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Teses_Monologos-->Exegese de Amos 7, 4-6 141102 -- 31/12/2004 - 22:18 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rodrigo Moreira Martins

Exegese de Amós 7,4-6

Londrina
2002

INTRODUÇÃO


O texto que nos deixou Amós é rico e profundo. Tentaremos verificar o quanto Deus é misericordioso para com seu povo. Ou, quanto vale um intercessor para Deus.
Em nossa pesquisa são apontados caminhos para o aprofundamento diante do contexto vivencial do profeta da Justiça. Veremos que esse mesmo contexto é ampliado e repetido por outras gerações, assim como a vida é explorada em prol de poucos.
A fúria de um Deus que vai queimar e destruir uma nação inteira é o campo central de atuação de nossas lentes. É caminhando sobre o fogo que vamos ter que lapidar nossas conclusões acerca da conduta do próprio homem. Contudo, esse fogo não é um fogo comum. Pode ser tanto um fogo purificador quanto algo que quer destruir, aniquilar. É o fogo do Deus vivo, que aquece corações e semeia vida; que arrasa países e declara morte aos injustos. É com esse fogo que trataremos na visão do Fogo Destruidor do Deus Vivo.
Com a força semântica de grandes ondas, temos palavras que se movem dentro de campos minados. A dialética que é apresentada mostra uma visão impressionante e aterradora: Deus convocará o fogo para destruir o que se conhecia por mundo na época – Ele destruiria a vida por completo!
Com habilidade de mestre, Amós nos deixa um dos mais belos textos de guerra e esperança, ira e misericórdia, existentes na Bíblia.
Assim, podemos vislumbrar o grande horizonte que nos espera e respirar o aroma que suscita nossa total atenção para a verificação da misericórdia do Deus Vivo na visão do Fogo Destruidor.

















1. TEXTO




O trabalho de tradução para uma exegese visa abordar o sentido do texto em seu contexto primeiro, buscando o significado do alvo primário. O texto de Am 7, 4-6, nos servirá como ponte para uma longa viagem. Vamos voltar no tempo, buscando várias facetas do contexto em que se desenvolveu esse texto e as influências sofridas por ele. Uma relação de troca muito interessante vai ser estudada. O método de tradução por equivalência dinâmica vai nos conduzir ao nosso objetivo, que é uma tradução mais vivencial para o contexto que será estudado.





1.1. Texto Original - Amós 7, 4-6



















1.2. Tradução


Desta maneira me fez contemplar O meu Senhor IAHWEH:
E eis (que) O meu Senhor IAHWEH
convocou um fogo para combater,
consumindo as grandes águas subterrâneas,
e também devorando os campos das pessoas.

Eu disse: meu Senhor IAHWEH,
por favor desista!
Como Jacó se manterá?
Ele é insignificante!

Por causa disso IAHWEH se arrependeu:
Também nada acontecerá, disse
O meu Senhor IAHWEH.


2. DELIMITAÇÃO


2.1. Elementos Lingüísticos


Seguindo a proposta exegética de Simian-Yofre , fundamentaremos o recorte do texto, da perícope, utilizando-nos para tal de critérios internos e externos ao texto.

Temos em estudo uma perícope que é parte de um conjunto de cinco visões . O texto em questão pode ser tido como uma perícope completa, considerando os seguintes critérios que o delimitam:

a) Expressão inicial e final

Temos um forte indício de início de perícope quando a expressão ynIa;r>hi hKo (apresentando a idéia de que “levou a ver/olhar”) aparece nos versículos 1; 4 e 7, mostrando clara distinção entre os começos nas perícopes.

Esta expressão mostrada acima também poderia justificar o final da perícope, contudo, outra expressão se repete nos versículos 3 e 6 hwIhy> yn"doa] rm;a hy
b) Mudança de Assunto

Apesar de continuar com a idéia de que o Senhor quer julgar e logo em seguida perdoa, o texto em questão traz uma mudança de instrumento de punição. Ele inicia um novo assunto apontando para a justificação que é feita pelo Senhor através do Fogo destruidor, enquanto que na perícope anterior (vv. 1-3) a justificação se deu por meio do Gafanhoto. Já na posterior (7, 7-9), é inserido o assunto/instrumento Prumo.

c) Mudança de Lugar

A primeira visão acontece mostrando o Senhor fazendo justiça nas ceifas do rei (v. 1), e na erva do campo (v. 2). A segunda visão acerca da descrição das calamidades, instrumentalizada pelo Fogo que devora , está sendo apresentada em relação às águas subterrâneas (v. 4), ou “grande abismo”, mostrando clara mudança de lugar. Com mais este indício fortalecemos nossos argumentos acerca da delimitação de Amós 7, 4-6.

d) Mudança de Tempo

O fato de na primeira visão acontecer a praga do gafanhoto e o Senhor perdoa-la dá a idéia de tempo passado, pois na segunda irá acontecer a justificação pelo Fogo destruidor. No v. 3 aparece a expressão “não acontecerá”, fechando o tempo para aquele julgamento, o que se repete no verso 6, dando-nos a idéia de movimento temporal.


