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Teses_Monologos-->Educação, Poder e Religião 220502 -- 01/02/2005 - 03:01 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Educação, Poder e Religião

Rodrigo M.Martins
INTRODUÇÃO

Nossa pesquisa é de cunho essencialmente reflexivo, pois se propõe a relacionar temas de vasta amplidão como a Religião, a Educação e o Poder. Isso de forma inter-relacionada, para atender ao menos algumas de nossas preocupações.
A reflexão se dá partindo de pensadores como Rubem Alves e Paulo Freire, que conhecem bem o contexto vivencial brasileiro, e que se preocuparam em trabalhar com estes mesmo temas. Aprofundando idéias, e debatendo com a realidade impregnada de ideologias baratas e rasas, para não dizer opressoras que regem nosso país e conseqüentemente nossas vidas.
A estrutura se apresenta como que dando pistas para um apanhado geral do pensar a relação proposta. Segue-se com um embasamento sobre Religião, logo após suas expressões em conjunto com o Poder. Partindo para a linha da Educação, que por sua vez também deságua nas expressões concomitantes com o Poder. Já aqui podemos verificar que o Poder está presente nestas relações de forma íntima, poderíamos até sugerir para que o leitor nos acompanhasse melhor, que mirasse seu pensamento no movimento que o Poder emprega em cada uma das ferramentas estudadas nesta pesquisa, pois assim, estaria construindo, junto conosco, as pretensões de validez que destas relações podem surgir.
Por fim, teremos uma breve problematização geral, que pressupõe os caminhos traçados anteriormente, só que acrescenta os meios discursivos obscurecidos pela fome de poder gerada pelo manuseio das ferramentas: Religião e Educação. Ferramentas estas que podem servir para dar vida ou morte. Depende da consciência de cada detentor do poder, assim como diz FREIRE:


“Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém, ou seja, é vir-a-ser. Logo, a pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiência estimuladora de decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiência respeitosa da liberdade” .

Sendo assim, apontaremos o paradigma da liberdade como referencial para se buscar nesta complexa pesquisa que envolve teoria, prática e realidade.

1- O QUE É RELIGIÃO?

Apesar do termo “religião” ser muito abrangente, é de grande relevância destacar algumas ideologias acerca deste termo: a palavra portuguesa religião vem do Latim. RELIGARE, “RELIGAR” “ATAR”. A aplicação básica dessa idéia é de que certos poderes sobre naturais podem exercer autoridade sobre os homens, exigindo que eles façam certas coisas e evitem outras. Forçando-os a cumprir ritos, sustentar crenças e seguir algum curso específico de ação. Em um sentido secundário, a denominação religiosa de alguém pode exercer tais poderes. É preciso respeitar as atitudes e as regras da comunidade religiosa a que pertencemos se quisermos fazer parte da mesma. Temos que ter em vista que a religião perpassa pela natureza humana. Pois o homem por natureza é um ser religioso.

A argumentação Paulina se embasa na religião natural nos primeiros capítulos de Romanos, dando entender que, devido ao próprio testemunho da natureza, embora sem contar com a revelação, o homem está obrigado, por sua própria consciência, a crer em certas realidades.

DEFINIÇÕES TENTATIVAS. A filosofia analítica tem nos ensinado que não podemos DEFINIR qualquer vocábulo muito rico, como: *verdade*, *beleza*, *justiça*, etc. O máximo que conseguimos, nesses casos, é apresentar uma série de descrições cada uma delas incompleta por si mesma, embora, reunindo todas elas, possamos derivar idéias gerais sobre os assuntos em foco. Consideramos os pontos abaixo:

