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Cartas-->Carta aberta ao teólogo Fernando Altemeyer -- 25/04/2007 - 12:07 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CARTA ABERTA ao teólogo Sr. Fernando Altemeyer


INTRODUÇÃO

Recentemente eu recebi diretamente do Sr. Fernando Altemeyer cópia de uma carta aberta que ele compôs para o Professor Felipe Aquino e que foi enviada a muitas pessoas (clérigos e leigos) . A legislação canônica nos permite expressar a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja (cân. 212§ 3) . Mas isso só é lícito se nossa expressão estiver em conformidade com o respeito que devemos à doutrina da Igreja , ao seu Magistério e à dignidade das pessoas . Neste sentido , eu pretendo expor aqui , com sincera humildade , algumas considerações sobre certas interpretações , afirmações e especulações feitas pelo referido teólogo Sr. Fernando Altemeyer . Peço que minhas observações sejam acolhidas dentro da esfera do diálogo fraterno . Meu objetivo , portanto , não é alimentar divergências e discussões intermináveis , mas sim estimular uma compreensão mais apurada dos fatos e da própria doutrina católica .

A carta aberta do Sr. Fernando encontra-se anexada no fim deste trabalho : (este anexo visa facilitar a observação das minhas citações) .


A CARTA
Do ponto de vista da fé católica , percebe-se que muitas considerações do Sr. Fernando Altemeyer conduz necessariamente ao relativismo , sobretudo dogmático . Na carta há também uma tentativa de estabelecer um pluralismo teológico em detrimento da unidade da fé católica em sentido objetivo . Também percebi algumas errôneas interpretações que ele expôs sobre certos documentos eclesiais (por exemplo : sobre a Declaração Mysterium Ecclesiae da Congregação para a Doutrina da Fé) . Vejamos :

O relativismo dogmático : Escrevendo sobre a suposta necessidade de alteração dos termos das fórmulas dogmáticas , o Sr. Fernando acaba relativizando os próprios dogmas porque ignora que qualquer nova expressão (com o objetivo de se adeqüar a um novo contexto lingüistico) , jamais poderá alterar o sentido do dogma . Além disso , João Paulo II nos explicou que “a história do pensamento mostra que certos conceitos básicos mantêm , através da evolução e da variedade das culturas , o seu valor cognoscitivo universal e , conseqüentemente , a verdade das proposições que os exprimem “ 1. Na Encíclica Humani generis o Papa Pio XII adverte sobre o erro de se querer abandonar aqueles conceitos e expressões que a Igreja sancionou nos Concílios e que foram compostos por homens de grande talento e santidade , sob a vigilância do sagrado Magistério 2 . É verdade , porém , que a Igreja pode aperfeiçoar e enriquecer , sempre sob a vigilância do Magistério , algumas expressões . Mas isso não alteraria o sentido imutável do dogma . O memorável João XXIII assim nos explicou : “ Uma coisa é a substância do “depositum fidei” , isto é , as verdades contidas na nossa doutrina , e outra é a formulação com que são enunciadas , conservando-lhes , contudo , o mesmo sentido e o mesmo alcance “ (Discurso de João XXIII na abertura do Concílio Vaticano II : 11/10/1962) . Também entendo que juntos devemos recordar aquela palavra de Pio XII : “Eis porque nosso predecessor de imortal memória , Pio IX , ao ensinar que é dever nobilíssimo da teologia mostrar como uma doutrina definida pela Igreja está contida nas fontes , não sem grave motivo acrescentou aquelas palavras : “com o mesmo sentido com o qual foi definida pela Igreja “ 3 . No parágrafo 9 da carta do Sr. Fernando , encontra-se uma tentativa de justificar os desvios do teólogo Jon Sobrino (recentemente censurado pela Santa Sé) . Segundo o Sr. Fernando , Sobrino quis apenas contextualizar as antigas definições conciliares . Na realidade , Sobrino , segundo o juízo autorizado da Santa Sé , desvaloriza os concílios antigos e os considera válidos apenas dentro do contexto cultural antigo . Para não caírmos neste grave erro , entendo que , mais uma vez , devemos recordar aquilo que nos ensinou João Paulo II através das seguintes palavras : “ A palavra de Deus não se destina apenas a um povo ou só a uma época . De igual modo , também os enunciados dogmáticos formulam uma verdade permanente e definitiva, ainda que às vezes se possa notar neles a cultura do período em que foram definidos “ (João Paulo II : Encíclica Fides et ratio nº 95) . Conseqüentemente : “Quanto ao próprio significado das fórmulas dogmáticas , este permanece , na Igreja , sempre verdadeiro e coerente , mesmo quando se torna mais claro e melhor compreendido. Por isso , os fiéis devem rejeitar a opinião segundo a qual as fórmulas dogmáticas (ou uma parte delas) não podem manifestar exatamente a verdade , mas apenas aproximações variáveis que , de certa forma , não passam de deformações e alterações da mesma “ (Congregação para a Doutrina da Fé: Declaração Mysterium Ecclesiae , 5) .