2.2. Elementos Gráficos


a) Cesura

i. Na edição científica do Antigo Testamento Hebraico, observamos espaços em branco entre Amós 7,6 e 7,7.
ii. A letra hebraica Samekh (s) aparece indicando final de parágrafo entre o final da perícope em estudo com o texto posterior.



Finalmente, podemos dizer que temos coesão no texto, pois as idéias são ligadas verso após verso, dando continuidade e progressão ao texto; também é coerente, pois desenvolve um mesmo assunto: a Ira e a Misericórdia que foram empregadas por Deus perante o povo de Israel. Essas duas ligações servem para fortalecer a idéia de perícope entre os versos 4 a 6 do capítulo 7 de Amós.


3. ANÁLISE TEXTUAL


3.1. Análise Morfo-Estrutural


3.1.1. Gênero Literário

Gênero literário é uma abstração lingüística que permite associar na mesma categoria os textos que possuem forma literária semelhante. Determina-los é de particular importância no caso de textos que fazem parte do mundo cultural diferente do nosso.

Dentre os vários gêneros encontrados em Amós, a perícope Am 7, 4-6 é comumente classificada, por vários estudiosos, como “visão”.

Muitos especialistas acreditam que, para captar bem a mensagem de Amós, devemos começar sua leitura pelas cinco visões simbólicas, narradas em Am 7,1-3; 7, 4-6; 7, 7-9; 8, 1-3; 9, 1-4. Isto porque as visões constituiriam os sinais que o profeta percebe no cotidiano da vida e que simbolizam a situação da nação israelita.

Asurmendi vai falar de Am 7, 4-6 como a visão que descreve uma calamidade. Já S. Amsler argumenta que ela se enquadra no tempo da paciência. Antonio Bonora aprofunda nossos conhecimentos acerca das visões dizendo que

são experiências que muitos homens contemporâneos de Amós poderiam ter feito, contudo, para Amós, aqueles fatos transformam-se em símbolos do juízo divino, urgem violentamente para se tornarem proclamação na boca de Amós.

Segundo Burke O. Long , as narrativas de visões apresentam três elementos básicos: anúncio, transição e seqüência da visão. O anúncio, caracteristicamente, afirma que o visionário ‘vê’, e pode ser naturalmente expandido com a descrição de circunstâncias, ocasião e datas. A transição, ou desenvolvimento da narração e, por fim, temos a seqüência da visão, que segundo o autor, é um final que não é marcado normalmente por qualquer fórmula, contudo, há um inconfundível senso de finalidade.

Am 7, 4-6 enquadra-se nesta forma, visto que possui os seguintes elementos:

a) Verbo afirmando que o Senhor o fez contemplar (ver) v. 4a, o fogo destruidor vv. 4c-4e;
b) Transição é apresentada na forma de lamentação e intercessão vv. 5a – 5c;
c) A seqüência é dada com o sentido de finalidade apresentada no arrependimento de IAHWEH v. 6a, e em sua resolução em absolver Jacó v. 6b.

Assim, pode-se visualizar a perícope no seguinte esquema:


Divisões Amós 7, 4-6
Introdução 4a Desta maneira me fez contemplar
4b O meu Senhor IAHWEH:
Anúncio 4c E eis (que)
4d O meu Senhor IAHWEH
4e Convocou um fogo para combater,
4f Consumindo as grandes águas subterrâneas,
4g E também devorando os campos das pessoas.
Transição 5a Eu disse:
5b Meu Senhor IAHWEH, por favor desista!
5c Como Jacó se manterá?
5d Ele é insignificante!
Conseqüência 6a Por causa disso IAHWEH se arrependeu:
6b Também nada acontecerá,
Conclusão 6c disse O meu Senhor IAHWEH.



3.1.2. Estrutura Literária


A estruturação dos textos procura, na análise literária, familiarizar-nos com as disposições externas do seu conteúdo. Ela ainda não pressupõe um exame acurado desse conteúdo. Baseia suas descobertas unicamente na atenção concedida às partes exteriores do texto, ou seja, na sua disposição, subdivisão, realce e conexão.

Tendo como parâmetro a seqüência que é apresentada por Burke O. Long , as narrativas de visões apresentam três elementos básicos: anúncio, transição e conseqüência da visão.
Dividida em três partes principais, o Anúncio (4c-g) apresenta o conteúdo da visão – a destruição pelo Fogo; seguido pela Transição, que mostra a argumentação feita pelo Profeta para que poupasse a Jacó (5a-d); e a Conseqüência, apresentando o arrependimento como resposta ao apelo de Amós. Esse conteúdo está enfeixado pela Introdução (4a –b) e pela Conclusão (6c).
A introdução apresenta a narração em 3ª pessoa do singular da ação que se deu por meio da visão. Foi Deus quem conduziu o profeta a ver e, desta maneira, é também Ele quem está em primeiro plano nesta parte.