1 A religião é um sistema qualquer de idéias, de fé e de culto, como é o caso da fé cristã.
2 A religião consiste em crenças e práticas organizadas, formando algum sistema privado ou coletivo, mediante o qual uma pessoa ou um grupo de pessoas são influenciados.
3 Uma instituição com um corpo autorizado de comungantes os quais se reúnem regularmente para efeito de adoração aceitando um conjunto de doutrinas que oferece algum meio de relacionar um indivíduo aquilo que é considerado ser a natureza última da realidade.
4. Um uso popular do termo é aquele que pensa que religião é qualquer coisa que ocupa o tempo e as devoções de alguém. Assim, as pessoas costumam dizer que o trabalho dele é a sua religião, ou então, que o comunismo é uma religião, etc. Há nisso uma verdade fundamental visto que aquilo que ocupa o tempo de uma pessoa usualmente é algo a que ela se devota, mesmo que não envolva a afirmação da existência de algum ser supremo ou de seres superiores, porquanto a devoção encontra-se a raiz de toda religião.
5. Definições restritas como a de Karl Barth, não permitem que a fé cristã seja considerada uma religião. Para ele a religião envolvia a piedade humana e a auto-justificação, à parte de qualquer revelação divina. O cristianismo, como fé revelada, não poderia ser assim considerado. Mas essa definição é artificial, que envolve modificação no sentido comum da palavra. Bonhoeffer fala sobre um cristianismo não-religioso sem quaisquer exigências morais e espirituais, embora existente sob a forma de ritos e de convivência, que pouco ou nada fazem em favor das almas. (enciclopédia de Bíblia teologia a filosofia Champlim).

A religião nasce com o poder que os homens tem de dar nomes as coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundária e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte se dependuram. E esta é a razão por que, fazendo uma abstração dos sentimentos e experiência pessoais que acompanham o encontro com o sagrado, a religião nos apresenta como um certo tipo de falta, um discurso, uma rede de símbolos. RUBEM ALVES.

“A consciência de Deus é autoconsciência, o conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene desvelar de tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor” . LUDWIG, FEUERBACH.

A religião está mais próxima de nossa experiência pessoal do que desejamos admitir. O estudo da religião, portanto, longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos. Aqui a ciência da religião é também ciência de nós mesmos: sapiência, conhecimento saboroso. RUBEM ALVES


2- COMO O PODER É EMPREGADO NA RELIGIÃO

Para falar como o Poder é empregado na Religião devemos aclarar, um pouco mais, daquilo que possa ser entendido por este termo. O poder, que está presente em todas as relações humanas, mostra a capacidade de um indivíduo de impor a sua vontade a outrem . Mas o poder é, ainda, uma necessidade do ser humano. De maneira clara, mostramos que a busca do poder é uma herança biológica e cultural do ser humano. O ser humano encara com a mais profunda seriedade o seu território. E quer mandar nele . Poderíamos falar de seu emprego nas diversas áreas de atividade social, contudo, estaremos nos restringindo ao exercício do Poder na Religião, e delimitando o assunto ao cristianismo protestante e o denominado evangélico.

O Poder pode se dar sob três aspectos: a) coerção: é o uso da força (até física), para a execução das decisões; b) influência: é uma forma especial de se conseguir que a ordem seja cumprida, usando-se das palavras, não faz uso da força física; c) autoridade: é o reconhecimento de que alguém tem mesmo o poder de determinar coisas, fruto da aceitação de um grupo.
Se observarmos atentamente de que forma o Poder é exercido na vida religiosa, os três aspectos acima são rapidamente encontrados, pois deparamos com atitudes coercitivas de líderes religiosos que chegam até a usarem de força física para coagir seus membros ao cumprimento de suas ordens, dando um caráter militar ao cristianismo; outros se valendo de uma retórica falaciosa, com inúmeras citações bíblicas descontextualizadas, ludibriam os membros, dando um caráter demagógico ao cristianismo; outros porque se mostram retentores de todo o poder divino na Terra, por isso, seus membros vêem no líder um exemplo a ser obedecido, dando um caráter tribal indígena ao cristianismo.

