Pai, mãe...
baixinho ou aos altos brados, tanto faz...
maria da graça almeida
Não conquistei a Matemática. Por muitos anos contei nos dedos e hoje sem mesmo recorrer a eles, calculo, sofrida, há quantos anos fui impedida de dizer: pai, mãe...
Já vivi mais sem meu pai, do que o período em que pude tê-lo; quanto à mãe, não a chamo há sete anos, a não ser em meus monólogos pálidos e inconformados.
Eram tão simples, tão corriqueiros os monossílabos,aos berros ou sussurros, e, de pronto,o atendimento do coração aberto, do amor descarado, imenso, intenso...
Não poderia imaginar o quão dolorido solicitá-los e como resposta...o silêncio. Nunca mais ouvirei: minha filha. Nunca mais direi: pai, mãe.
O nunca me assusta, perpetua a impotência
e convence-me da dependência, da fragilidade
e da carência do ser humano.
Pobres dos que, assim feito eu, descrêem de um outro mundo.
O ceticismo, frio, cruel, nega o conforto
da ilusão e da esperança do reencontro.
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