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Textos_Religiosos-->Homilia de Bento XVI ao inaugurar o Sínodo da Palavra -- 07/10/2008 - 00:14 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Homilia de Bento XVI ao inaugurar o Sínodo da Palavra

ROMA, domingo, 5 de outubro de 2008

ZENIT.org

Publicamos a homilia que Bento XVI pronunciou na manhã deste domingo, durante a celebração eucarística de inauguração da assembléia do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus. A cerimônia foi na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.

* * *

Venerado irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Queridos irmãos e irmãs:

A primeira leitura, tomada do livro do profeta Isaías, assim como a página do Evangelho segundo Mateus, propuseram a nossa assembléia litúrgica uma sugestiva imagem alegórica da Sagrada Escritura: a imagem da vinha, da qual já escutamos falar nos domingos precedentes. A perícope inicial da narração evangélica faz referência ao «cântico da vinha», que encontramos em Isaías. Trata-se de um canto situado no contexto do outono da vindima: uma pequena obra-prima da poesia judaica, que devia resultar sumamente familiar a quem escutava Jesus, e da qual --como em outras referências dos profetas (Cf. Oséias 10, 1; Jeremias 2, 21; Ezequiel 17, 3-0; 19, 10-14; Salmos 79, 9-17)-- se compreendia que a vinha fazia referência a Israel. Deus dedica a sua vinha, ao povo que escolheu, os mesmos cuidados que um esposo fiel oferece a sua esposa (cfr Ezequiel 16, 1-14; Efésios 5, 25-33).

A imagem da vinha, junto às bodas, descreve portanto o projeto divino da salvação, e se apresenta como uma comovente alegoria da aliança de Deus com seu povo. No Evangelho, Jesus retoma o cântico de Isaías, mas o adapta a quem o escuta e à nova hora da história da salvação. Não se fixa tanto na vinha, mas nos vinhateiros, a quem os «servidores» do dono pedem, em seu nome, o arrendamento. Os servidores são maltratados e inclusive assassinados. Como não pensar nas vicissitudes do povo eleito e na sorte reservada aos profetas enviados por Deus? Ao final, o proprietário da vinha faz um último intento: manda seu próprio filho, convencido de que ao menos a ele escutarão. Contudo, sucede o contrário: os vinhateiros o matam porque é seu filho, ou seja, o herdeiro, convencidos de apoderar-se facilmente da vinha. Nos encontramos, portanto, perante um salto de qualidade frente à acusação de violação da justiça social, como se pode ver no cântico de Isaías. Aqui vemos com clareza como o desprezo pela ordem enviada pelo dono se converte em desprezo dele: não é simples desobediência a um preceito divino, é uma verdadeira rejeição de Deus: aparece o mistério da Cruz.

A denúncia desta página evangélica interpela a nossa maneira de pensar e atuar. Não fala só da «hora» de Cristo, do mistério da Cruz naquele momento, mas da presença da Cruz em todos os tempos. Interpela, de maneira especial, aos povos que receberam o anúncio do Evangelho. Se contemplamos a história, nos vemos obrigados a constatar com freqüência a frieza e a rebelião de cristãos incoerentes. Como conseqüência, Deus, ainda que nunca abandona sua promessa de salvação, teve de recorrer ao castigo. Neste contexto, o pensamento se dirige espontaneamente ao primeiro anúncio do Evangelho do qual surgiram comunidades cristãs, em um primeiro momento florescentes, que depois desapareceram e que hoje só são recordadas pelos livros de história. Não poderia suceder o mesmo em nossa época? Nações que em um tempo tinham uma grande riqueza de fé e vocações agora estão perdendo sua identidade, sob a influência deletérea e destrutiva de uma certa cultura moderna. Há quem, havendo decidido que «Deus morreu», se declara a si mesmo «deus», considerando-se o único agente de seu próprio destino, o proprietário absoluto do mundo.