Esse tipo de liderança poderia até ser mais bem entendida e aceita, do ponto de vista crítico, se promovesse a vida, mas abusa do seu Poder religioso, pois sabe que a religião não é baseada num sistema racional de provas, sobrevive pela necessidade humana , onde o líder religioso, muitas vezes, exerce o Poder discricionário (poder sem limites, sem obediência às leis), e que num pensamento lógico, no que diz respeito à existência do Poder, temos de ter dominantes e dominados. Buscam de acordo com a sua personalidade (líderes natos) impor suas idéias e pensamentos, e cativar os demais pela persuasão; ou exercendo Poder sobre as pessoas, como se estas fossem sua propriedade; ou ainda através da organização, ou seja, da instituição criada e organizada, a partir da personalidade desses líderes, que sentiram a necessidade para cuidar de um grupo.

Assim, podemos dizer também que o Poder determina as relações entre as pessoas, dividindo-as entre dominantes e dominadas. Mesmo o relacionamento de dois namorados está baseado no poder. Um deles manda, o outro obedece. E o emprego da força, nesse caso, não é necessário. O namorado não tem de esbofetear a namorada para ser obedecido, ou vice-versa. É a sedução, ou a ameaça de um largar o outro, que fazem um deles ser dominado .

Em Tiago 1,27 encontramos como exercer e professar a verdadeira religião: A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas em sua aflição, guardar-se do mundo para não se manchar .
Não devemos restringir a Religião somente ao sagrado, que contempla somente as coisas invisíveis, mas também sua outra face que contempla o concreto e o visível, onde estão envolvidas pessoas, coisas e atitudes, como nos sugere o texto bíblico citado acima, onde temos, não só o Poder, mas o dever de auxiliarmos o próximo em suas necessidades e ansiedades, mostrando que há esperança aos desesperados, pois, como cristãos devemos nos apoiar no exemplo de Cristo, que fez uso do Poder em benefício dos que necessitavam, não se pode acusá-lo de usar o Poder coercitivo, influente e de autoridade em benefício próprio, mas sempre como sinal da instauração do Reino de Deus entre a humanidade.

Devemos pensar se nós, como liderança religiosa de hoje, estamos fazendo uso do Poder em benefício próprio ou não, se estamos legitimando nossos atos com uma fé desprovida de compromisso com Deus e com o mundo, em outras palavras, temos exercido e professado a verdadeira Religião?
3- O QUE É EDUCAÇÃO?

Quando pensamos em educação, o que vem a nossa mente é um processo formalizado de ensino. Na verdade este processo faz parte, mas não podemos restringir a educação apenas a esta concepção formalizada de ser. Ninguém escapa da educação. A vida é um eterno aprendizado. Ela se dá em casa, na rua, na escola, na igreja, enfim nós envolvemos partes de nossa vida com ela. Portanto, podemos dizer que não existe uma única forma ou modelo de educação. A escola não é o único lugar onde a educação acontece.

Olhando para a história bíblica, vemos que o povo de Israel, no período tribal, não conhecia um sistema educacional organizado. Émile DURKHEIM relata que:

Sob o regime tribal, a característica essencial da educação reside no fato de ser difusa e administrada indistintamente por todos os elementos do clã. Não há mestres determinados, nem inspetores especiais para a formação da juventude: esses papéis são desempenhados por todos os anciãos e pelo conjunto das gerações anteriores .

Portanto, além da educação estar a cargo de todos, tinha a ordem contida no decálogo, de que o pai era o grande responsável pela educação dos filhos juntamente com a mãe. O pai tinha que ensinar ao filho todos os preceitos de Deus e também instruí-los para a vida.

No Novo Testamento passaram a existir um corpo de mestres e profissionais que ensinavam no templo. Passaram a existir escolas, estas eram atreladas ao templo, onde os rabinos ensinavam as crianças. Nas cidades gregas no período greco-romano, a instituição mais típica era o Ginásio. Esta era uma instituição pública, que era mantida pela cidade. Assim, a educação tomava várias formas, e a mais avançada era a retórica. Se um jovem quisesse participar da vida pública era necessário que se vinculasse a um sophistes –sofista – professor de retórica.

A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como idéias, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida.

