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Humor-->Quem poderá nos salvar ? -- 08/02/2002 - 18:14 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUEM PODERÁ NOS SALVAR?


Atrasildo mora no Brasil. É brasileiro. E no Brasil, como é sabido, a sociedade é dividida em classes sociais que vai de A até Z. Muita divisão de classes para poucas chances de ascensão social. Mas enfim, é esta a realidade. Atrasildo pertence a classe Média Baixa. Aquela que não consegue ficar melhor de vida, mas está sempre correndo o risco de passar para o segundo grupo. Tal qual acontece com os times de futebol e as escolas de samba no carnaval

Mas o Atrasildo herdou de seus pais uma espécie de maldição. Jamais conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos. Melhor dizendo, chega sempre atrasado um pouquinho atrasado em relação à última novidade. Não consegue participar, logo de início, do status quo e dos confortos que a tecnologia oferece. . E essa maldição vem de longe.Herança dos pais.

Tudo começou, para o Atrasildo, por ocasião da entrada da televisão no Brasil. Lá pelo início dos anos 60. Atrasildo, era ainda um jovem adolescente. Muito curioso, inteligente, insistente, e bastante esperançoso. Como, aliás, exceções raríssimas à parte, somos todos nós brasileiros; eternos inconformados, mas eternamente bem humorados.

Quando a televisão aqui chegou, com as cores preto e branco, o pai de Atrasildo, também da classe média baixa, não conseguiu, logo de imediato, adquirir um televisor. E toda à noitinha, ele e o Atrasildo iam para o vizinho, assistir, de favor, a televisão.

Atrasildo ficava encantado com as imagens e a fala que a telinha mostrava. Ele ainda não se preocupava com o conteúdo da programação. Ficava mais atento ao fenômeno tecnológico, em si. E o tempo foi passando, até que ele arranjou uma noiva e resolveu casar.

Como qualquer integrante de sua classe social, teve que alugar um vestido de noiva, pois não podia comprar a última moda disponível nas lojas. E desse modo entrou para o rol dos homens sérios. Sua noiva, como era moda, já iniciava os mesmos passos do Atrasildo: chegara um pouquinho atrasada na igreja. Mas Atrasildo já estava acostumado com todo tipo de atraso. Não se incomodou. Casaram-se e tiveram filhos. O suficiente para manter Atrasildo fora do contexto tecnológico. Seu dinheiro só dava mesmo para mantê-lo na classe média baixa. Assim mesmo, até que um novo plano econômico surgisse para empurra-lo, cada vez mais, para baixo.

As despesas eram grandes e, por isso mesmo, com os salários reduzidos, Atrasildo não conseguia acompanhar o avanço tecnológico. Na hora de consumir esta ou aquela novidade, chegava sempre um pouquinho atrasado. O celular foi do mesmo jeito. Só conseguiu comprar um quando o aparelho já era utilizado até por marginais dentro das cadeias.

Mas a lembrança da televisão não lhe saia da cabeça. Até que um dia, muito depois de quase todo mundo ter adquirido a sua televisão colorida, Atrasildo resolveu não tirar férias e, valendo-se do crediário, comprou sua televisão. Coisa recente. Foi em setembro de 1999, se não me engano. Houve até uma pequena festa de inauguração. Mas Atrasildo mudou até de fisionomia. Estava muito contente. Corria do trabalho direto para casa e, junto com a família, ligava a TV e assistia a todos os programas. Filmes, jornais, esportes, novelas, desenhos animados, filmes, jornais, esportes, desenhos animados. E quando ele já começava a enjoar da programação, novos programas que começaram a aparecer nas telas. Programas variados: Na banheira com Gugu,, Fantástico, Domingão do Faustão, Baú da Felicidade, Tudo por Dinheiro, Programa do Ratinho, Note e Anote até chegar novamente no Vale a Pena Ver de Novo. E a coisa foi esquentando. Atrasildo verificou que a televisão não era aquela coisa que ele sempre sonhara. Havia muita repetição de filmes e de programas. Até de novelas. O próprio noticiário jornalístico repetiam-se pelos canais, dando as mesmas notícias, como se os acontecimentos fossem únicos para todo mundo E no final de ano as retrospectivas, que mais pareciam cópias de anos anteriores. Aqui acolá um assunto tomava conta dos jornais por meses e meses, numa overdose insuportável, como aquela iniciada com a guerra do Afeganistão. E que ninguém, a rigor, sabe, até hoje, como acabou a guerra e qual foi o seu resultado em termos de paz.