A conclusão continua na 3ªp.s. e é narrada dando a entender a finalização da ação, colocando IAHWEH como aquele que tem todo o domínio acerca das decisões tomadas durante o processo da visão.

O anúncio mostra a ação acontecendo pela 3ªp.s., tematizando a ira que IAHWEH sente em relação à situação, dando a noção da grande destruição que aconteceria v.4. A transição é feita na 1ªp.s., onde o profeta entra em ação intercessória. Agora é ele que está em primeiro plano, pois conduz a situação e argumenta como Jacó é insignificante v.5d. A conseqüência traz novamente a 3ªp.s. para o primeiro plano, onde IAHWEH toma a decisão de não destruir v.6b. Esquematicamente podemos visualizar a estrutura da perícope assim:



Divisões Amós 7, 4-6
Introdução
4a Desta maneira me fez contemplar
4b O meu Senhor IAHWEH:
Anúncio
Ênfase narrativa


Descrição da visão
4c E eis (que)
4d O meu Senhor IAHWEH

4e Convocou um fogo para combater,
4f Consumindo as grandes águas subterrâneas,
4g E também devorando os campos das pessoas.
Transição
Mudança de pessoa

Intervenção do Profeta

Argumentos
5a Eu disse:

5b Meu Senhor IAHWEH, por favor desista!

5c Como Jacó se manterá?
5d Ele é insignificante!
Conseqüência
Mudança de pessoa e situação

Suspensão da intervenção
6a Por causa disso IAHWEH se arrependeu:

6b Também nada acontecerá,
Conclusão 6c disse O meu Senhor IAHWEH.





3.1.3. Retórica e Estilística


A análise dos recursos retóricos e estilísticos de um determinado texto pode abranger uma vasta gama de elementos. Contudo, esta análise se limitará a evidenciar os seguintes aspectos: 3.1.3.1. Figuras de linguagem; 3.1.3.2. Outros procedimentos.


3.1.3.1. Figuras de linguagem


Entre as figuras de linguagem presentes no texto, destacam-se: a) metáfora – consiste em usar uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de semelhança entre o que elas representam; b) sinédoque – usa uma palavra com o significado de outra em vista de uma relação de contigüidade, de proximidade entre o que elas representam.

a) Metáfora: pode ser vista em (4a), onde Deus faz o profeta “contemplar”, que significa que deu a conhecer em forma de visão o juízo que sobreviria a Israel; e em (4e), onde convoca um Fogo, para consumir e devorar, que era a punição em si;

b) Sinédoque : a expressão Jacó (5c) é usada para significar o reino do Norte: Israel;


3.1.3.2. Outros procedimentos.


Entre outros procedimentos pode-se destacar: a) anáfora – repetição de uma palavra em espaços regulares durante o texto ; b) anacoluto – termo solto na frase, em vista de troca de uma construção sintática por outra ;


a) Anáfora: a expressão hwIhy> yn"doa (o meu Senhor IAHWEH) em 4b, 4d, 5b, 6c;

b) Anacoluto: a expressão “meu Senhor IAHWEH” (5b) é acrescentada em vista da construção discursiva característica do profeta, invocando respeito, demonstrando, assim, uma troca de construção sintática;


3.2. Análise Semântica


A semântica é a ciência que estuda o significado dos signos e da combinação de signos lingüísticos, ou seja, da relação entre forma e conteúdo, entre significante e significado, e isso nas palavras, nas frases e nos textos. A análise semântica de um texto procura responder à pergunta de que um determinado texto quer dizer e que coisa se quer dar a entender com determinadas expressões e frases utilizadas num texto.

Como podemos verificar, a semântica é o estudo do significado dos signos e a combinação destes. Contudo, cabe explicitar o que é o significado. Para isso, recorremos a um texto específico sobre semântica que nos aponta o seguinte caminho com base nos estudos de Wittgenstein:

o significado de uma palavra é o seu uso na língua [...] e só pode ser averiguado pelo estudo do seu uso, ou seja, é uma relação recíproca e reversível entre o nome e o sentido que dizem respeito ao significado múltiplo e às relações associativas entre palavras.

O critério usado nesta análise é, principalmente, o das relações entre as personagens e suas ações, buscando uma aproximação do significado dos signos empregados para um melhor entendimento do texto em estudo.

Apresentaremos três eixos semânticos, sendo que o eixo que se refere a Deus será dividido em duas partes. Os eixos serão os seguintes: o Deus que apresenta a1) ira e a2) arrependimento; a questão da b) intercessão feita por Amós; e o c) sujeito, que é Jacó, ou o reino do norte: Israel.

a1) No primeiro eixo semântico temos um Deus Irado disposto a destruir por meio do fogo, contudo, o signo fogo vae pode tanto significar julgamento/destruição, como no caso de Sodoma e Gomorra (Gn 19, 24), quanto purificação, como no caso do profeta Isaías, que viu a glória de Deus e foi purificado (Is 6) . Como indicar o significado? Seguiremos o eixo da ira de Deus que mostra as seguintes expressões:

brIl – demandar, contender, combater – O verbo assume um sentido jurídico-legal, tendo, estranhamente, Deus como sujeito. Visto que Deus, como criador, domina todas as coisas, mesmo as censuras têm um ar judicial[...]. Faz referencia ao processo divino contra Israel, por este ter quebrado a aliança. Certamente é um fato que a figura da “controvérsia” de Deus com Israel é apresentada em termos judiciais. Mas está aberto ao debate se o vocabulário da “ação judicial” é um aspecto intrínseco da fala profética, que se baseia no apelo a uma forma de aliança, ou se é uma figura de linguagem mais ampla, que se baseia na relação eterna de amor que Deus tem com o seu povo.