No fim do parágrafo 6 de sua carta , o Sr. Fernando chega a insinuar que Bento XVI até poderia negar a perenidade dos dogmas (para tanto Sr. Fernando cita um antigo suposto texto do então Pe. Ratzinger) . Logo depois , meio impreciso em suas citações , o Sr. Fernando parece criticar a constituição divina da Igreja e a validade do Concílio de Trento .

Será que o Sr. teólogo Fernando não leu ao longo de sua vida) o quanto os Papas exaltaram a imutabilidade e a perenidade dos dogmas e a permanente validade dos 21 Concílios Ecumênicos ? Ora , um concílio nunca exclui um outro mais antigo e os 21 concílios permanecem como “pontos luminosos da história da Igreja” (segundo a expressão de João XIII) 4 .

No parágrafo 9-b , o Sr. Fernando diz que quando se produz Teologia Católica é preciso abrir o coração e a mente para todos os que pensam diferente . Contudo , resta saber que diferença é esta que ele pretende legitimar . Vale lembrar que as heresias , os cismas e as apostasias não são expressões legítimas de liberdade cristã . O pluralismo teológico só é legítimo na medida em que é salvaguardada a unidade da fé no seu significado objetivo . Portanto , não se pode admitir (em nome de uma suposta liberdade) uma diversidade de opiniões que chegue ao ponto de contrariar aquilo que a Igreja verdadeiramente ensina em sua doutrina autorizada . Escrevendo sobre a unidade da fé, João XXIII nos diz : “ A Igreja Católica manda crer fiel e firmemente tudo o que Deus revelou , isto é , o que está contido na Sagrada Escritura e na Tradição tanto oral como escrita e , no decurso dos séculos , desde o tempo dos apóstolos foi estabelecido e definido pelos Sumos Pontífices e pelos legítimos Concílios Ecumênicos . Sempre que alguém se afastou desta verdade, a Igreja com a sua materna autoridade não deixou de o chamar repetidamente ao reto caminho . Pois sabe muito bem e defende que há uma só verdade e que não podem admitir-se “verdades” contrárias entre si ; faz sua a afirmação do Apóstolos das gentes : “Nada podereis contra a verdade , mas pela verdade “ (2Cor 13,8) . Há porém não poucos pontos em que a Igreja Católica deixa liberdade de discussão aos teólogos , porque se trata de coisas não de todo certas e também porque , como notava o celebérrimo escritor inglês , Cardeal Newman , tais disputas não quebram a unidade da Igreja , mas pelo contrário levam a maior e mais profunda inteligência dos dogmas , pois aplanam e tornam mais seguro o caminho para este conhecimento ; da oposição de várias sentenças sai sempre nova luz . Mas é preciso manter também a norma comum que , expressa com palavras diversas , se atribui a diferentes autores : nas coisas necessárias , unidade ; nas duvidosas , liberdade ; em todas , caridade “ (João XXIII : Encíclica Ad Petri Cathedram nº 37) .

Uma das tarefas do teólogo , é certamente a de interpretar corretamente os textos do Magistério , e para isso ele dispõe de regras hermenêuticas , entre as quais figura o princípio segundo o qual o ensinamento do Magistério - graças à assistência divina - vale mais que a argumentação , que às vezes é tomada de uma teologia particular , da qual ele se serve 5 .