Mas a coisa não ficou por aí. A televisão começou a “inovar”mais ainda. Na busca de audiência. E aí vieram as apelações. Nos jornais, a violência e a corrupção passaram a dominar a temática diária. Os filmes, por sua vez, faziam apologia ao erotismo, à banalização do sexo pelo sexo, à violência e à corrupção. . E os novos programas foram aparecendo: entrevistas com atores e atrizes, onde surgiam perguntas do tipo qual a cor de sua calcinha, qual a melhor posição para o sexo, e assim por diante. Receitas culinárias não faltavam. Feitas na hora. Como se todos os brasileiros tivessem condições de se alimentar todos os dias. Masoquismo explícito.

Outras vezes apelava-se para os palavrões, ao vivo; outras vezes para a desmoralização, para a humilhação, para o vexame de pessoas diversas, do tipo garotas e garotos de programas, que apresentavam nos programas suas razões para a vida que levavam. Brigas de casais, estelionatários bem sucedidos, crimes de colarinho branco, políticos mentirosos, também eram temas muito explorados. Até que chegou na Casa dos Artistas e, por fim, na sua versão mais moderna, o “Big Brother”.

Trancados dentro de uma casa, o casal de jovens demorou uma semana para fazer o que qualquer casal de adolescentes faz em dez minutos. Beijaram-se.. Depois, bem mais tarde, praticaram o sexo explícito. Fora de contexto. Todos de sunga, dentro de uma casa, com a fechadura escancarada para os olhos de todo o Brasil.

Havia, segundo a imprensa, um português, que ganhava a vida como go-go-boy em Paris, e uma atriz loura, de filme pornô. Outra senhora, que confessou ter gasto mais de R$4 mil só em calcinhas, para participar do programa. Contava, ainda, o programa, com um empresário e a top model Gisele Bundchen, que até agora não teria topado nada com nenhum dos parceiros. E tinha mais um quarentão, também segundo a imprensa, que teria sido liberado publicamente pela esposa, para atacar qualquer vulto bonito que aparecesse. O importante mesmo era o dinheiro. Ao inferno com a ética e a moral.

O primeiro eliminado foi o coroa quarentão, que tentou incorporar o personagem feito pelo Supla. Mas acabou sendo rejeitado pela galera. Um casal, Xaiane e Kleber, aparece, em momentos de intimidade, na rede e no edredon. Rolam por cima um do outro e houve-se o estalo de um beijo. Na orelha e que produziu muito barulho. Barulho que o rapaz não deixou por menos, reclamou.

Alessandra, que sonha em ser capa de Playboy demonstrava a toda hora preocupação com os seus fartos seios. De silicone, segundo os jornais. Um homosexual em cena imita Maria Bethânia. Não há roteiro. Não há, na verdade, nada que se aproveite.

Tem-se a impressão que aquelas pessoas não tiveram a oportunidade de uma boa educação, de uma boa leitura, tal a inexistência de uma boa conversa e de bons padrões culturais, suscetíveis num grupo que se reúne para interagir. M ais parecem um bando de bichos na jaula, grunhindo e fazendo sexo.

É como disse a grande imprensa: . “A Globo não conseguiu transformar o Big Brother num programa de TV. O programa não passa, portanto, de cenas de tédio grupal”.

Mas tenha calma Atrasildo. Resta-lhe ainda uma última esperança. Que vem da própria televisão. Basta você gritar bem alto: Quem poderá nos salvar ? Chapolin, é claro!...Pois não vejo saída a curto prazo para mais uma bobagem que está rendendo muito dinheiro neste país. A banalização está na moda. É a única possibilidade de ascensão social de que se dispõe, atualmente, neste País.

Domingos Oliveira Medeiros – Em, 08 de fevereiro de 2002






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