Este termo nos conduz para uma luta entre Deus e seu povo, mas ainda é necessário aprofundar mais para esclarecer se, de fato, este eixo semântico quer nos conduzir para o significado de destruição por parte do Deus irado. Vejamos este outro signo: lk comer, consumir, devorar – Sendo que a raiz lembra comida, e o termo comida é atribuído a um Deus que é Provedor (Gn 14,11; 1,29-30; 6,21; Ex 16, 15), poderíamos tender a apontar-lhe o significado de purificação, pois seria o oposto de destruição, contudo:

O sentido básico dessa raiz é consumir. O objeto consumido depende do sujeito. O consumir pode ter dois significados: 1) o de benção, quando indica adoração (2Cr 30,18; Ex 23, 15); prosperidade (Gn 45,18); recompensa (Am 7,12), 2) ou julgamento, quando os homens tornam-se o alimento do fogo (Ez 15,4-6; 21, 32[37]) e dos animais selvagens (Ez 34,5-8).

Logo, a partir dessas informações, verificamos que se tratam de signos que designam destruição, e não purificação.

b) No segundo eixo semântico, após a constatação de que Deus, estando irado, quer destruir o Reino do Norte, acontece a Intercessão por parte do Profeta. O termo ld;x] significa cessar, parar, desistir, deixar – na parábola das árvores em Jz 9,9 – 11- 13, significa “deixar” no sentido de desistir, abrir mão de algo . Contudo, em Am 7, 4, vemos que é o próprio Deus que faz o profeta contemplar :

ld;x], tendo este signo, que está no hifil, a força de “levar a sentir/conhecer/desfrutar”. Rã’a designa a aceitação da palavra de Deus tal como entregue por seus mensageiros designados. Esta aceitação envolve salvação, entendimento e fé. Em Is 6,10 “ver com os olhos” é ouvir a Palavra de Deus, entende-la e voltar-se para ele.

Verificamos, assim, que é o próprio Deus quem dirige essa intercessão, pois está no comando de todas as coisas, é Ele quem reina (Am 9,7). Temos, em seguida, o resultado dessa intercessão com base nos seguintes argumentos do próximo eixo semântico.

c) O Sujeito da visão é o povo escolhido – Israel – denominado no texto por Jacó bqo[]y:, que, quando empregado coletivamente refere-se às tribos de Israel. O termo ~AhT., que transmite a idéia de águas subterrâneas, é conectado com o verbo consumir para conotar a punição pela seca, que atingirá fatalmente nosso sujeito: o povo.

Vejamos um pouco mais acerca desse assunto: a água no contexto de Amós. O Dicionário Internacional de Teologia do A.T., (HARRIS, R. Laird (org), p. 1632) diz que não se pode saber que conceito os hebreus tinham da água subterrânea, mas que eles dominavam a técnica de cavar poços e encontrar fontes nos vales. Deste modo, no caso do Fogo consumidor acabar com essa água, uma grande seca aconteceria, visto que a água dos poços era de grande importância para o sistema de vida vigente na época.

Essa última idéia nos leva à próxima palavra, ql,xe – porção de terra/campo das pessoas, que demonstra com mais exatidão as preocupações do profeta com relação ao povo, e aumenta o seu poder de argumentação, pois:

no início do AT a palavra é usada com uma nuança técnica de porção de terra dada a todas as tribos, quando elas entraram na terra, nesse uso o termo faz paralelo com herança.

A vida do povo do reino de Israel estava em jogo. Eles, com certeza, não faziam frente ao Deus todo poderoso, pois eram insignificantes (!joq , com freqüência o “pequeno” é o fraco e o insignificante ) Contudo, além da questão da soberania de Deus, temos também a questão da defesa do pobre, do sofrido, das pessoas que viviam da roça, conforme comenta M. Schwantes em Profecia e Estado, p. 128:

[...] nas duas visões iniciais, só se fala da vida sofrida do agricultor, e aí a intercessão de Amós efetua suspensão das ameaças. As pessoas, às quais é concedida essa suspensão, não são designadas de “meu povo Israel” como aquelas, sobre as quais recai as ameaças. Elas são Jacó. E além disso são fracas e pequenas. Há, pois, uma diferença mui clara: os agraciados (os que obtiveram suspensão do castigo) são o fraco “Jacó”, enquanto que os ameaçados são “meu povo Israel”[...]