Desligando-se de Deus, ao não esperar dele a salvação, o homem crê que pode fazer o que quer e pôr-se como a única medida de si mesmo e de sua ação. Mas quando o homem elimina Deus de seu horizonte, quando declara que Deus «morreu», é verdadeiramente feliz? Se faz verdadeiramente mais livre? Quando os homens se proclamam proprietários absolutos de si mesmos e únicos donos da criação, podem verdadeiramente construir uma sociedade na qual reinem a liberdade, a justiça e a paz? Ou não sucede mais – como demonstram cotidianamente as crônicas – que se difundem o poder arbitrário, os interesses egoístas, a injustiça e o abuso, a violência em todas as suas expressões? Ao final o homem se encontra mais sozinho e a sociedade mais dividida e confundida.

Mas nas palavras de Jesus há uma promessa: a vinha não será destruída. Enquanto abandona a seu destino os vinhateiros infiéis, o dono não abandona a sua vinha e a confia a outros servidores fiéis. Isto indica que, se em algumas regiões a fé enfraquece até extinguir-se, sempre haverá outros povos dispostos a acolhê-la. Precisamente por este motivo, Jesus, citando o salmo 117 [118] -- «a pedra rejeitada pelos arquitetos tornou-se a pedra angular» (versículo 22) --, assegura que sua morte não será a derrota de Deus. Após sua morte, não permanecerá no túmulo, e sim, precisamente o que parecerá um fracasso total será o início de uma vitória definitiva. À sua dolorosa paixão e morte seguirá a glória da ressurreição. A vinha continuará então dando uva e será arrendada pelo dono «a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu tempo» (Mateus 21, 41).

A imagem da vinha, com suas implicações morais, doutrinais e espirituais, voltará no discurso da Última Ceia, quando ao despedir-se dos apóstolos, o Senhor dirá: «Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto» (João 15, 1-2). A partir do acontecimento pascal, a história da salvação experimentará, portanto, um giro decisivo, e os novos lavradores que, enxertados em Cristo, levarão frutos abundantes de vida eterna (cf. Coleta da liturgia deste domingo). Entre estes «lavradores» nos encontramos também nós, inseridos em Cristo, que quis converter-se Ele mesmo na «verdadeira vinha». Peçamos ao Senhor, que nos entrega seu sangue, a si mesmo, na Eucaristia, que nos ajude a «dar fruto» para a vida eterna e para nosso tempo.

A consoladora mensagem que recolhemos destes textos bíblicos é a certeza de que o mal e a morte não têm a última palavra, mas que ao final Cristo vence. Sempre! A Igreja não se cansa de proclamar esta Boa Nova, como sucede também hoje, nesta basílica dedicada ao apóstolo dos povos, que se converteu no primeiro a difundir o Evangelho em grandes regiões da Ásia Menor e Europa. Renovaremos significativamente este anúncio durante a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem por tema: «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja». Quero saudar com afeto cordial a todos vós, venerados padres sinodais, e aos que participam neste encontro como especialistas, auditores e convidados especiais. Acolho também com alegria os delegados fraternos de outras igrejas e comunidades eclesiais. Ao secretário-geral do Sínodo dos Bispos e a seus colaboradores expresso o reconhecimento de todos pelo comprometedor trabalho que realizaram nestes meses e pelo cansaço que os espera nas próximas semanas.