Se a Santa Sé decidiu , de caso pensado , emitir uma censura contra as teses de alguém , resta a todos os fiéis acatar com absoluto respeito – interno e externo - esta decisão . Esta missão do Magistério é libertadora porque oferece (à própria pessoa censurada) a oportunidade de retomar o necessário vínculo da liberdade com a verdade . Além disso , “agindo dessa forma , o Magistério entende ser fiel à sua missão , porque defende o direito do Povo de Deus a receber a mensagem da Igreja na sua pureza e na sua integridade , e assim , a não ser perturbado por uma perigosa opinião particular “6.

Em relação à pessoa do Prof. Felipe Aquino , eu considero ele um bom homem e é inegável o grande mérito dele de expor incansavelmente a doutrina da Igreja através dos seus programas televisivos . Eu também reconheci que o Prof. Aquino foi infeliz ao citar aqueles bispos de maneira imprudente e mesmo indelicada . Contudo , ele agiu no calor da discussão e isso atenua (não justifica) o erro dele . Todos nós , às vezes , e sobretudo quando estamos indignados , cometemos excessos. Isso não significa que somos perversos ou malfeitores . O Prof . Aquino tem um passado honroso e todos sabem o quanto ele sempre foi fiel à Igreja . O que ele tenta combater na Teologia da Libertação é o lado do marxismo cujo problema fora condenado pela Santa Sé .

Por isso , eu escrevi ao Dom Joviano (Bispo de Ribeirão Preto) na tentativa de propor uma avaliação mais justa e ponderada , com a finalidade de não esquecermos os méritos do Prof. Felipe Aquino , que sempre lutou pela ortodoxia . Lutar pela ortodoxia não é uma mera opção pessoal entre outras tantas . Antes , é um dever de todos enquanto princípio de fé . Ser fiel à Igreja é um princípio de fé porque se baseia na própria vontade de Cristo que tanto a amou e se entregou por ela para santificá-la .

OBS > Segue agora a minha Carta ao Dom Joviano , a Carta do Sr. Fernando Altemeyer ao Prof. Felipe Aquino , e, por fim , um artigo que escrevi sobre as antigas e imutáveis definições conciliares .

Que Maria , Mãe de Deus e da Igreja , nos abençõe .

Respeitosamente e fraternalmente ,



Luís Eugênio Sanábio e Souza

ESCRITOR / Juiz de Fora - MG -

luissanabio@terra.com.br

NOTAS : 1 - João Paulo II : Encíclica Fides et ratio nº 96 ; 2 – Pio XII : Encíclica Humani generis nº 16 e 17 ; 3 - Pio XII : Encíclica Humani generis nº 21 ; 4 - João XXIII : Discurso na abertura solene do Concílio Vaticano II ; 5 - Instrução Donum veritatis nº 34 da Congregação para a Doutrina da Fé ; 6 - Instrução Donum veritatis nº 37 .



CONTINUA



CARTA ABERTA

ao Reverendíssimo Arcebispo Metropolitano

de Ribeirão Preto



Dom Joviano de Lima Júnior





Peço-lhe a benção .



Observei atentamente sua CARTA ABERTA dirigida ao Prof. Felipe Aquino da Rede Canção Nova (exposta no site da Arquidiocese de Ribeirão Preto e em outros locais) . Na referida carta , Vossa Reverendíssima respeitosamente critica o mencionado Prof. por ele ter associado o nome do memorável Dom Luciano P. M. de Almeida com os desvios da Teologia da Libertação . Esta associação do Prof. Felipe está presente no contexto de uma carta que ele havia enviado ao Revmo. Dom Pedro Casaldáliga . Nesta carta , o Prof. Felipe apresentou sua insatisfação diante da explícita oposição do Revmo. Casaldáliga à decisão da Sé Apostólica de censurar publicamente o teólogo espanhol Jon Sobrino .