3.1 A Educação como sistema educacional institucionalizado – Escola

Escola - este termo deriva de uma palavra grega que primitivamente queria dizer descanso, sendo empregado o tempo do descanso em conferências e discussões; veio, depois, a significar o próprio lugar em que eram feitas essas conferências e discussões. Quando o ensino dos pedagogos passa a competir com os da família, passa a existir um modelo de educação para cada um, e limites entre um modelo e outro. Quando numa sociedade o poder que reproduz a ordem é dividido, começa então a gerar as hierarquias sociais. Estas diferenças começam a dividir com desigualdades e isto acaba sendo usado pela política para reforçar esta diferença no lugar de um saber anterior que afirmava a comunidade, neste momento é que a educação vira o ensino, que inventa a pedagogia, onde há uma divisão social do saber e dos agentes e usuários do saber.

3.2 Definindo o vocábulo Educação

Educação vem do latim educere, que significa extrair, tirar, desenvolver. Consiste, essencialmente, na formação do homem de caráter. É um processo vital para a qual concorrem forças naturais e espirituais, conjugadas pela ação consciente do educador . Kant disse: O fim da educação é desenvolver em cada indivíduo toda perfeição de que ele seja capaz .

3.3 Definições do dicionário – Educação

Ação ou efeito de educar, de desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais da criança e, em geral, do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino. (Dicionário Contemporâneo da Língua portuguesa, Caldas, Aulete)
Ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações jovens para adapta-las à vida social; trabalho sistematizado, seletivo, orientador, pelo qual nos ajustamos à vida, de acordo com as necessidades ideais e propósitos dominantes; ato ou efeito de educar; aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas, polidez, cortesia. (Pequeno Dicionário brasileiro de Língua portuguesa, Aurélio Buarque de Hollanda). Na definição deste dois dicionários, vemos que a primeira enfatiza o que acontece da pessoa para dentro, a segunda enfatiza o que acontece da pessoa para fora, em direção a sociedade onde vive e de que aprende.

A educação é um símbolo de valorização individual e organizado para cada indivíduo. Assim a educação pode ser definida como a finalidade de guiar o homem no desenvolvimento dinâmico, no curso do qual se constitui pessoa humana dotada das armas do conhecimento, do poder de julgar e das virtudes morais ( MARITAIN). Paulo FREIRE, afirma que A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem .

Finalmente, a educação permanente é um processo dialético, que resulta na transformação da realidade de acordo com uma idéia melhor que possuímos.

4- COMO O PODER É EMPREGADO NA EDUCAÇÃO

Seria importante retomarmos o que é ideologia, para depois falarmos como esta ideologia está empregando o poder na educação. Para Moacir Gadotti, ideologia, pode ser empregado para designar um pensamento teórico estruturado, que imprime uma falsa visão da história, cuja finalidade é ocultar a realidade . Esse pensamento não é “teórico”, mas está aprofundado na práxis.
Nesta perspectiva, num primeiro momento, estaremos falando sobre a ideologia das Igrejas e o poder que o pastor exerce sobre elas. No segundo momento, falaremos de como nós, os pastores, empregamos o poder sobre os cristãos através da educação e, por último, estaremos abordando sobre a importância da pedagogia do conflito.

