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Teses_Monologos-->Saúde, Direitos Sexuais E Reprodutivos -- 11/12/2004 - 00:47 (Sandra Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Na década de 1910 uma enfermeira americana, sofreu terríveis perseguições, foi presa por várias vezes e, teve até que se exilar por um ano na Inglaterra. Seu nome era Margaret Sanger e a causa de tanto sofrimento era a sua luta para que todas as mulheres tivessem o direito de ter apenas os filhos que desejassem ter.


Margaret divulgava informações sobre contracepção e foi, por isso, acusada pela puritana sociedade dos EUA de estar divulgando material pornográfico.


Naquele tempo, muitas mulheres morriam, por complicações de partos ou de abortos. O único método anticoncepcional existente na época era a abstinência sexual, o coito interrompido ou as primitivas camisinhas. Os homens não estavam dispostos a ceder um milímetro do seu prazer, ejaculando fora ou usando as tais camisinhas, para evitar que as suas mulheres fossem (como efetivamente o eram) expostas a freqüentes gravidezes e muitas nem sempre desejadas.


A enfermeira Margaret queria ensiná-las, pelo menos, a usar a famosa tabelinha dos dias férteis e evitar relações sexuais nesses dias. A nossa heróica enfermeira dizia que nenhuma mulher poderia ser livre enquanto não mandasse no seu próprio corpo.


Ainda nos dias de hoje, noventa anos depois desta luta, ainda não podemos afirmar que somos donas do nosso próprio corpo, que somos livres. Na verdade, a maioria das mulheres continua sendo vítima de seu corpo.


No Brasil, foi nas décadas de 70 e 80 que o movimento feminista e o movimento de mulheres ganha as ruas e também passa a se organizar pautando temas e discussões até então considerados tabus, como por exemplo: a busca de igualdade nas relações de trabalho, luta por salários iguais, luta pr creches, entre outras.


Apesar das muitas conquistas da ciência, dos muitos métodos anticoncepcionais que estão disponíveis no mercado, muitas de nós, mulheres, ainda desconhecemos o funcionamento dos nossos órgãos reprodutivos, ainda estamos cheias de preconceitos e tabus quanto às nossas feminilidade e sexualidade. Muitas têm vergonha de se tocar, até mesmo de ir ao ginecologista, perpetuando em nossas filhas a noção de que a genitália é um lugar sujo e impuro, quando é justamente o contrário.


Os motivos dessa concepção foram séculos de repressão sexual que nos fizeram ter uma visão distorcida do sexo e até mesmo da maternidade.


Muitas de nós, mulheres, continuamos ignorantes sobre o funcionamento da fantástica máquina reprodutiva que é o corpo feminino. continuamos sem o conhecimento das influências dos hormônios sexuais até mesmo no nosso comportamento. Assim sendo, continuamos vítimas do nosso corpo.


Embora estejamos vivendo um momento de grandes mudanças e de importantes transformações em nosso país, e, alguns avanços possam ser destacados no âmbito das políticas públicas, o tema dos direitos sexuais e reprodutivos permanece, ainda, como um dos pontos cruciais para as mulheres brasileiras.


É freqüente a mulher possuir a percepção do quanto suas emoções interferem nas suas funções biológicas e expressar isto a seu ginecologista, durante a consulta, associando o surgimento dos sintomas ginecológicos com diversos eventos emocionais. Entre estas, certamente, estão as portadoras de disfunções sexuais (mulheres com ausência do desejo sexual, ausência de orgasmo e dor no ato sexual) .


Infelizmente, também é freqüente o profissional desprezar essas associações. Este profissional freqüentemente julga os relatos emocionais como mera perda de tempo, que prolongam desnecessariamente a consulta e são irrelevantes para o raciocínio clínico. Este fato demonstra claramente a falta de humanização no atendimento.


Profissionais de saúde de qualquer sexo que sofrem conflitos quanto à própria sexualidade, ou aqueles de qualquer sexo que possuem formação moral extremamente machista, rígida, intolerante ou conservadora podem apresentar tendências a tratar de modo pouco amistoso ou até hostil as clientes homossexuais ou bissexuais.


Na ausência de uma base humanística como elemento integrante da formação, o profissional de saúde logo percebe que a visão da mulher apenas como um corpo feminino não é suficiente para dar resolução à maioria das queixas sexuais com que se depara na clínica diária.