Finalmente, temos a argumentação completa de Amós contra um Deus que estava irado. A questão da insignificância de Jacó é de fundamental relevância para que o Deus irado se arrependa de sua pretensa destruição.

Temos, então, a continuação do primeiro eixo semântico.

1b) O arrependimento de IAHWEH - ~x;nI,

Um grande número de vezes traduz-se nifal de nhm por arrepender-se. A maioria desses casos refere-se à compaixão de Deus, não à do homem. As escrituras nos dizem que Deus se arrepende (Gn 6, 6-7; Ex 32,14; Jz 2,18), Ele abranda ou muda sua maneira de lidar com os homens de acordo com seus propósitos soberanos.


Esse arrependimento vem concretizado pela sentença: Nada acontecerá – que finaliza a visão, demonstrando que Deus é soberano e, é Ele quem decide todas as coisas, contudo, está disposto a mudar em função do fraco.

Concluindo, temos o seguinte esquema conectivo para os eixos propostos: Deus está irado com a liderança de seu povo escolhido, e ameaça destruí-lo com Fogo. Esta destruição vai acabar com todo o território do reino do norte, vai causar seca e fazer com que as pessoas percam a terra, a possessão que havia ganhado dos patriarcas. Amós intervém lembrando IAHWEH que o povo é quem realmente está sofrendo e vai sofrer ainda mais com a destruição pelo fogo, pois é insignificante perante a liderança. Deus se arrepende e retira sua ira como podemos ver no quadro abaixo:


Deus irado Amós Deus arrependido
Salvação
Jacó
Fogo Destruição




4. ANÁLISE CONTEXTUAL


4.1. Contexto Literário

Procuraremos apresentar uma maior aproximação do significado do texto, levando em conta seu contexto literário, que buscará demonstrar as ligações contextuais entre os textos “vizinhos” de nossa perícope.

Nosso caminho será orientado pelos eixos traçados na análise semântica, contidos na parte anterior. Temos no primeiro eixo um Deus irado, disposto a destruir pelo fogo, a consumir totalmente as fontes de sobrevivência do povo que Ele mesmo escolheu. O segundo eixo apresenta a intercessão feita pelo profeta Amós. Este servo é enviado pelo próprio Deus ao povo de Israel para servir de luz onde só havia trevas. É como um olhar externo num trabalho que, de tão intensamente manuseado por nós mesmos, apresenta erros imperceptíveis aos nossos olhos. Deus não é homem para enganar-se, Ele é justo. Finalmente, no terceiro eixo semântico, podemos verificar o motivo dessa querela: a injustiça que estava sendo cometida contra o povo (Jacó) de Deus.

A visão do fogo se apresenta logo após a da praga dos gafanhotos, ou seja, ambas sugerem destruição e ira por parte de Deus. Ao mesmo tempo, colocam Amós como intercessor do povo. A idéia é de possível destruição, entretanto, a intercessão feita pelo profeta nos apresenta o instrumento do Senhor (Am 7, 15; 5, 1) para uma chamada à atenção, tendo o povo como sujeito de toda ação. É com o povo designado por Jacó que Deus se preocupa. Pretendemos significar esse primeiro aspecto, apontando para um Deus irado com uma liderança cega, que manifesta sua misericórdia por causa do povo que sofre as conseqüências.

Nas duas primeiras visões (7,1-3. 4-46), ele intercede junto ao Senhor por seu povo. A palavra impeliu Amós a proclamar uma mensagem tanto mais dura quanto a situação social e religiosa parecia gloriosa e magnífica. Era preciso abrir os olhos de seus contemporâneos e denunciar suas ilusões: “o dia do Senhor será trevas e não luz” (5, 18-20).

Após essas duas visões significando o perdão, temos a do prumo, que é uma espécie de averiguação dos avisos dados até então.

A pregação de Amós é um “discurso engajado”, não mero exercício acadêmico ou oratória virtuosística. Mas o que Amós proclama não é uma nova ideologia ou praxe política, e sim as exigências do Deus de Israel. E este é um Deus para o homem, um Deus que pede justiça, igualdade, liberdade, dignidade para todos.

À medida que vamos estudando estas informações, percebemos um conjunto em movimento. Deus avisa seu povo das catástrofes iminentes, utiliza seu servo profeta para as intermediações por causa do povo fraco de Jacó. Nesta seqüência, o contexto nos mostra que os avisos não foram ouvidos e que o fim será terrível para todos. Ainda relembramos que Deus não queria destruir o povo, pois é Deus de Justiça e prima pela vida.

O Deus que castiga não é um demônio enfurecido, nem uma cólera irracional. Os castigos são a reação, igual e contrária, aos pecados. A violência selvagem e destruidora dos povos, a falta de compaixão fraterna, a pratica de cultos demoníacos voltam-se, com igual intensidade, contra aqueles povos.

