemebundo e esgotado
O que aqui faz falta para os relaxandos passageiros da espera
É uma farmacopéia
Que os ajude a esquecer as horas
E os faça renascer
Nas entranhas da vida
Para que despertos e ativos
Retomem a rota interrompida
Eles precisam de algo que lhes dê embalo
Prazer e conforto
Que os torne livres dessa pavorosa melodia cansada
Que faz capotar de tédio o mais forte dos passageiros em rota de agonia
O que aqui faz falta é um supervisor de som
Que entenda de Itapoã
Que não relaxa,
Que só afunda e agride a energia vital
E não prepara ninguém para a edênica fase
Do novo paraíso anunciado
Que será dado a todos
Os que divinamente relaxados
Entrarem na aeronave do amor
Rodeados de Vênus e Cupido
Dispostos a ajudar a cumprir a solene promessa
Que tem no meio a ONG
Do gozo relaxado!!!