Atualmente as Igrejas consideram os pastores como semideuses, conhecedores da “verdade”, os senhores da “sabedoria humana”. Consciente ou inconscientemente, nós pastores, aproveitamos esta ideologia e a reproduzimos em nosso favor. A ausência da humilhação de sermos reconhecidos como seres humanos, de carne e de osso, interessa-nos mais à dominação passiva da Igreja, em outras palavras, para que mudar ou combater a ideologia da Igreja.
Praticamente, poderíamos dizer que, nós estamos formando gente passiva, gente que não pensa ou que pensa a realidade que não é a sua própria realidade. Praticamente, a Igreja está vivendo mais a realidade do pastor e se esquece de viver a realidade da Cruz de Cristo. É neste sentido que podemos entender a ideologia como a ocultação de interesse, que está ligada à distorção e a dissimulação da situação real, que age sobre a igreja com poder cersitivo. Neste sentido, todo aquele discurso ideológico da igreja sobre o pastor está cristalizado, e vai contra a própria realidade da igreja de Cristo e contra os planos salvíficos de Deus na história, tudo para legitimar o nosso próprio discurso.
Todo o discurso teológico que se torna neutro (não crítico) ingênuo, este perde o seu verdadeiro interesse e passa a ser um discurso manipulado, e este somente acontece, para aquele que reproduz o discurso que a igreja que ouvir. Já no ponto de vista lógico-dialético, se entendermos por ideologia a ligação entre o conhecimento e o interesse, entre o pensamento e suas raízes e suas origens, então todo o discurso teológico passa a ser uma ideologia saudável, não está centrada numa leitura ideológica da igreja.
Na educação, o poder se expressa quando nós optamos pelo discurso teológico (não crítico). Provavelmente muitos pastores que são competentes em suas disciplinas, já haviam interiorizado este discurso em seu papel ideológico e deixaram ao “pastor” o poder de dizer o que é “bom” para eles mesmos. O perigo disto tudo, é o discurso do poder, onde a ideologia do dominador exerce o seu papel: “deixe que eu pense por você”, “eu já tenho a resposta para seu problema espiritual”, “deixe-me orientar a sua vida para juntos vermos a graça de Deus”. Por estas razões, o poder está implícito nesta falsa ideologia. Para evitarmos estes desembaraços, devemos optar por uma educação que não seja ideologicamente opressora – que não esteja centrada em nós – a educação deve representar num autêntico desafio do ir ao encontro do nosso comodismo. Isto significa que a teologia não quer fazer o papel de cão de guarda da ideologia dominante, ela quer começar a colocar-se ao lado do próximo e escutar os seus problemas. A educação contemporânea precisa urgentemente de uma reorientação, de um repensar, de uma reconstrução. Mesmo que seja mais uma ideologia – dialética – está educação não está baseada somente nas reflexões, mas ela esta baseada na práxis.
Agora, todo este desafio que foi exposto acima, fará surtir na educação, dúvida e conflito – Moacir Gadotti relata que: Como educadores, devemos pensar mais na pedagogia do conflito do que uma pedagogia do diálogo . A pedagogia do diálogo, pode ser um mito em nome do qual se prática o antidiálogo, a ocultação e a manipulação do próprio discurso.
A pedagogia do conflito, tenta olhar para um ser humano concreto e real, e também para uma sociedade historicamente situada e não a uma pedagogia válida para todos os contextos, para todos os seres humanos. Agora, para podermos ouvir o próximo, em relação do eu e tu, precisamos, primeiramente, olhar para nos mesmos em nossa pretensa imagem de pastores, como sábios e senhores da verdade, e desrespeitar esta ideologia. Somente desta maneira é que podemos formar pessoas capazes de assumir a sua autonomia, autodeterminar-se, e participar na construção de uma sociedade igualitária.

5- QUAL A RELAÇÃO DE PODER ENTRE RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

O ser humano é essencialmente comunicativo e, a partir desta afirmação, desenvolveremos algumas possíveis relações entre Religião, Educação e Poder, ou melhor, de como o poder influencia esta relação que está presente na vida de todo ser que possui consciência de sua existência.
Por ter consciência, o ser humano se diferencia dos demais seres vivos, e por isso ele faz história. Ele se vê na e através da história. Ele produz e conta sua história, e isso faz dele alguém que se pretende poderoso. Aliás, é dessa consciência de atuar e modificar a história que surgem as primícias do poder.
O ser humano gosta de contar sua história. Todos nós possuímos uma história e, quando essa história é por nós próprios contada a outros, muitas vezes nos apresentamos como heróis, com grandes feitos e acontecimentos.
Aqui podemos verificar dois conceitos interessantes: primeiro o de Educação, pois se contamos nossa história de vida, pressupomos estar ajudando ou orientando a outros a caminharem de forma melhor, ou pelo menos a conhecer nossa história e a partir dela tirar suas próprias orientações para a caminhada da vida. Ou seja, estamos educando. O segundo conceito é o de alteridade, que já aqui se faz presente. Só podemos contar nossa história para outra pessoa que possa entende-la como história. Só podemos ensinar a alguém capaz de aprender algo. Só podemos comunicar se for a alguém – o Outro.

