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cronicas-->Histórias de apagões - Cássio -- 24/05/2001 - 08:35 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cássio tem meia idade, aquela idade que ninguém sabe exatamente quanto é. Ainda não é sessenta, mas também já não é trinta. Pode ser um quarentão conservado aparentando trinta e poucos, pode ser um trintão decaído aparentando cinquenta e poucos, pode ser um quarentão normal. Barrigas, carecas, papadas, olheiras, entradas e rugas atrapalham muito a avaliação. Está maduro, mas ainda cai nas conversas do governo. Talvez tenha algum parentesco com a Velhinha de Taubaté.

Falando da crise de energia, alguém disse na televisão que seria necessário um esforço de toda a população, que seria um desafio semelhante ao de uma guerra, tempos de privações e heroísmo. Tempos escuros. Quando ouviu isto tudo, Cássio fez cara de inteligente, disse que dessa vez não cairia nesta conversa, que nenhum governo seria louco ou burro de deixar o país no escuro, que nossos mananciais são inesgotáveis, que os investimentos em energia eram prioritários, que um país que tem Itaipú jamais ficaria sem energia, que isto, que aquilo. Pensou que talvez os comunistas estivessem de volta, espalhando boatos sinistros. Esperou dois dias e não se conteve. Acreditou.

Já que é verdade, melhor estar preparado. Apressou-se em comprar os equipamentos que julgava necessário para enfrentar o desafio, antes que subissem de preço ou desaparecessem das prateleiras, como sempre acontece. Velas, muitas velas. Caixas de isopor para conservar os salgadinhos congelados que sobraram da festa de quinze anos da filha. Enganou-se na encomenda e agora tem salgadinhos para três gerações. Há risco de perder tudo se tiver que desligar os congeladores. Só de coxinhas são mais de três. Comida, muita comida, dizem que nestas situações a fome é maior para compensar a angústia. Preferencialmente enlatados e itens que dispensem refrigeração. Lanternas de diferentes tamanhos, duas para cada membro da família e ainda um kit para hóspedes. Pilhas, rádio à pilha, TV à pilha e pilhas, pilhas e mais pilhas, a informação é muito importante, ele precisa estar atento às novas instruções do governo. Velas, mais velas, número oito, que duram mais. Ia comprar as de sete dias, aquelas gordinhas que ficam acesas por uma semana, mas logo notou que elas iluminam a alma, mas não a sala. O negócio delas é outro, ficam lá louvando, iluminando os corações. São mais para os anjos da guarda. Pensou melhor e comprou algumas destas também. Mandou restaurar um gerador de camping que ele não usava há mais de vinte anos. Estocou gasolina para o gerador, gás de cozinha e renovou a caixa de primeiros socorros - guerra é guerra, pensou.

Cássio se antecipou e comprou de tudo, tomou todas as providências, está pronto, preparado. Só não comprou aquelas bolotinhas vermelhas de colocar no nariz. Não que tenha esquecido, é que disseram que o governo ia distribuir.


Escrito em 22.05.2001
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