Feitas estas considerações e em conformidade com o cânon 212§ 3 , ofereço-lhe aqui a minha seguinte opinião :



É verdade que devemos respeitar a memória de Dom Luciano , pois , independentemente do juízo que se faça a respeito de seu pensamento sobre aqueles desvios da Teologia da Libertação , ele foi um homem justo e nos deixou exemplos de amor pela Igreja . Neste sentido , creio

que o Prof. Felipe foi infeliz ao reduzir , ainda que involuntariamente , o nome de Dom Luciano à um mero suposto exemplo de heterodoxia . Diante deste erro , o próprio Prof. Felipe retratou-se e pediu perdão (esta retratação encontra-se no site dele : www.cleofas.com.br) .



Assim sendo , se por um lado foi justo protestar contra este imprudente juízo sobre Dom Luciano , por outro lado também deve-se reconhecer o mérito do Prof. Felipe Aquino ao opôr-se contra aquela atitude ilegítima e lamentável de Dom Casaldáliga de ter criticado a censura da Santa Sé . Esta censura (relativa ao Jon Sobrino) deve ser rigorosamente respeitada e acatada à luz dos cânones 360 , 361 e 754 do Direito Canônico , pois os documentos da Congregação para a Doutrina da Fé , aprovados expressamente pelo Papa , participam do magistério ordinário do sucessor de Pedro : (Paulo VI , Constit. apost. Regimini Ecclesiae universae nº 29-40 ; João Paulo II , Constit. apost. Pastor bonus art. 48-55 ) . Conseqüentemente , parece-me igualmente justo não ignorar a corajosa atitude do Prof. Felipe ao alertar para o fato de que “ na oposição aos ensinamentos dos Pastores , não se pode reconhecer uma legítima expressão da liberdade cristã nem da diversidade dos dons do Espírito” (João Paulo II : Enc. Veritatis splendor nº 113) . De fato , em várias oportunidades a Santa Sé tem chamado a atenção sobre os graves inconvenientes trazidos para a comunhão da Igreja por aqueles comportamentos de oposição sistemática , que chegam até mesmo a constituir-se em grupos organizados . Sabemos bem que a consciência subjetiva de um cristão (incluindo Bispo - como é o caso do Revmo. Dom Pedro Casaldáliga -) não constitui uma instância autônoma e exclusiva para julgar a validade de uma doutrina ou medida disciplinar apresentada pela Santa Sé (sobretudo quando expressamente aprovada pelo Sumo Pontífice) . Por isso , entendo que também devemos apresentar a todos nossa clara oposição às iniciativas daqueles

(clérigos ou leigos) que procuram menosprezar ou mesmo repudiar as decisões e diretrizes que nos chegam de Roma .



Obviamente nossa oposição deve ser acompanhada de caridade e mediante uma linguagem fraterna que não venha a lesar a unidade ou a paz eclesial . Neste caso em particular , entendo que não devemos simplesmente criticar o Prof. Aquino , pois ao lado de suas colocações menos felizes , ele também demonstrou coragem e fidelidade à Igreja ao opôr--se à heterodoxia . Façamos , portanto , um juízo mais justo e mais integral (não somente parcial) da atitude do Prof. Felipe Aquino .



Respeitosamente peço-lhe a benção .





Luís Eugênio Sanábio e Souza

ESCRITOR / Juiz de Fora –MG-





luissanabio@terra.com.br





CARTA DO TEÓLOGO SR. FERNANDO ALTEMEYER
AO PROF. FELIPE AQUINO



Sr. Felipe Aquino,

(com cópia ao Padre Jonas Abib, diretor presidente da Canção Nova),

Acuso recebimento de sua resposta ao email anterior por mim enviado.

Como o senhor confirma seu posicionamento, ideologia e indelicadezas, permito-me replicar.

Gostaria de apresentar pequena reflexão como teólogo católico que sou, na honra, disciplina eclesial e responsabilidade profissional e ética já por mais de vinte anos.

