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Cronicas-->O Ducha -- 24/10/2013 - 14:23 (Brazílio) |
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Ducha talvez se chamasse Càndido, mas não é mais que uma suposição baseada no
fato de que u`a provecta dama da mesma cidade, já no entardecer de seus anos - que
beirariam a centena - chamada afetuosamente era de Canducha. Dedução esdrúxula,
ou esdruxa? Duxa pra lá.
Voltemos ao Ducha já já. Sapateiro. Como uma boa dúzia de confrades na Velha
Serrana, que tinha até o seu sapateiro-empreendedor, self-made shoemaker, que
havia transformado sua sapataria em fábrica de calçados. Santa Helena ela, e ele,
Ósto. Praquê escrever certo, da forma americana, se todo mundo ia falar mesmo Ósto?
Era Ósto e casado com a Preta do Pedro Valentim. Que de preta tinha a morenice
acentuadamente sapoti.
Mas e o Ducha? Chegava a ser amarelo. Não sei se condição hepática ou se daqueles
anos todos encafuado naqueles porões que outrora abrigaram uma fábrica de móveis
e, ultimamente se converteram em modesta sapataria. Mas, pensando bem, aquele
amarelão não podia ser só falta de sol. Afinal o Ducha era entusiasta do futebol
e não havia domingo a que faltasse a um jogo, ou treino que fosse. E costumava
acompanhar o seu querido Oito de Maio nas suas excursões em cidades vizinhas. E
torcia, se contorcia, palpitava e sua opinião se valorizava.
Não chegava a perder missa por causa do futebol. Mas estou certo de que pecasse
na cobiça das vitórias do time ou no esculacho que passava nos pobres juízes ou
adversários. E compensava tudo na confissà o regular das primeiras sextas feiras de
cada mês. De que era freguês.
Mas o resto era bater sola. E fazia manualmente os seus sapatos, com um par de
aprendizes mal-ajambrados. E era como ganhava a vida. Era tempo em que as
pessoas mandavam fazer sapatos. Contraforte, cabedal, atacador eram expressões do
dia a dia. Ainda que tanto sapato feio dali saía.
Lembra-me um par deles, feito sob encomenda para meu irmãozim, o Beu. Pra
enfrentar os pedregulhos no caminho da escola. Era uma miniatura de sapato de gente
grande. Caprichado, mas tortinho, mal-nivelado. Enquanto os pés ali entravam, o
sapato durava.
Das mãos de Ducha veio também meu par de chuteiras. Uma Nike flintstónica. Dura e
durável. Vai ver que é porisso que não fiz a carreira sonhada no esporte bretão.
Já o Beu não se queixava. Quebrou muita canela em pelada. |
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