Nesta primeira parte da reflexão acerca da relação Religião, Educação e Poder, podemos ver que não há como nos separarmos do Outro e, que esse outro também tem que ter condições para refletir, aprender, ser orientado. Ou seja, pressupomos na gênese de nossa pesquisa que o outro é capaz!
Entretanto, voltemos à nossa digressão histórica acerca do pensamento humano. A história que o humano faz é finita, pois ele próprio tem consciência do ciclo da vida que se encaminha para morte etc. Contudo,

“A reflexão sobre o agir comunicativo revelou-nos o homem como processo indefinido de conquista de si, enquanto luta pela construção de mundos históricos efetivadores do reconhecimento universal. Isso significa que a vida humana é a experiência da transcendência permanente: todos os mundos históricos concretos emergem como mediações não-esgotantes do processo indefinido de conquista da liberdade solidária”.

A Educação está fundida com a questão do poder, mas também a Religião está em constante fusão com o Poder, pois é através da dialética entre o finito histórico reconhecido pelo ser humano e seu constante incômodo em relação a algo infinito, maior que ele, algo absoluto, que aponta para o religioso.

“Nessa perspectiva, a efetivação da liberdade exige um movimento contraditório: em primeiro lugar, exige a construção de mundos históricos e, portanto, limitados; em segundo lugar, exige a transcendência permanente do homem sobre esses mundos históricos, o que só é possível pela consciência de sua limitação, o que, por sua vez, é possibilitado pela consciência da liberdade absoluta, que assim emerge como possibilidade do próprio processo histórico. Sendo assim, a consciência religiosa está na raiz da experiência humana, enquanto historicidade. É a experiência do absoluto, experiência que desemboca na explicitação religiosa, que possibilita a vida humana como processo da abertura negadora das totalidades históricas condicionantes do ser do homem, na medida que a consciência do absoluto enquanto tal nega a pretensão de qualquer realidade finita de se absolutizar e, assim, se impor ao homem, de modo definitivo, esmagando-lhe a liberdade”.

Vemos, a partir desta reflexão que tanto a educação quanto a Religião, partem da relação do ser humano com sua própria consciência de existência e, que sua vontade de superar/alcançar o infinito faz com ele procure meios que o levem a efetuar suas intenções, sendo que o campo comunicativo se dá a partir do outro.

A relação mais próxima que podemos verificar entre o Poder, e a Religião e a Educação, é a de que o ser humano, não contente com sua situação existencial, busca na supressão dos direitos do outro, a solução para sua própria crise de finitude.

Tillich, em A CORAGEM DE SER, diz que “a coragem de ser é a coragem de afirmar a nossa própria natureza por sobre o que é acidental em nós”. (p. 12) E, em relação aos estóicos, diz ele:

“o estóico não pode dizer, tal HAMLET, que ‘a consciência faz covardes todos nós’. Ele não vê a queda universal da racionalidade essencial para a loucura existencial como sendo matéria de responsabilidade e um problema de culpa. A coragem de ser, para ele, é a coragem de nos afirmarmos a despeito do destino e da morte, mas não é a coragem de nos afirmarmos a despeito do pecado e da culpa. Não poderia ter sido diferente: porque a coragem de enfrentar a própria culpa conduz à questão da salvação, ao invés da renúncia”.