Eis meu comentário ao seu escrito pessoal:

1. Quanto à exclusividade da carta e sua divulgação creio que seja seu problema. Eu a recebi em uma lista da internet como já declarei para o senhor na missiva anterior. Como o senhor não é ingênuo deve saber que caiu na rede é peixe. Daí a responsabilidade maior de não escrever sem antes pensar e avaliar eticamente o grafado. Não fui eu quem violou sua correspondência, pois nem lhe conhecia e nunca o vi na Televisão. Procurei assim que recebi o texto certificar-me de que fora uma mentira ou falsificação. O senhor acaba de dizer-me que o que li é o que o senhor pensa. Liguei imediatamente para a Editora Cleofas que foi quem me disse que o melhor lugar para falar com o senhor seria a Canção Nova. Não fui eu quem errou de endereço. Foi a secretária de sua editora quem assim mo fez agir.

2. Quanto à Canção Nova fiz chegar formalmente meus protestos para a direção, para o padre Jonas Abib e para o conselho de bispos do Regional de Aparecida por conta da responsabilidade em manter em um programa de audiência nacional alguém com o pensamento heterodoxo que o senhor exprimiu nessa carta e pelo que soube de seus ouvintes condiz com o que o senhor proclama na TV. É lamentável que alguém tão grosseiro com bispos da Igreja tenha um programa de orientação de leigos em que a comunhão seja o critério fundamental. Faço novamente chegar ao Padre Jonas este novo texto para verificar a gravidade sectária de sua fala e o deserviço à Igreja.

3. Quanto aos bispos criticados de maneira grosseira pelo senhor, não li em nenhum lugar no texto nem em qualquer interlínea de seu site, nada em que o senhor expresse os méritos e valor daqueles. Ao contrário, o texto do senhor os calunia.

4. Quanto ao seu conceito de catequese creio que é preciso revê-lo, pois a catequese não se reduz ao espiritual. De fato ela nem parte do espiritual, parte da pessoa de Jesus Cristo o Filho de Deus vivo que é algo muito maior que a dimensão espiritual. Catequese é o eco do Evangelho e cada um dos bispos nominados foi mestre e doutor nas diferentes áreas da Teologia. Seria bom que o senhor lesse as obras fundamentais de dom Paulo Evaristo como tradutor de toda patristica greco-latina com destaque para a Didaqué. Lamento sua ignorância de fato tão reconhecido no meio teológico. Dom Paulo, dom Luciano e dom Adriano foram grandes mestres de teologia e catequetas excelentes em seus escritos e apologias da fé, na prática pastoral e de governo episcopal, como aliás compete ao bispo por direito apostólico e legislação canônica. Vale lembrar que dom Luciano tem tese de doutoramento em filosofia que foi considerada verdadeira obra prima do pensamento tomista e que eu espero que o senhor não a considere por isso como alguém desvirtuado da direção espiritual que o senhor considera certa. Sua verdade não é a verdade da Igreja. Espero que o senhor possa ler o texto de dom Luciano ou qualquer de seus artigos na Folha de São Paulo, embora a tese seja de grande complexidade intelectual. Depois disso poderá pronunciar-se e não cair nas veleidades como as que o senhor pronunciou em vão.

5. Quanto a sua teologia do Espírito, só posso lamentar a superficialidade explícita. Sua idéia de que Deus “retira pessoas do palco” não é infantil, é macabra! Esse não é o Deus cristão, nem poderia ser expressão carismática do Ressuscitado.

6. Quanto às seitas, vale ler o livro chamado: Atlas da Filiação religiosa no Brasil, editado pela PUC-Rio e Edições Loyola para ver que o lugar onde houve a maior evasão de católicos para igrejas pentecostais não foi exatamente nas igrejas pastoreadas por bispos progressistas, como os citados pelo senhor, mas exatamente na Arquidiocese do Rio de Janeiro, que sempre se opôs ferreamente à Teologia da Libertação. Esta visão de ligar TL à perda de fiéis além de simplista é bem equivocada. Os cientistas sociais e os estudiosos da religião não a comprovam metodologicamente. Os fatores que levaram ao abandono de 600 mil fiéis ao ano da Igreja Católica estão mais ligados à urbanização do que a politização dos discursos. Vale estudar mais profundamente para não fazer um falso diagnóstico. Além de desonesto faltaria com a verdade que lhe é tão cara. Incorre-se em ideologia.

