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Teses_Monologos-->ÉTICA – BONHOEFFER 2002 -- 26/01/2005 - 14:27 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SEMINÁRIO TEOLÓGICO “REV. ANTONIO DE GODOY SOBRINHO”

RODRIGO MOREIRA MARTINS; plus: ALFEU ZILLI SILVEIRA; CARLOS ALBERTO FERREIRA; DANILO TROMBETTA NEVES; HÉLCIO PASSOS

ÉTICA – BONHOEFFER
“ÉTICA FILOSÓFICA E TEOLÓGICA”
Orientador: Dr. Joaquim José de Moraes Neto



1 O AMOR DE DEUS E A DECADÊNCIA DO MUNDO

O mundo dos conflitos – Com um viés muito semelhante à filosofia aristotélica, Dietrich Bonhoeffer estabelece o princípio distintivo da ética cristã como sendo a busca da origem de toda e qualquer preocupação ética. Sendo cristã, identificada com Deus. Deus, o eternamente Uno, sem dicotomias, é a fonte de vida. O ser humano que saber do bem e do mal nega esta origem e, contra a mesma, “passa a se compreender como origem do bem e do mal, como fonte de uma eterna escolha e eleição” (p. 16). Assim, já não pode ser origem de fato, mas sim suas possibilidades.
Uma observação – Na idéia bíblico-poética de paraíso não há ética ou moralidade, tudo é essencialmente estético (Rubem Alves tem trabalhado este prisma estético da teologia bíblica – cf. prefácio de O Enigma da Religião).

O pudor – “A vergonha é mais original do que o arrependimento” (p. 17), uma sensação de perda sustenta a vergonha; o ser humano sente que falta algo em seu si. Esta sensação é apoiada pela dicotomia original que mascara a realidade: “todo espírito profundo precisa de uma máscara (Nietzsche). O pudor, a vergonha da nudez, provoca a busca da unidade perdida. A dialética desta tensão – coberto/descoberto – só pode ser superada pelo perdão (a negação da vergonha: a humilhação).

Pudor e Consciência – A metodologia de Bonhoeffer aqui é hegeliana. Ao pensar uma consciência o ser humano encontra uma outra consciência que não a original.

O Mundo da Unidade Reencontrada - A reconciliação tornou-se o ponto decisivo da experiência especificamente ética.

O Fariseu - É o encontro de Jesus com o fariseu que o antigo e o novo ficam claramente evidentes. O fariseu é o ser humano sumamente digno de admiração, que coloca toda a sua vida sob o conhecimento do bem e do mal, que é um juiz rigoroso tanto de si mesmo quanto do próximo – para honra de Deus, de quem, humildemente, recebe seu saber. Para o fariseu, cada momento da vida se torna uma situação de conflito em que deve escolher entre o bem e o mal.

Evidentemente há diferenças entre o pecador e aquele que se esforça pelo bem, diferenças que nunca devem ser desconsideradas. Quem desprezar as tais diferenças peca contra o conhecimento do bem e do mal. Assim como a pergunta e atenção da parte dos fariseus provêm da desunião do saber do bem e do mal, da mesma forma a réplica de Jesus emana da unidade com Deus, com a origem, da desunião já superada do ser humano de Deus. O que acontece entre Jesus e os fariseus é mera repetição daquela primeira tentação (Mateus 4:1-11) na qual o diabo tento prender Jesus em sua discordância na palavra de Deus e que Jesus venceu a partir de sua unidade essencial com a palavra de Deus.

A liberdade de Jesus não é a escolha arbitrária de uma entre incontáveis possibilidades; antes, consiste justamente na completa simplicidade de sua ação, para a qual nunca existem várias opções, conflitos e alternativas, mas sempre uma coisa só. Jesus vive e age não a partir do conhecimento do bem e do mal, mas a partir da vontade de Deus. Ao atacar o ser humano como juiz, Jesus exige a conversão de todo o seu ser, expondo-o, justamente na extrema realização do seu bem, como ímpio, como pecador. Jesus exige a superação do conhecimento do bem e do mal, exige a unidade com Deus. O agir do fariseu é apenas uma determinada forma de expressão do seu conhecimento do bem e do mal e, conseqüentemente, de sua desunião como o próximo e consigo mesmo.