Finalizando essa parte, temos na temática geral do livro o assunto morte. Deus apresenta, através de seu servo, as várias possibilidades de salvação: Buscai o bem e não o mal, para que vivais (Am 5,14), mas isto não é suficiente. Os oráculos e as ameaças desembocam no conjunto de visões que, de certo modo, resumem o contexto do livro. Como apresentamos, começam com um Deus irado que perdoa por intermédio do profeta. Equilibram-se numa “pausa” para averiguação do resultado e, assim como Asurmendi diz: “o ciclo das visões (7-9) desemboca no veredicto de Iahweh: ‘chegou o fim para meu povo, Israel’ (8, 1-3)”. Chegando ao se fim, descortinando o “Dia do Senhor” que, para surpresa do povo, não foi luz mas trevas, não a vida mas a morte.


4.2. Contexto Sócio-Histórico


No Contexto sócio-histórico apresentaremos a relação entre as informações do Sitz im Leben com os elementos que encontramos na perícope de Am 7, 4-6.

Seguindo sempre a temática apresentada pelos eixos semânticos já estudados, nossa tarefa debruça-se principalmente sobre o tema central do livro, seu autor, data, problemas tratados e o contexto de vida, com os quais tentaremos averiguar os assuntos já estudados e, conforme a oportunidade, aprofunda-los.

O Cabeçalho desse livro (Am 1,1), nos informa que Amós era um camponês de Técua (cerca de seis milhas ao Sul de Belém) e que exerceu atividade durante o reinado dos reis contemporâneos Ozias, de Judá, e Jeroboão II, de Israel. Como o seu ministério se instaurou claramente no apogeu da prosperidade de Israel, deve ter-se prolongado pelo reinado de Jeroboão II (783-743 a.C.), em outras palavras, em torno do ano de 750 a.C.

A maioria dos autores pesquisados apóia a data aproximada do séc. VIII a.C. para o contexto vivencial de Amós. Desse contexto podemos tirar as informações necessárias para nossa análise.

Um Israel forte, é o que podemos verificar neste contexto. Próspero pelas conquistas e controle das rotas comerciais que atravessavam seu território. O sistema administrativo adotado por Jeroboão foi aquele mesmo próspero e injusto de Salomão. À desintegração social somou-se a religiosa.

Nosso estudo começa a tomar forma apresentando-se com as cores da injustiça resultante da ganância da classe dominadora em Israel. O tema da injustiça vai permear todo o livro fazendo com que a maioria dos estudiosos aponte para ela como centro temático do Livro de Amós.

O livro de Amós confirma esse desenvolvimento e progresso, acompanhado de injustiças e contrastes sociais, corrupção do direito e fraude no comércio. A religião servia para tranqüilizar a consciência da classe dominante, fomentando o sentimento de superioridade em relação aos outros povos. A aliança com Deus tornou-se morta, celebrada no culto, mas sem qualquer influência na vida diária.

A partir dessas informações vemos que a situação vivencial em que se situa Amós é um paradoxo, pois se trata de uma época de prosperidade para uma minoria, e fome e injustiça para aqueles que realmente põem a mão no arado. Deus não está com os olhos vendados para tal situação, e atua através dos profetas julgando e corrigindo seu povo.

Os profetas representam um movimento de reforma cujo propósito era reavivar a memória da esquecida aliança sinaítica. [...] Todo o ataque profético está arraigado e fundado na tradição da aliança mosaica. [...] Yahweh atuaria contra seus súditos rebeldes como acusador e como juiz. [...] No século oitavo, o Estado de Israel, externamente forte, próspero e confiante no futuro, estava internamente corrompido e enfermo, mas longe de qualquer cura possível. (tradução própria)

Como vimos, os profetas atuavam como ferramentas nas mãos do Deus da justiça. Diante dos eixos levantados na análise semântica podemos perceber que a situação sócio-histórica contribui para uma aproximação e confirmação dos pressupostos ali levantados. Desta maneira Iahweh se levanta furioso para destruir um povo que se mostra injusto e opressor. Um povo que não sabe usufruir das regalias de um tempo que deveria ser de felicidade e benção para todos e não somente para uma minoria.

Ademais, temos a precisão do profeta Amós em relatar e interceder pelos oprimidos, pelos fracos. Ele diferencia e denomina a classe desprivilegiada de Jacó, com isso, intercede junto a Deus para a salvação do oprimido.

Finalmente, podemos verificar que o contexto sócio-histórico nos apresenta as causas e influências da situação em que viveu nosso profeta. É sem dúvida que Iahweh olha para seu povo, que é Ele quem faz justiça. Amós é apenas um instrumento nas mãos do Todo-Poderoso. Mais uma vez, vemos os representantes de Deus, institucionalizados pela ganância que é própria do ser humano, distorcerem a vontade e a justiça do Deus da vida, e apontarem para uma ação terrível no tão esperado Dia do Senhor.


5. SÍNTESE DO SIGNIFICADO


Podemos sintetizar o texto da seguinte maneira: Iahweh tem misericórdia do oprimido, mesmo estando irado. A liderança desse povo (reino do Norte), gananciosamente, comete injustiças para com a população rural, ou contra os trabalhadores que estão na base da pirâmide. Deus não pode suportar esse tipo de conduta e resolve destruir todo o povo.

