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Teses_Monologos-->Fenomenologia da Religião 211102 -- 31/12/2004 - 22:13 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aluno: Rodrigo M.Martins 211102
Prof. Dr. Joaquim José de Moraes Neto

Prova Fenomenologia da Religião


A concepção de violência de R. Girard implica numa visão da religião que considera o conceito de mímesis. Faça a transposição de P. Tillich, com o conceito de revelação, para R. Girard, com sua tese do desejo mimético. Considere o argumento da tragédia grega para desenvolver o tema da revelação e religião em Tillich.


Para falarmos de conceitos tão complexos precisamos de um bom método. Logo, utilizaremos o da “fenomenologia crítica” (p. 96) proposto por Tillich, onde ele une o elemento intuitivo-descritivo com um elemento existencial-crítico pra descrever de forma normativa os sentidos espirituais. Sendo assim, a fenomenologia pretende superar as noções rasas, sem concreticidade, com uma generalidade vazia de sentido, dos conceitos, em nosso caso o de Revelação. Busca-se um conceito universalmente válido, como no caso da recepção de Jesus como o Cristo por Pedro (p. 96), ou seja, uma revelação especial com caráter infinito.
A revelação, para Tillich, “é uma manifestação especial e extraordinária que remove o véu de algo que está escondido de forma especial e extraordinária.” (p. 97) Contudo, a partir dessa definição, Tillich apresenta um novo conceito, que é o de algo “escondido”, ou oculto, algo que vai ser desenvolvido por ele como “mistério”, que se dará ligado à religião.
Muitas vezes o mistério é muito mal-compreendido, reduzido à outra dimensão, dessacralizado, e é por essa razão que vemos uma retomada violenta quando atentamos contra os conteúdos dos “cultos” misteriosos. Trair esses conteúdos é blasfêmia que deve ser expiada com a morte. (p. 96) Assim, define-se também o que ele entende por mistério, que é aquilo que não pode perder seu caráter misterioso, mesmo quando é revelado. Claro que aqui já percebemos uma contradição, mas é disto mesmo que Tillich fala, pois esta contradição faz parte da vida, é da essência do infinito que se revela, e está presente na religião e na teologia. Ou seja, o mistério tem um caráter de descobrimento infinito, que sempre se renova contraditoriamente, e é isso que provoca o ser humano na revelação. Ou, “o genuíno mistério aparece quando a razão é conduzida para além de si mesma, a seu fundamento e abismo, a aquilo que precede a razão ao fato de que ‘o ser é e o não-ser não é’” (p.98) parmenídico”.
Para aprofundamo-nos neste conceito, que é fundamental para a compreensão da revelação e suas relações com o desejo mimético de Girard, temos que verificar que, em virtude da contradição presente no conceito de mistério, ele possui duas “faces”, uma positiva e outra negativa. A negativa é impulsiona pelo não-ser, pelo estigma de finitude, pela ameaça de desaparecimento, é o que Tillich chama de “o elemento abismal no fundamento do ser”. E este lado negativo pode ser detectado tanto no indivíduo, com suas volições, quanto na comunidade, com sua sede de violência. Aqui se dá a revelação, pois é no vazio existencial que Deus pode ser experimentado. Já a face positiva do mistério provoca uma violência que procura suprir aquele vazio explanado anteriormente, “ele aparece como o poder de ser, conquistando o não-ser.” (p. 98) Assim, temos a finalização do mistério como essencial, o que nos leva a uma preocupação última, à que nos referimos em nossa introdução, pois dá base para um fundamento universal, válido como essência concreta presente na vida, mesmo que de modo contraditório em sua compreensão.
Em fim, o mistério revelado é de preocupação última para nós porque é o fundamento de nosso ser (p. 98), e também mistério essencial pois fundamenta o não-ser. “Revelação, como revelação do mistério que é nossa preocupação última é invariavelmente revelação para alguém numa situação concreta de preocupação.” (p. 99) Também “a revelação não é real sem o lado receptivo, e não é real sem o lado doador.”(p.99)
Para Girard, o homem é essencialmente religioso, por isso baseia sua tese na condição de Mímesis (imitação/cópia/repetição) do indivíduo em relação ao outro. Ocorre que o ser humano em particular, tem um processo de desenvolvimento de sua individualidade a partir da imitação dos outros de sua espécie e do desejo do desejo destes, isto é mímesis. Segundo Girard, esse é um fenômeno generalizado e tende a ser resolvido quando a violência recíproca se canaliza para um único foco central e elege entre todos uma vítima expiatória ocasional, que se converte no objeto de ódio de todos e passa a ser, por reconhecimento unânime, o bode expiatório.
Com a revelação de Cristo, que para Girard é uma espécie de bode expiatório com validez universal, o sacrifício que este realizou, pode ser relembrado de forma infinita, pois é essencialmente questão de preocupação última, e também um mistério essencial, com os conteúdos contraditórios que já foi desenvolvido anteriormente neste mesmo texto. Por isso podemos dizer que a vítima esvazia o espírito violento do indivíduo e também do coletivo, isto para Girard se denomina Interdito, onde a vítima inocente se torna maldita, contudo, após passar pelo Rito sacrificial, reconhecido por todos e onde todos se “satisfazem”, transforma-se num Mito, que pode ser exercitado/relembrado infinitamente, como no caso da Santa Ceia, que relembra o sacrifício vicário de Cristo e, justamente por isso, nos faz refletir sobre a necessidade de rever nossas atitudes em relação aos outros à nossa volta, perdoando-os, assim como antes tivemos que nos perdoar em virtude de uma consciência contraditória ante ao mistério essencial divinamente revelado em Cristo.
Finalmente, temos aqui a concepção do trágico grego, onde as questões miméticas revelavam, de forma educativa, para a sociedade, suas próprias carências e desejos, apresentando, assim, possibilidades de reabilitação individual e coletiva através da razão fundamentada na religião. Claro que o conceito de religião é colocado hermeneuticamente de modo errado, conquanto se se quer ver a força do divino em proposições humanas. É através deste contraste que as tragédias gregas levavam suas platéias a refletirem de modo consciente naquilo que estava sendo revelado, ou seja, que o ser humano é essencialmente egoísta, e deseja justamente aquilo que o outro possui, e que esse desejo gera violência. Violência não só vista pelos gregos, mas também pelo último dos mandamentos da tábua da Lei judaica, onde o Deus Javé ordena que não se cobice a mulher e os bens de seu próximo, reforçando assim, a tese girardiana, e corroborando com Tillich quando diz que a revelação é mistério com dupla face, logo, contraditória em sua essência, e justamente por essa característica é atribuída ao divino, como revelação.


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