Em fim, podemos apurar nossas conclusões da seguinte forma: a relação entre Religião, Educação e Poder se apresenta enraizada na consciência humana que se sabe dialética, que busca o infinito e, para isso, oprime a todos aqueles que se colocarem à sua frente. Talvez seja por isso que haja tantos excluídos em nossas comunidades, em nosso mundo que se rege pela comunicação.
Vimos também que existem regras básicas para a comunicação, e que essas regras deveriam ser reconhecidas de forma igual em todos, para que se buscasse um consenso em cada situação de disputa. Um consenso referenciado pela Verdade divina que provém da fonte infinita que tanto buscamos. Um consenso que busque a verdade que certamente gerará vida, pois esse é o único critério para se avaliar se, depois de uma acalorada discussão, não se usou de meios opressores para fazer com que as ideologias egoísticas prevalecessem.
Esse consenso tem que mostrar vida livre para todos aqueles que receberam o dom da vida e, conseqüentemente, o dom de serem livres, de pensar por si próprios. É um consenso que busca o respeito pelo outro, assim como Jesus demonstrou em seu ministério:

“O ensino de Jesus levou o mundo a ver que Deus não faz acepção de pessoas, que ‘vermelhos e amarelos, pretos e brancos, todos são muito preciosos a seus olhos’, e que a ninguém assiste o direito de possuir ou escravizar a outrem. A Parábola do Filho Pródigo mostra-nos o interesse e o cuidado que Deus tem para com todas as pessoas. Os ensinos de Jesus nos induzem a reverenciar a pessoas humana, virtude que é basilar em todas as relações justas e retas do homem para homem. Em primeiro lugar estão as pessoas, e não coisas”.

Essa deveria ser a relação entre Religião, Educação e Poder. É pra isso que deveria servir essas ferramentas tão conhecidas e tão mal utilizadas pelo ser que se diz humano.
























6- CONCLUSÃO


Depois de trilhar por vários caminhos dificultosos e árduos, chegamos ao final de nossa pesquisa sobre o tema sugerido com a conclusão de que devemos respeitar a liberdade dada por Deus ao outro. Não chegamos a essa conclusão sem ter acrescentado à nossa própria vida, uma boa dose de crítica ao pensar, à ideologia presente nas relações estudas. Claro que fomos instruídos pelo estudo de grandes autores e mestres para que chegássemos a isso.
A relação entre Religião, Educação e Poder perpassa quase toda a história humana. São frutos dela o crescimento humano rumo à globalização e à ampla tecnologia presente em nosso tempo. Sem dúvida, grandes avanços benéficos à toda humanidade. Mas são também frutos dessa árvore, as grandes calamidades ocorridas através da história da humanidade. Guerras, genocídios, perseguições, cataclismos naturais, fome e desrespeito aos necessitados.
Não é justo esconder que dessa relação podemos tirar ótimos frutos, mas também é necessário dizer que temos que averiguar de muito perto essa relação, afinal, todos somos seres finitos ávidos pela infinitude. A liberdade tão almejada está sempre por perto, contudo, como que dentro de uma redoma de vidro inquebrável e inatingível por muitos, os que são excluídos dos privilégios da consciência comunicativa. Os que são tolhidos de sua própria voz. Os que não tem opção. E é somente na soberania de Deus, que a todos vê igualmente, que poderemos pautar nossos relacionamentos comunicativos, impregnados pela relação que estudamos, e buscar, orientados por Ele, a verdade que liberta.
















7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALVES, Rubem. O que é religião. 7ª ed. São Paulo: Abril Cultural/Brasiliense, 1984.

____________, Variações sobre a Vida e a Morte. São Paulo: Paulinas, 1982.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 21ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.

BURKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1981. p. 139.

CARVALHO, André; QUINTELLA, Ary. Poder. 2ª ed. Belo Horizonte: Lê, 1988.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 22ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

____________, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)

GADOTTI, Moacir. Educação e Poder: introdução à pedagogia do conflito. São Paulo: Cortez, 1998.

OLIVEIRA, Manfredo A. de – Ética e Racionalidade Moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

PRICE, J.M. – A Pedagogia de Jesus. Rio de Janeiro: JUERP, 1993.

VV.AA. TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Loyola/Paulinas, 1995.

STAMBAUGH, John E.; BALCH, David L. O Novo Testamento em seu ambiente social. São Paulo: Paulus, 1996.

TILLICH, Paul – A Coragem de Ser. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
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