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Cronicas-->Olhar fulminante -- 08/03/2000 - 17:41 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há quem, sem dizer uma única palavra, fulmine seus desafetos. São os portadores do que se pode chamar, olhar fulminante. Melhor dizer praticantes. Todos somos em diferentes graus.

Falar do olhar fulminante, ou escrever sobre ele, é um desafio. Não sei se serei capaz. O melhor seria olhar, ao vivo. Mesmo através de um filme, a descrição seria incompleta pois ainda que se use a melhor càmara japonesa há grande dificuldade em captar adequadamente o poder e o impacto de um olhar fulminante. Assim, antes de tentar descrevê-lo, limito-me a lembrar o que todos certamente já viram e, sobretudo, sentiram.

Este olhar pode ser usado em inúmeras situações e, normalmente segue acompanhado de um grande silêncio. Um silêncio ensurdecedor, como se diz. Uma situação típica é a intromissão indesejada. Você está dando uma explicação a um cliente e, sem saber exatamente do que você está falando, vem um funcionário e conta outra versão. Não há o que fazer em tais situações. A única alternativa é o olhar fulminante.

Se você não está acostumado a emiti-los, seja por desconhecimento, seja por falta de ocasião, cuidado. Você talvez desconheça o poder que tem e ao usá-lo pode causar um dano maior do que deseja. Convém portanto, praticar antes de usá-lo. Pratique antes, e muito. Pratique com baratas, por exemplo. Antes de usar o chinelo tente o olhar. Se não der certo não se preocupe (use o chinelo), o problema é que elas são muito falsas e dificilmente vão olhá-lo nos olhos, o que diminui um pouco o efeito. Tente com formigas e depois volte às baratas. Depois de fulminar uma, tente o um olhar mais brando, que apenas as deixem cambalheantes e assim, vá treinando os diferentes graus.

De outro lado, há que proteger-se. Uma proteção razoável é o uso de óculos escuros. Bem escuros, a ponto de seus olhos não poderem ser vistos. Estes clarinhos, usados para fazer peso no nariz não servem. Os óculos realmente escuros oferecem uma proteção razoável, embora não seja total. Não há uma proteção total. Os olhares mais potentes podem atravessar até mesmo paredes de chumbo.

O olhar fulminante é muito usado em substituição aos palavrões. Não podendo xingar o interlocutor, use o olhar fulminante. A senhora pisa em seu pé, acerta o calo ou a unha encravada e faz um olhar inocente (este é outra estória). Não fica bem falar a meia dúzia de palavrões que você lembrou enquanto dizia que não foi nada. O olhar fulminante contudo, substitui com vantagem e você não fica sujeito à acusações. Até mesmo na América, onde você pode ser processado por suspirar o ar alheio, ainda não há jurisprudência a respeito do olhar fulminante. Aqui então, nem pensar. Pode olhar a vontade, você está seguro, os tribunais ainda não reconhecem os danos causados pelo olhar fulminante. Deveriam, pois podem ser devastadores.

Vá com calma. Controle-se, há delitos que não merecem um olhar inteiro. Neste caso feche um olho ou, como se diz, olhe apenas com o rabo do olho. Siga o princípio jurídico da proporcionalidade da pena e contenha-se. Lembre do exercício com as baratas. Há muitos casos de arrependimento com inúmeras horas perdidas em remorsos inúteis. Há amizades perdidas por olhares fulminantes em excesso e há até alguns casos de incêndios que foram considerados criminosos, embora nunca tenham entendido como realmente iniciaram.

Em geral o olhar fulminante vem acompanhado de um silêncio ensurdecedor e, pior, pensamentos impublicáveis. Estes são ainda mais daninhos, de modo que insisto em pedir moderação. Só use o olhar fulminante quando for realmente inevitável.

Escrito em 15.02.2000
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