Quando Deus fala, sempre exige uma resposta; sua ação de salvação exige a cooperação humana; seu amor espera ser correspondido. Que não suceda nunca, queridos irmãos e irmãs, o que narra o texto bíblico sobre a vinha: «E contava com uma colheita de uvas, mas ela só produziu agraço» (Cf. Isaías 5, 2). Só a Palavra de Deus pode mudar profundamente o coração do homem, por isso é importante que entremos em uma intimidade cada vez maior com ela, tanto cada um dos crentes como as comunidades. A assembléia sinodal dirigirá sua atenção a esta verdade fundamental para a vida e a missão da Igreja. Alimentar-se da Palavra de Deus é para ela sua primeira e fundamental tarefa. De fato, se o anúncio do Evangelho constitui sua razão de ser e sua missão, é indispensável que a Igreja conheça e viva o que anuncia, para que sua pregação seja crível, apesar das fraquezas e pobrezas dos homens que a formam. Sabemos, ademais, que o anúncio da Palavra, seguindo a Cristo, tem como conteúdo o Reino de Deus (Cf. Marcos 1, 14-15), mas o Reino de Deus é a mesma pessoa de Jesus, que com suas palavras e obras oferece a salvação aos homens de todas as épocas. Nesse sentido, é interessante a consideração de São Jerônimo: «Quem não conhece as Escrituras, não conhece a potência de Deus nem sua sabedoria. Ignorar as Escrituras significa ignorar a Cristo» (Prólogo ao comentário do profeta Isaías: PL 24, 17).

Neste Ano Paulino escutaremos ressoar com particular urgência o grito do apóstolo dos povos: «Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!» (1 Corintios 9, 16): grito que para cada cristão se converte em um convite insistente a colocar-se ao serviço de Cristo. «A messe é grande» (Mateus 9, 37), repete também hoje o Mestre divino: muitos ainda não o encontraram e estão à espera do primeiro anúncio de seu Evangelho; outros, apesar de que receberam uma formação cristã, perderam o entusiasmo e só mantêm um contato superficial com a Palavra de Deus; outros se afastaram da prática da fé e têm necessidade de uma nova evangelização. Não faltam, também, pessoas de reta consciência que se propõem perguntas essenciais sobre o sentido da vida e da morte, perguntas às quais só Cristo pode oferecer respostas convincentes. Se faz então indispensável que os cristãos de todo continente estejam dispostos a responder a quem peça razão da esperança que lhes habita (Cf 1 Pedro 3, 15), anunciando com alegria a Palavra de Deus e vivendo compromissadamente o Evangelho.

Venerados e queridos irmãos, que o Senhor nos ajude a observar juntos, durante as próximas semanas das sessões sinodais, como fazer cada vez mais eficaz o anúncio do Evangelho em nosso mundo. Todos experimentamos a necessidade de colocar no centro de nossa vida a Palavra de Deus, de acolher a Cristo como nosso único Redentor, como Reino de Deus em pessoa, para fazer que sua luz ilumine todos os âmbitos da humanidade: desde a família até a escola, desde a cultura até o trabalho, desde o tempo livre até os demais setores da sociedade e de nossa vida. Ao participar na celebração eucarística, experimentamos cada vez mais o íntimo laço que se dá entre o anúncio da Palavra de Deus e o Sacrifício eucarístico: é o mesmo Mistério que se nos oferece a nossa contemplação. Por este motivo, «a Igreja --como sublinha o Concílio Vaticano II-- venerou sempre as Sagradas Escrituras como o próprio Corpo do Senhor, não deixando de tomar da mesa e de distribuir aos fiéis o pão da vida, tanto da palavra de Deus como do Corpo de Cristo, sobretudo na Sagrada Liturgia» (Dei Verbum, 21).

Com razão o Concílio conclui: "Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua frequência do mistério eucarístico, assim também é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela palavra de Deus, que «permanece para sempre»" (Dei Verbum, 26).

Que o Senhor nos permita aproximar-nos com fé da dupla mesa da Palavra e do Corpo e do Sangue de Cristo. Que nos alcance este dom Maria Santíssima, que «conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lucas 2, 19). Que ela nos ensine a escutar as Escrituras e a meditá-las em um processo interior de amadurecimento, que nunca separe a inteligência do coração. Que nos ajudem também os santos, em particular o apóstolo Paulo, a quem estamos descobrindo cada vez mais neste ano como intrépido testemunho e arauto da Palavra de Deus. Amém!

[Traduzido por Zenit]



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