7. Quanto a Teologia da Libertação propriamente dita lembro-me de que o mesmo Papa Bento XVI escrevera documento aprovando a Teologia da Libertação e que o bem-aventurado Santo Padre João Paulo II sempre crítico de determinadas correntes dessa teologia, chega a chamá-la em texto ao episcopado brasileiro de "oportuna e necessária". Por que o senhor não leu também esses textos antes de assustar-se com outros textos e outros comentaristas europeus. Teria vencido seu temor superficial e panfletário. Valeria estudar a obra dos pensadores Metz, Rahner e de Bruno Forte que entre tantos outros criticam a teologia da libertação com objetividade.

Vale ler um texto complexo do Papa Bento, ainda como padre Ratzinger em que também ele questiona a perenidade dos dogmas. Cuidado para não assustar-se com o texto lúcido do jovem teólogo alemão. Quanto ao debate referente à instituição divina da Igreja, leia os textos clássicos de qualquer manual de teologia pós-conciliar que são transparentes e de si só auto-explicativos. Creio que pelo que o senhor escreveu o senhor ainda não tenha tido tempo de ler a Encíclica Ecclesiam Suam e a Constituição Dogmática Lumen Gentium. Seu texto parece estar preso ainda ao pensamento tridentino e à uma visão belarminiana.

8. Dizer que nossos bispos proféticos eram heróicos, de boas intenções e que podem estar no inferno é grosseria de sua parte. Quem não está consigo é demonizado. Que é isso? Não é salutar nem católico.

9. Quanto à correta interpretação dos dogmas é instrutivo ao debate suscitado pela Notificação romana quanto à obra de Jon Sobrino que suscitou a carta de dom Pedro e sua raivosa resposta, relembrar serenamente a Declaração Mysterium Ecclesiae, da mesma Congregação para a Doutrina da Fé (1973), que defende a reformabilidade, ou melhor, a necessidade de reformar as fórmulas dogmáticas consideradas infalíveis. Ali se atribuía a cinco razões a necessidade de um trabalho teológico que dê forma nova a expressões dogmáticas do passado:

1. a força expressiva da língua utilizada não é a mesma quando se muda época ou contexto;

2. nenhuma fórmula é, indefinidamente plena e perfeita na expressão da verdade: novas experiências de fé ou novos conhecimentos humanos exigem que se resolvam questões ou se descartem erros não previstos pela antiga fórmula;

3. toda fórmula dogmática se expressa via tipos de pensamento que acabam ultrapassados e podem impedir a compreensão do que outrora se conseguia dizer através dele;

4. as fórmulas têm de ser reformadas para que a verdade que veiculam seja e permaneça viva, enraizada na vida e em seus problemas;

5. por mais que uma verdade tenha sido bem compreendida através de uma fórmula, nosso crescimento e maturidade exigem, com o tempo (oportunidades/crises), mais clareza e plenitude." Osservatore Romano, em 24/06/1973, assinatura do Cardeal Prefeito F. Seper.

Se tiverem razão os redatores da Mysterium Ecclesiae, não se vê por que razão Pe. Sobrino estaria menosprezando “los pronunciamientos de los primeros concílios” ou sua qualidade eclesial quando os contextualiza.

Sugiro que o senhor o leia antes de aventurar-se por mares nunca dantes navegados. Sem bússola o navio afunda. Sem marinheiros não há capitão que possa navegar.

9b. Quando se produz teologia na Igreja Católica é preciso abrir a mente e o coração para todos que pensam diferente. O fechamento gera fundamentalismo. É possível ler isto claramente em suas linhas. Creio que lhe seria salutar ler os textos dos bipos ligados à TL mais que elogiar suas lutas. Seria bom conhecer a mística de dom Luciano e sua profundidade teologal. Isto supera em muito seu frágil corpo e suas inúmeras batalhas em favor dos índios, negros, mulheres e, sobretudo as crianças. Um menino de rua para dom Luciano sempre foi uma questão de fé e não mera questão politico-social

10. Para sua reflexão mais holística e menos fundamentalista, sugiro a leitura de renomado teólogo Joseph Ratzinger: “A doutrina da divindade de Jesus permaneceria intacta se Jesus procedesse de um casal cristão normal”. Cf. Ratzinger, J. Der christliche Glaube, 1968, p. 225 (Apud Von Balthasar, H.U. Puntos centrals de la fe, Madrid, BAC, 1985, p. 123).