Contudo, é o próprio Deus quem mostra ao profeta a situação crítica do reino do Norte, fazendo com que Amós se desloque de sua terra natal para profetizar e avisar sobre sua vontade àquele reino. Logo, é Iahweh quem está no total controle da situação, pois envia um homem do povo para que possa entender o contexto em que esse povo vive, e possa interceder de forma correta pela não destruição daqueles que estão sendo oprimidos.

Concluindo, percebemos um Deus preocupado em não destruir seu povo. Um Deus que demonstra compaixão para com aqueles que estão cegos esperando o Dia do Senhor com mais glórias e riquezas sem, no entanto, enxergar que não conseguem atender à necessidade de justiça e amor do Deus da vida. Iahweh se arrepende no final, também nada acontecerá, disse O meu senhor Iahweh (Am 7,6).






6. RELEITURA


6.1. Teológica

Em nossa releitura teológica não podemos deixar de mencionar o aroma de esperança que permeia nossa perícope. IAHWEH não é um deus qualquer, mas é o Deus que dá vida. Por isso faz diferença a intercessão feita pelo profeta: é esperança para o povo oprimido.

É patente na linguagem de Amós que os pobres eram explorados pelos ricos. Qualquer que seja a ideologia sócio-econômica, não se pode deixar passar desapercebido esse fato. A pobreza no Israel de Jeroboão II não era causada pela preguiça ou pelo sub-desenvolvimento, mas pela exploração de certos grupos sociais por outros, grupos exploradores que se aproveitaram muito bem da virada histórica ocorrida no reinado de Jeroboão II.

Entretanto, um aprofundamento se faz necessário neste ponto: a esperança toma rumos universais, pois Iahweh não é somente o Deus de Israel, o povo escolhido que espera o dia do Senhor para si próprio, mas é o Deus criador e mantenedor de tudo e todos. É assim que se apresenta o novo conteúdo teológico apontado por Amós.

Com a afirmação de que a história dos povos que atacavam Israel era o julgamento de Javé sobre esse povo, verifica-se decisiva universalização da ação de Deus. A experiência da ruína por obra das grandes potencias mundiais é compreendida como julgamento de Javé. Já em Amós esta ameaça histórica se torna universal: Deus julga tudo o que é injusto, mesmo nos povos que não conhecem a sua lei. [...] Ao morrer politicamente, Israel traz os povos para dentro da ação e do futuro de seu Deus. É precisamente assim que as ameaças e as promessas de Javé, referentes ao futuro, são tiradas de sua limitação histórica ao único povo de Deus e se tornam escatológicas.

Concluindo, nossa releitura teológica aponta para Iahweh preparando o caminho da universalização outrora proposta por Ele mesmo e esquecido pela ganância daqueles que ocuparam posições de liderança sobre seu povo. O povo escolhido deveria ser bênção a todas as nações e não somente desfrutar da condição privilegiada em benefício de alguns poucos.

A esperança é para aqueles que se encontram injustiçados, aqueles que não possuem a vida que estava destinada desde o princípio por aquele que é o criador da vida: O meu Senhor Iahweh.


6.2. Atualização

Em nossa situação vivencial, temos muitos profetas que se colocam a postos com Amasias, do Livro de Amós. Vivemos numa época que alguns chamam de pós-moderna, onde o discurso é a arma mais poderosa para a atuação nos meios sociais, e a misericórdia e a esperança são esquecidas.

Em nosso estudo exegético de Amós, percebemos o quanto ele sofreu por estar vivendo em uma época que não valorizava o ser humano em si. Apenas algumas pessoas gozavam dos frutos da nação. As bênçãos de Deus eram canalizadas para uma pequena parcela da sociedade. A institucionalização da religião, que andava de mãos dadas com o Estado, fez com que a situação piorasse. O que fazer diante do mal iminente?

Nossa reflexão se baseia em três caminhos para que o ser humano em geral, possa apreender a imensidão do amor de Deus.

Primeiramente, Deus é misericordioso e quer que todos façam parte de seu povo.

O povo escolhido, aquele que se tem por religioso, tende a pensar que é especial e separado. Não há nada de mal em se sentir especial, contudo, é necessário atentar para o infinito alcance do amor Deus.

É Deus quem fez todas as coisas; é Ele quem coordena todas as coisas, e somente com essas premissas podemos chegar mais perto de sua imensidão.

Em Am 7,4, é Deus quem faz o profeta contemplar a situação de injustiça em que está inserido o povo. É Iahweh quem anuncia a destruição através do fogo. E é o Deus da vida quem decide perdoar seu povo.
Deus abençoa seu povo, contudo, espera que todos façam parte dessas bênçãos. Não são bênçãos exclusivas, mesquinhas, pois Deus é infinito e sua misericórdia dura para sempre.

Em segundo lugar, Deus levanta pessoas para trabalhar em sua obra, a favor de seus princípios e, seu maior princípio é o amor justo.