Num estudo realizado por Abdo e Oliveira Jr. em 2002 foram entrevistados 4.753 ginecologistas. Destes, 49% reconheceram que possuem conhecimento insuficiente e conseqüente insegurança para a abordagem de questões sexuais de suas pacientes.


Por esse motivo é necessário estimular e desenvolver a formação dos profissionais de saúde e a qualificação dos serviços para que eles sejam eficientes, não somente, frente aos problemas e agravos à saúde da mulher mas que também promovam a auto-estima e a capacidade de decisão das usuárias. É preciso também que os profissionais além de cuidar da saúde física da mulher, conheçam e respeitem os seus direitos sexuais e reprodutivos.


Boa saúde é sinônimo de boa qualidade de vida. Isto significa dizer que ser saudável não é apenas não estar doente, mas também dispor de uma série de serviços que garantam uma vida digna, tais como moradia, alimentação, água tratada, esgoto, transporte, educação, emprego, segurança, lazer e assistência à saúde.


Na Constituição promulgada em 1988, em seu artigo 196, está explícito que "a saúde é direito de todos e dever do Estado".


Para a saúde da Mulher, no âmbito do SUS, foi criado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) que define a política especial de atenção a ser oferecida à população feminina. Seus princípios e diretrizes já foram adotados por muitos municípios, porém a maioria deles ainda não dispõe desses serviços de acordo com as diretrizes preconizadas pelo programa.


O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher propõe que os serviços de saúde devem exercer atividades assistenciais e educativas às mulheres em todas as suas necessidades de saúde, em todas as fases de sua vida, desde a infância até a velhice, de acordo com as características apresentadas em cada fase.


Apesar dos esforços direcionados aos riscos especiais à saúde da mulher, as complicações relacionadas à gravidez, ao abortamento inseguro e ao parto ainda estão entre as principais causas de mortalidade e adoecimento das mulheres em idade reprodutiva.

No Brasil, milhares de mulheres morrem todos os anos por complicações ligadas à gestação, parto e puerpério, sendo as causas mais freqüentes: as doenças hipertensivas, hemorragias, infecção e aborto, as chamadas causas diretas de morte materna – cuja grande maioria é passível de ser prevenida com a adoção e implementação de medidas relativamente simples na área de saúde. Pode-se afirmar que cerca de 98% do total de óbitos maternos em nosso país são evitáveis, o que expressa um problema de grande importância para a sociedade como um todo.


Em função deste quadro, é muito importante que os municípios e estados possuam Comitês de Mortalidade Materna, pois os casos de morte materna – muitos dos quais diretamente ligados à qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população – devem ser devidamente investigados – e soluções adotadas – para que o fato não mais se repita na comunidade.


A Saúde Reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo.


Fica então claro o direito de mulheres e homens de serem informados e de terem acesso aos métodos de planejamento familiar que sejam eficientes, seguros, aceitáveis e financeiramente compatíveis, e que não contrariem a Lei, bem como o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que forneçam às mulheres as condições de
passar com tranqüilidade pela gestação e parto, proporcionando aos casais “uma chance melhor de ter um filho sadio" e às mulheres a possibilidade de vivenciarem a sua sexualidade com saúde e segurança.


Quantas mulheres, nesse momento, não estão sofrendo de desconfortos relacionados à menstruação ou angustiadas por uma gravidez indesejada? Quantas não estão morrendo por abortos provocados?


Acreditamos que todos esses sofrimentos podem e devem ser evitados. Para isso basta que nós mulheres, com o auxílio de um bom profissional de saúde, tomemos as rédeas de nosso próprio corpo. Mas, enquanto tivermos vergonha de nossos corpos, enquanto mantivermos as crenças nos velhos tabus sexuais, enquanto não formos donas de nossa própria sexualidade, donas absolutas de nossos corpos, nunca conquistaremos a liberdade plena, nunca seremos felizes.



***Sandra L. Felix de Freitas***

Enfermeira Obstetra, Docente da disciplina Enfermagem Ginecológica e Obstétrica, do Curso de Graduação em Enfermagem, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.


............ Palestra realizada no dia 21 de maio de 2004, na 1ªCONFERÊNCIA ESTADUAL DE POLÍTICA PARA AS MULHERES, no Estado de Mato Grosso do Sul.


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