11. Quanto a escamotear a verdade, gostaria de saber se a sua verdade pequena e pessoal, a minha também pequena e parcial ou a verdade de Cristo? Fiquei na dúvida, pois o seu texto não é nada claro ao usar como elemento probatório da verdade alguns poucos gestos executivos da Cúria Romana tais como a divisão burocratica da Arquidiocese de São Paulo em 1989 e a transferência em 1988 de dom Luciano de auxiliar de São Paulo para ser o arcebispo de Mariana, a arquidiocese primaz de toda Minas Gerais.

O senhor tem algum preconceito contra os mineiros? Os despreza? E Mariana é menos importante que Brasília? Dom Luciano foi um bispo tão importante que foi nomeado vice-presidente do CELAM. O próprio Papa se levantava para cumprimentá-lo quando dos sínodos dos bispos. O atual arcebispo recem-nomeado (D. Geraldo Lírio) afirmou que vai propor a canonização imediatamente de dom Luciano. Isso não lhe parece importante. Parece ser o senhor é quem tenha os critérios de poder e de jogo político que atribui como pecado aos Teólogos da libertação. Povo é povo de Deus em toda parte e um bispo é pastor e sucessor dos Apóstolos em qualquer diocese do mundo. Nas metrópoles ou no Timor. Nas capitais e no interior. O senhor devia saber essa noção crucial da igualdade e da dignidade episcopais para qualquer membro do colégio, incluindo o bispo de Roma. Isso está no Catecismo e na Christus Dominus. Quanto aos bispos nomeados para cidades numerosas ou capitais metropolitanas pelo anterior Sumo Pontífice a lista é imensa dos que são ligados a teologia da libertação: Dom Demétrio, dom Erwin, dom Aloisio, dom Angelico, dom Celso, dom Grecchi, para citar alguns exemplos recentes.

12. Quanto ao marxismo percebo que o senhor não conhece esse pensamento sociológico, que NÃO é a chave motora da Teologia da libertação, mas em algumas obras de alguns teólogos foi sua mediação socio-analitica e não hermenêutica. Em teologia isso se chama de aparato auxiliar. Houve tempo em que foi a filosofia quem foi a mediação. Inclusive a filosofia atéia de Aristóteles. Em outros tempos foi a história e a linguística. No último século a hermenêutica e as Ciências sociais e psicologicas tomaram seu lugar no diálogo da fé com a ciência. Negar isso é fazer má teologia. Como o senhor não é teólogo quiça não compreenda o que lhe digo. Basta falar com um profissional que lhe dirá o que digo. Não se canonizam os instrumentos. Usa-se, critica-se, supera-se. Mantendo-se fidelidade fundamental à palavra de Deus que é o coração de toda Teologia.

13. Quanto ao seu conceito de fora da lei, leia a Summa Theologica de Santo Tomás sobre hipoteca social e o uso comum dos bens. Aliás vale relembrar os textos de toda doutrina social tem textos de envergadura em Leão XIII, João XXIII, Paulo VI e particularmente a Enciclica Solicitudo Rei socialis do Papa João Paulo II. Não foi a Igreja quem inventou a luta de classes. Ela é fruto das injustiças sociais. Leia o pensamento do Beato Frederico Ozzanan. É fundamental para seu esclarecimento pessoal e teologico.

14. Quanto ao Papa opôr ‘Deus e pão’ leia o que ele disse em Manaus quando partia do Brasil em 1980:

"Todo o serviço, o ministério da Igreja tem sempre em vista contribuir para que a vida humana também aqui sobre a terra, se torne sempre mais digna do homem e é por isso que a palavra do Evangelho tem sempre como finalidade o bem de todas as sociedades e de todas as nações. Oh quanto eu desejaria que o meu serviço apostólico em terras brasileiras contribuisse para o bem de toda a vossa grande sociedade nacional, que a reforçasse e a tornasse sempre mais pátria comum de todos aqueles homens que abitam aqui por gerações sucessivas desde os inícios, e de todos aqueles outros que no correr dos tempos aqui encontraram as condições de vida, de existência (11/07/1980)".

