Semana Euclidiana debate a recepção crítica de "Os Sertões"
da Folha de S.Paulo
Depois das comemorações do centenário de publicação de "Os Sertões", de Euclydes da Cunha (1866-1909), no ano passado, os especialistas começam a analisar a recepção da crítica atual ao livro. Esse o tema que deve dominar as conversas durante a Maratona Intelectual Euclidiana, conhecida como Semana Euclidiana, que começa amanhã em São José do Rio Pardo, cidade a 266 km ao norte de São Paulo, onde viveu o autor quando escreveu sua mais conhecida obra.
"A questão que levantamos foi como entender o livro cem anos depois. É verdade que a obra possui pontos ultrapassados cientificamente, mas existe uma perenidade. A influência do livro hoje é grande", diz Álvaro Ribeiro de Oliveira Netto, 64, diretor da Casa de Cultura Euclides da Cunha.
Evento tradicional que acontece anualmente desde 1940, de 9 a 15 de agosto (data em que o autor foi assassinado), a Semana Euclidiana reúne especialistas, alunos e professores que participam de ciclos de estudos, oficinas, palestras e debates sobre a vida e a obra de Euclydes da Cunha.
Neste ano, o homenageado, ao lado do escritor, é o professor de teoria literária e literatura comparada da Universidade de São Paulo Roberto Ventura, morto em agosto do ano passado, aos 45 anos, vítima de um acidente automobilístico quando voltava do evento. "Ventura era como um peregrino e entendia São José do Rio Pardo como a Meca do euclidianismo", lembra Netto.
Autor do livro "Folha Explica Os Sertões " (Publifolha), o professor vinha trabalhando há dez anos numa biografia de Euclydes que estava programada para ser lançada no início de 2003.
Deixado em fase de finalização, o material de Ventura foi organizado em um volume por Mario Cesar Carvalho, repórter da Folha, e José Carlos Barreto de Santana e editado pela Companhia das Letras. Com o título de "Euclides da Cunha - Esboço Biográfico", o livro será lançado domingo durante a programação da Semana Euclidiana.
Na Casa de Cultura, constantemente visitada por Ventura, que utilizava os documentos originais deixados por Euclydes para sua pesquisa, uma exposição coloca lado a lado objetos do autor de "Os Sertões" e os de seu biógrafo, como depoimentos, bilhetes, publicações, rascunhos, diplomas e cadernetas escolares.
No mesmo local, será inaugurada uma mostra com fotografias de Flávio de Barros da Guerra de Canudos --que é o tema de "Os Sertões"--, uma doação do Instituto Moreira Salles, que editou um livro com as imagens.
Extrapolando os limites literários, neste ano haverá apresentações de grupos de música e de dança. "Queremos mostrar as antíteses do país. O sertão começa onde o Estado pára", diz Netto.
A programação completa do evento pode ser lida no site www.casaeuclidiana.org.br.
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