O julgar não nasce daqueles vícios e maldades do coração humano, por profundas que sejam; ao contrário, o julgar é a raiz de todos estes fenômenos psicologicamente perceptíveis. O julgar não está errado por brotar de motivações tão obscuras, mas porque o próprio julgar é a defecção, por isso é mau e é por isso que produz maus frutos no coração humano. A conversão e a transformação de toda a existência do fariseu só pode nascer do conhecimento superado do bem e do mal; só Jesus pode derrubar a autoridade do fariseu baseada na noção do bem e do mal. Jesus quando diz “não julgueis” está chamando a reconciliação.

Há um saber que nasce do reconhecimento de Jesus como reconciliador. O seu juízo consiste em ajudar, confortar, levar ao caminho certo, admoestar e aconselhar fraternalmente. O saber dos fariseus: é morto, estéril, dissolvente, destruidor de toda ação autêntica. O saber de Jesus: é vivo, frutífero, redentor, reconciliador, consiste apenas na ação. O saber sobre Jesus se esgota completamente na ação, sem reflexão sobre si mesmo. Sabendo acerca de Jesus, o ser humano não pode mais saber do seu próprio bem; sabendo do seu próprio bem, não poderá mais saber de Jesus.

O ser humano não pode viver, ao mesmo tempo, na reconciliação e na desunião, na liberdade e sob a lei, na simplicidade e na discordância. Jesus evoca o ser humano para sair da dicotomia, da defecção, do saber do bem e do mal, para a reconciliação, para a unidade, para a origem, para a nova vida que está somente em Jesus. É o chamado libertador para a simplicidade, para a conversão. Para os que vivem na suspensão do saber a respeito do bem e do mal, não há mais escolha entre múltiplas alternativas; existe sempre só o fato da eleição para a símplice prática da uma vontade divina, não mais podendo haver para o seguido de Jesus noção do próprio bem.

O Examinar - Nem a voz do coração, nem alguma inspiração, nem tampouco algum princípio de validade universal podem ainda ser confundidos com a vontade de Deus que se revela sempre nova somente a quem sempre procede ao exame. O exame aflora a partir de uma metamorfose, ou seja, de uma renovação de mente (Romanos 12:2). Viver e crescer no amor significa: viver na reconciliação a unidade com Deus e os semelhantes significa viver a vida de Jesus Cristo. Somente com base em Jesus pode-se discernir qual seja à vontade de Deus. O examinar nasce do saber-se guardado, sustentado e guiado pela vontade de Deus, do saber acerca da graciosa unidade, já concedida, com a vontade de Deus, e procura robustecer este saber dia após dia na vida concreta. Deve-se examinar realmente qual é à vontade de Deus, o que é certo em dada situação, o que agrada a Deus, pois vida e ação devem ser concretas. Após todo sério examinar, haverá também a liberdade para real decisão e, nela, a confiança de que, através de tal examinar, Deus mesmo, não o ser humano, impõe a sua vontade. Não existe apenas um auto-exame farisaico, mas também um cristão, isto é, um auto-exame que não visa o próprio saber a respeito do bem e do mal e sua concretização na vida prática, mas que renova diariamente a percepção de que “Jesus Cristo está em nós”. Para o cristão, Jesus deve ocupar nele exatamente o espaço até agora preenchido pelo próprio saber acerca do bem e do mal. No auto-exame dos cristãos o olhar não se desvia de Jesus para o próprio eu; mas, fica preso em Jesus Cristo. Nosso único critério para o auto-exame é Jesus Cristo. O exame da vontade de Deus é, de certo modo, parte da própria vontade de Deus da mesma forma como o auto-exame do cristão é parte da vontade de Jesus Cristo em nós.

Fazer – É no fazer, apenas, que se consuma a submissão à vontade de Deus. Se a Escritura exige ação, ela, com isso, não remete o ser humano à sua própria capacidade, mas ao próprio Jesus Cristo. Há duas posturas perante a lei: Julgar e fazer; ambos se excluem reciprocamente. O praticante da lei por certo deve ser também um ouvinte, mas de tal modo apenas, que o ouvinte seja, ao mesmo tempo, o praticante (Tiago 1:22). Um ouvir que não se convertesse, no mesmo instante, em fazer, transforma-se naquele saber do qual nasce o julgar e, assim, a dissolução de todo fazer. Praticante é aquele que simplesmente não conhece outra postura diante da palavra de Deus ouvida do que o cumprimento, que permanece rigorosamente orientado para a própria Palavra, sem dela haurir um saber pelo qual de torna juiz do irmão, de si mesmo e, finalmente, também da própria palavra de Deus. Uma coisa é necessária – não ouvir ou fazer, mas ambos em um só, isto é, estar e permanecer na unidade com Jesus Cristo e orientado para ele, receber dele palavra e ação.