Sr. Aquino, Deus é pão. Eis o mistério da fé. Fé eclesial e bíblica.

Permita-me dizer que pelo que o senhor escreve, com humildade, lhe digo: é o senhor quem está errando no caminho. Ao menos no da delicadeza e educação em tratar os prelados falecidos e que deram sua vida pelo Cristo em uma Igreja de liberdade, comunhão e participação.

Atenciosamente

Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior

Licenciado em filosofia

Bacharel e professor de teologia com missio canônica católica.

Mestre em Teologia e Ciencias da religiao pela Université Catholique de Louvain.

Doutor em Ciencias sociais - concentração sociologia pela PUC-SP.

CONTINUA



OBSERVAR NA PRÓXIMA PÁGINA O ARTIGO “DEUS-HOMEM” do Luís Eugênio Sanábio e Souza








Deus-Homem



Luís Eugênio Sanábio e Souza


Recentemente a Santa Sé reprovou certas teses do teólogo espanhol Jon Sobrino . Entre os desvios de Sobrino destaca-se a tentativa de disseminar dúvidas a respeito das afirmações do Novo Testamento sobre a divindade de Jesus Cristo . Apoiando-se nas Sagradas Escrituras , a Igreja denomina “Encarnação” o fato de Deus ter assumido uma natureza humana : “Id quod fuit remansit et quod non fuit assumpsit” = “Ele permaneceu o que era , assumiu o que não era” , canta a liturgia romana . Desde os primeiros séculos a Igreja afirmou , sem hesitação , que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem . O I Concílio de Nicéia , no ano 325 , declarou que Jesus é gerado , não criado , consubstancial ao Pai , isto é , um só Deus com Ele . Este Concílio condenou Ario , que afirmava que “Jesus veio do nada” e que ele seria “de uma substância diferente da do Pai” (arianismo) . Um homem chamado Nestório via em Cristo duas pessoas : uma pessoa humana unida a uma pessoa divina . Para ele Cristo não devia ser chamado de Deus-Homem , mas sim de Theophoro (traz Deus) . Em conseqüência disso a Virgem Maria devia ser chamada não mãe de Deus , mas apenas mãe do Cristo . Contra esta heresia (nestorianismo) São Cirilo de Alexandria e o Concílio de Éfeso , no ano 431 , definiram que as duas naturezas , divina e humana, estavam em Jesus Cristo unidas hipostaticamente , isto é , de maneira a constituírem apenas uma pessoa que reunia em si , não só os atributos da divindade , mas também os da humanidade . Este Concílio de Éfeso proclamou que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana de Deus no seu seio : Mãe de Deus , não porque Jesus tirou dela a sua natureza divina , mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional , unido ao qual , na sua pessoa , se diz que o Verbo nasceu segundo a carne . “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1,14) . A Igreja ensina que sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem , Cristo tem uma inteligência e uma vontade humanas , perfeitamente concordantes com e submetidas à sua inteligência e vontade divinas , que tem em comum com o Pai e o Espírito Santo . A vontade humana de Cristo segue a vontade divina , sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela , mas antes sendo subordinada a esta vontade todo- poderosa . A Igreja sempre reconheceu que , no corpo de Jesus , Deus que por natureza é invisível se tornou visível aos nossos olhos . Por isso o II Concílio de Nicéia no ano de 787 reconheceu como legítimo que Jesus seja representado em imagens sagradas . Por fim , lembremo-nos da firme definição do Concílio de Calcedônia realizado no ano de 451 : “Na linha dos Santos Padres , ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho , Nosso Senhor Jesus Cristo , o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade , o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem , composto de uma alma racional e de um corpo , consubstancial ao Pai segundo a divindade , consubstancial a nós segundo a humanidade , semelhante a nós em tudo , com exceção do pecado ; gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade , e nesses últimos dias , para nós e para nossa salvação , nascido da Virgem Maria , Mãe de Deus , segundo a humanidade ”.
Luís Eugênio Sanábio e Souza / ESCRITOR /

ESCRITOR : luissanabio@terra.com.br
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