Conversava eu com um amigo, desses que a gente passa séculos sem falar, mas que quando encontra é como se tivesse falado ontem.
Pois bem, durante o diálogo, ele comentou algo como se tivesse nascido velho e que vinha remoçando lentamente com o passar dos anos. Achei graça, ri, mas aquilo ficou lá dentro. Não resisti e rebati. Comentei que velho usava cachecol e boina. Ao que ele ironicamente respondeu: - Foi o que eu disse, aos 10 anos eu usava boina e cachecol.
Céus! Foi quando me dei conta do que ele estava me mostrando. Realmente, o comportamento da população mudou, e nós mudamos junto. A cada década a evolução está tão rápida, as mudanças tão avassaladoras, que coisas, modas, hábitos de 10/20 anos atrás são consideradas coisas “velhas”.
Bem, a essa altura, comecei a catalogar meus indícios de velhice na infância, e resgatei pérolas como blusa ban-lon, cacharrel, terninhos de veludo cotelê, retratos de sete carinhas, arrasta pé, beijo de boca fechada, meninas de um lado e meninos do outro nas festinhas, penhoar (pegnoir), anágua, dormir de touca (cabelo esticado úmido e preso com clipes metálicos) para deixar o cabelo parecendo liso, sobrancelhas fininhas como Elis Regina, sapatos Vulcabrás para a escola....gente....coisa de velho!!! Risos...
E agora, percebo que vivo mais, danço mais, sorrio mais, amo mais, namoro mais, bebo mais, como o que mais gosto, saio com quem me agrada, recebo apenas quem me agrada, só faço aquilo que concordo, na maioria das vezes... gente...coisa de gente nova!!! Risos...
Pode parecer estranho, mas é verdade. Eu era mais velha quando era mais nova!
E não é novidade que os bem idosos vão esquecendo das coisas e desaprendem até a falar e a andar? Será?
Só sei que o mais importante é manter o espírito jovem, de acordo com os tempos e os padrões intrínsecos de felicidade, de certo e errado, de bem e de mal. Soltar o que vai no coração, evitar se aviltar. Tentar satisfazer essa criança, velha ou não, que habita aí dentro, sem medo de ser feliz.
É importante evitar julgar, porque sempre se pode errar por excesso ou omissão.
É importante respeitar pontos de vista, porque nem sempre se está com a única versão da verdade dos fatos.
É importante abrir a mente para outras perspectivas, sem abandonar seus valores e princípios.
É importante caminhar, avançar, querer mais vida, mais sol, mais alegria pra seu mundo interior.
É fundamental amar a si próprio, antes de mais nada, se respeitar, saber seus limites, suas expectativas, suas potencialidades. E dar asas. Dar corda. Dar vida à criatura.
E partir para o mundo, para a meta, para a rota, o caminho de ser feliz, seja qual for a idade e o tempo.
Lílian Maial
Rio, 19/02/01.
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