Trabalhando conforme as orientações divinas, os profetas tentaram recolocar o povo e seus dirigentes na linha da antiga aliança sinaítica. Todas as nações deveriam ser abençoadas. Mas as lideranças que atuaram junto ao povo de Deus entenderam que Deus os queria ricos, soberbos, destruidores dos reinos em benefício próprio. Não contentes com essa mentalidade de destruição externa, sempre oprimiam o povo, o necessitado, desfigurando a aliança que Deus havia proposto, oprimindo internamente o povo de Deus.

Um dos principais requisitos para se trabalhar para o Deus da vida, é refletir a vida que vem de Deus. Também é ser justo e amoroso para com aqueles que não tem condições, sejam eles ricos ou pobres, negros ou brancos, judeus ou árabes. Amós, por exemplo, foi intercessor da classe oprimida.

É necessário ter em mente que Deus apresentou-se ao ser humano para salva-lo integralmente, e isto é para toda raça humana, sem exceções.

Assim, a misericórdia do Deus da vida faz diferença em meio a uma sociedade que se pauta por discursos frios e falaciosos. Disputas que atingem em nossos dias o mundo globalizado, mas se esquecem da diaconia ao vizinho que dorme na rua, se esquecem da esperança.

O trabalho sério para o Deus da vida requer vida em primeiro lugar, para que possa refleti-la aos outros. E nosso caminho é o amor justo com o qual Deus se nos apresentou não somente no intercessor Amós, mas também no Cristo que morreu na cruz, deixando o maior exemplo de amor com justiça: a misericórdia para a esperança de vida a todos.

Em terceiro e ultimo lugar, verificamos no texto de Amós que Iahweh é Deus de justiça.

Todas nossas ações se orientam por princípios que adquirimos durante a vida. É muito difícil perceber o sentido da vida dentro do contexto vivencial no qual atuamos.

Como dissemos no primeiro passo, Deus aponta para uma salvação universal para o ser humano através de sua misericórdia. Vimos também que Ele chama trabalhadores para atuar conforme seu amor justo. Mas é necessário notar que é a própria pessoa quem toma suas decisões.

No movimento apresentado pelo texto das visões que Deus deu a Amós, vemos que Iahweh abençoa, perdoa, verifica os resultados e, somente depois castiga. Nosso Deus justo, e não quer a destruição do ser humano.

As ações desse ser humano, que já foi por tantas vezes poupado por Deus, nem sempre são orientadas pela justiça demonstrada para com ele. Essas ações são mesquinhas, gananciosas, egoístas.

Aquilo que Amós disse no séc. VIII, ainda nos serve, pois há muitas pessoas necessitadas que precisam de nossa ação justa. E essa justiça só encontrará fundamento estável e eficaz no Deus da vida, aquele que é capaz de entregar seu filho para morrer/justificar o pecador.

Nosso contexto vivencial, apesar de pós-moderno, ainda carece de proximidade para com esse Deus que Amós apresentou. Ainda precisamos de sensibilidade para com nossas ações injustas. Precisamos olhar para justiça divina e verificar onde nossos pés estão trabalhando e onde nosso amor tem sido colocado, precisamos conhecer a misericórdia justa!
Encerrando, o Deus de Amós ainda aponta soberanamente nossos erros através de visões que insistimos em não ver. Ainda achamos que estamos no caminho certo, e que o Dia do Senhor será luz para nós. O ser humano acredita no deus que está em suas próprias mãos e dispensa aquele que interroga e exige justiça para o necessitado.
Será triste ver chegar O Dia do Senhor.
CONCLUSÃO


O livro de Amós faz com que reflitamos acerca dos problemas mais simples e, ao mesmo tempo, mais enraizados de nossa sociedade. É nele que verificamos o quanto somos egoístas por essência. E é neste livro que Deus nos faz contemplar o quanto somos pequenos e maus para com nosso próximo.

A reflexão segue contextualizando-se pela literatura, onde costumamos escrever sem atentar para nossa missão de anunciar a justiça e o amor. Escorre pela situação sócio-histórica de cada época, onde as diferentes posturas de pensamento e saber, fazem com que, mesmo com lentes diferenciadas, não enxerguemos a realidade requisitada pelo Deus Vivo e gritada pelos oprimidos que estão à nossa volta, ou melhor, sempre estiveram no ambiente humano.

O livro de Amós faz com que nos sintamos a escória que somos, pois mesmo tendo os mais variados sinais de que o mundo precisa da misericórdia e justiça de Deus, não atentamos para seu chamado.

A vida, que é prioridade para o grande criador e mantenedor de todas as coisas, toma assento como juíza da conduta dos desassossegados, que não conseguem viver sem manipular e extorquir os outros. Essa vida, durante o processo, torna-se réu e vítima, pois, no fim, quem perde é o próprio ser vivente, que morre.

Amós é assim: simples e profundo. Ele intercede pela vida que deveria ser percorrida em favor de todos, pois é misericórdia de Deus para todos. É a vida do próprio Deus sendo desperdiçada por sua criação e caindo nas garras do Fogo Destruidor.







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