Saí da Bandeirantes antiga e entrei no trecho novo, já pelos treze de construção, tão em mim, que nem noto mais sua chegada. Tem dias que ao sair dele, não me lembro de nada daquela meia hora. Deve ser por isso, que uma palavra do nada me pespegou por quilómetros. Ensimesmado era a tal e daí. Ficou ali e nada da estrada eu via, apesar de não cometer desatino algum. Eu me ensimesmei, sabe aquilo de pouco em pouco a palavra cair no seu pensamento, o mesmo quando uma música fica te martelando.
Claro que fui à internet tomar satisfações, coitada, como se ela fosse a culpada da ensimesmação. É que naquela manhã cedinho eu não a tinha e só à noite é que a tive. Numa página qualquer achei - Compenetrado e concentrado. Em outra, que tem a atenção voltada para o interior ou para os pensamentos. E hoje, não contente, fui à biblioteca do Uol e confirmei que ensimesmado é adjetivo, querendo dizer voltado para dentro de si mesmo; concentrado, recolhido, até introvertido e pensativo. A escolher.
Saí do ensimesmado, chega, mas não saí do que ouvi na transmissão do desfile das escolas de samba. Sábado, o casal Chico e Monalisa na casa de vidro tentando sair da mesmice e a repórter solta - Como está sendo esta emoção... A maior adrenalina, uma passista devolve e mexe no salto, para depois dar uma sacudida no esqueleto. Eu fiquei sem saber como estava a emoção da moça. No entanto, tem umas moças com cada emoção, sem falar nos sarados de plantão. Terminado a passarela a mesma moça repórter corre e solta - Como é estar com o dever realizado... Quase sem fala, alguém devolve - Foi uma superação. O Chico se antecipa e diz: Uma guerreira e olha a Monalisa tentando se empolgar, mas sem adrenalina.
Não quis, mas tive que anotar as mesmas palavras de sempre, que o pessoal da tevê se utiliza para descrever qualquer coisa de qualquer escola de samba. Tentei não anotar as que fazem parte do sistema carnavalesco como: mestre, velha-guarda, ala das baianas, comissão de frente, carro, passista, reco-reco, cuíca, jurado, marcação, fantasia, peladona, samba-enredo e mais. Silicone também não anotei e aqui o meu papelzinho começa com emoção, acho que a mais falada, talvez no empate com comunidade. Não tem nada que emoção não se encaixe, desde fantasia apertada até carro quebrado ou tempo não cumprido. Emoção serve para qualquer pergunta e, olha que tudo, para qualquer resposta. Aqui me recuso a falar do com certeza. Empolgante é bem utilizada, mesmo que o samba esteja atravessando e o pessoal mancando, quando teria que sambar. Aliás, o que tem de gringo na avenida, mesmo nascido aqui na comunidade. Nesse caso, a Suzana é de bem longe, a mesma atriz de sempre e gringa no andamento. Ela é ela e pronto, a escola, que escola.
Carisma vale também para definir qualquer sem sal. Fulana tem carisma, todo mundo de olho no carisma dela, quando ela desanda a falar do seu projeto. Nunca vi tanta gente ter projeto no carnaval, mas ainda é segredo. Não posso falar. Seria tão bom se todos só exaltassem a alegria do momento, com o velho e bom sorriso no rosto. Aí vem o Ronalducho, com aquele terno, põe aquele. O Chico quase espontàneo - Como foi essa emoção... Teve que ouvir da maior adrenalina. Tive que levantar tomar agadoisoh e não participei do resto da entrevista. Fiquei sem inspiração, como aqueles que dizem - Foi a maior energia, só quem está aqui é que sente. Engraçado é que já estive e me deu uma soneira, fora uma fome e dor nos quartos. Só uma vez de Anhembi e só, pra não dizer que fiquei ensimesmado a maior parte do desfile.
Depois nos comentários, os especialistas detalham os conhecimentos da comunidade, da dedicação, das bolhas, da superação e todos viram guerreiros ou guerreiras. Gostam de falar porta-bandeira e mestre-sala, como se fossem a sala deles. Neste domingo, dezesseis de três de quatorze, pensando na Piná, na Luma e no Cassiano, foi a maior emoção.
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