INTUIÇÃO E ACOLHIDA
Felizmente, sempre, Deus tem colocado as pessoas certas na minha vida. Você é uma delas.
Você se lembra do que lhe disse um dia? Foi isto: - "pode fazer o que quiser, pois você é psicóloga de cabelo ”. De fato, quando sento na cadeira, apenas digo se quero cortar o cabelo, arrumar ou pintar. O mais você faz, e sei que sai muito bom. Ao olhar meu cabelo (e certamente das outras clientes) você estende o olhar para o interior, para aquilo que bem lá no fundo eu quero, mas nem sei qual é o querer. Nem fico olhando muito no espelho. Ao término, fico satisfeita: é o que eu quero, é o que me cai bem.
Enfim, essa sua sensibilidade é maravilhosa. Resulta num trabalho muito bom, um trabalho de quem curte o que faz e que tem, além da capacidade profissional, a intuição para dar o toque adequado a cada pessoa, e para dar a acolhida necessária.
Na verdade, isso que disse é absolutamente real, mas é apenas a introdução de algo mais a lhe dizer. Você poderia também ser psicóloga de quem ama gato . Aliás, você ama e respeita animais em geral e trata os seus magnificamente. Inclusive acho encantador vê-la tratando pássaros absolutamente livres e que vêm pousar nas árvores de seu quintal. E também é puro encanto ficar observando-os: a comilança, a delicadeza ao beber água, o vôo, o descanso,a algazarra, num barulho incrível, quando qualquer observador se mostra como tal.
Dia desses, você me acolheu tão bem no seu salão, mas não para o cabelo, e sim para a cabeça e o coração. Eu passei dias e mais dias corroída pela dor da perda de dois gatos. Tão logo mudei de casa, precisei levá-los para uma chácara, antes que a vizinhança os matasse, mas eles acabaram fugindo, ou sumindo, não sei. Fiz muitas buscas e não os encontrei.
Ah, que terrível! Fiquei engasgada na culpa e já escorregava na depressão. Uma dor, que parecia jamais ter fim, se alojou no meu peito. Era como se um ovo de pedra sabão estivesse enroscado ali. Até para comer era difícil. Tanto que emagreci.
E você, em pleno domingo, doou seu tempo livre a mim que só sabia chorar. Sei que você se comoveu muito com aquilo, mas procurou dar-me alívio, procurou encontrar soluções e, principalmente, procurou ir mostrando as setas para tirar a culpa de meu caminho. Foi tudo maravilhoso. Naquela noite, depois de muitos dias de sono ruim e nada de sonho, pude sonhar e me lembrar: um de meus gatos apareceu, estava muito bem, deitado bem tranqüilo e, telepaticamente, me dizia que para ele tanto fazia estar ali onde estava ou em casa. Acordei... Era tudo tão simples e tão certo! A mágica se fez: o ovo de pedra se quebrou, virou pó, sumiu. Parei de chorar e de sofrer.
Agora, Inês, neste momento que escrevo, eu choro, mas estou bem e o que ficou, sem me corroer, é a saudade, mais a certeza de que por quase dez anos eles foram muito amados (e espalharam amor sem qualquer economia), vivemos momentos muito intensos. Tenho certeza de que onde estiverem, sei lá em que lugar ou dimensão, estão agradecendo a você pela mágica.
Obrigada, muito, muito!
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