Amor – Sem amor tudo se desfaz e é reprovável; dentro deste amor tudo está unido e é agradável a Deus. Amor não é a relação pessoal direta, a compreensão dos aspectos pessoais, do individual em contraste com a lei da objetividade, da ordem impessoal. Um amor que abrange tão somente o âmbito das relações pessoais, capitulando diante do aspecto objetivo, nunca é o amor que o NT prega. Só sabe o que é amor quem conhece a Deus, não ao inverso: sabendo primeiro, e por natureza, o que é o amor, sabe-se então também o que é Deus. Ninguém sabe o que é amor, a não ser na auto-revelação de Deus. Assim, amor é revelação de Deus. Revelação de Deus, no entanto, é Jesus Cristo. O amor tem sua origem em Deus e não em nós. Ele é postura divina e não comportamento humano. A entrega de Jesus por nós é um ato de amor. Jesus é a única definição de amor. Só a ação e o sofrimento concretos do homem Jesus Cristo tornarão compreensível o que vem a ser amor. Amor significa sofrer a metamorfose de toda a existência por parte de Deus e em Deus. Amor não é escolha do ser humano, mas eleição do ser humano por Deus. Nosso amor se baseia exclusivamente na circunstância de sermos amados por Deus, em outras palavras, que o nosso amor outra coisa não pode ser do que a aceitação do amor de Deus em Jesus Cristo. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1a João 4:19). É com o amor de Deus, e nenhum outro que o ser humano ama a Deus e ao próximo. O amor de Deus inclui o amor a Deus. Somos amados e reconciliados por Deus e Cristo como seres humanos inteiros. É como seres humanos inteiros, raciocinando e agindo, que amamos a Deus e aos irmãos.


2 O “ÉTICO” E O “CRISTÃO” COMO TEMA

O ético enquanto tema é evidente em si mesmo. É assistemático. Esta afirmação positivista pode esconder o fato de que o fenômeno ético tem seus limites: ninguém vive tomando decisões derradeiras a todo instante. A limitação do ético no espaço e no tempo não implica sua validade e invalidade; é apenas um acontecimento-limite. Um exemplo: o “dever” e as obrigações de um pai numa família, assumidas passivamente, durante a plena harmonia do lar, não demonstra o fenômeno ético, mas ele está presente – nas palavras de Bonhoeffer, dormita. Porém, quando a ordem é quebrada ele se levanta; até que a ordem volte à cena. Assim, o ético é tema quando a situação de uma época o exige.

Ética não pode ser o simples desejo de como o mundo deveria ser, mas não é; e nem alguém que viva buscando normatizar a conduta moral pode ser considerado ético. Todo discurso que pretende ser ético carece de uma autorização. E só irá encontrá-la no concreto da vida humana: O “topos” do exercício de abstração. Talvez possamos dizer, aproveitando-nos de um trocadilho de Barth quanto a ordenação, que o discurso ético não tem um mandato, tem um mandado. Cumpra-se! Deverá vir sempre acompanhado pela vida do que discursa. De fato, “o autêntico discurso ético não se esgota numa única proclamação; exige repetição, constância e tempo” (p. 151). Sua finitude é superada pela infinita vontade de Deus: “o mandamento é a única autorização para o discurso ético” (p. 153).

Embora o mandamento de Deus seja sempre percebido em tempo e espaços específicos, ele é atemporal. Sua concreticidade coincide com sua historicidade; porém, com sua autoridade, se faz “permissão” em nossas vidas: “ele se diferencia de todas as leis humanas pelo fato de que ordena a liberdade” (p. 155). Destarte, será na concretude do mandamento divino que a igreja exercerá seu mandato, ou poderíamos dizer mandado: “A boa vontade sempre já é a ação concreta ou não é vontade cristã. O ser humano sempre já se encontra na ação concreta” (p. 157).

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Referência Bibliográfica

BONHOEFFER, Dietrich. Ética. 3.ed. São Leopoldo: Sinodal, 1995. (cap. 1 e 7)
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