Voltas aos cines-teatros de antigamente (1)
Osvaldo André de Mello
Na obra-prima “Estrelas em sua coroa”, o dramaturgo divinopolitano Antônio
Franco explora a técnica de composição de vitral, para elaborar personagens, enredo,
trama, cenário, intercalando cacos da realidade e da imaginação. De vitral, porque a luz
que ilumina a tensão dramática é a das catedrais fechadas, em silêncio. Mas no texto há
um personagem que se constrói com um caco biográfico de Sebastião Pardini. Barrado,
num fim de semana, na portaria do Cine-Teatro Divinópolis, ainda de Itagiba de Souza,
por usar somente uma camisa social, sem o terno exigido pelas rígidas e glamorosas
regras da época. Pardini jurou então construir um cinema popular, em que o povo
pudesse entrar, vestido como bem entendesse.
Eu me lembro das grandes salas de cinema, a partir do final dos 50. O império
estava nas mãos de Sebastião Pardini: O Popular, o Divinópolis e o Arte-Ideal, última
aquisição. O fim dos 60 assistiu à inauguração do novo Cine-Teatro Alhambra, do
Acácio.
No meio fio do passeio, meninos e rapazes, expunham as pilhas de quadrinhos de
todos os gêneros, incluindo gibis e fotonovelas com Norma Bengell e Gabriele Tinti.
Para vendas e trocas.
Na entrada, compravam-se balas e guloseimas nas bombonieres, sem contar os
garotos que passavam na plateia com um tabuleiro preso ao pescoço e os carrinhos de
algodão-doce e pipoca na calçada defronte ao cinema.
Eu apreciei o footing nas casas do Pardini. Pelos corredores que quadriculavam a
plateia, entrava o público e se acomodava.
Como a luz ambiente fosse de penumbra, mesmo antes da exibição, no Alhambra,
mal iniciava a sessão, atuava o Nando Quadros como lanterninha.
Paralelamente, os rapazes, por vezes, em fila dupla, indo e vindo, passavam
pelos labirintos dos corredores, de olho nas moças, já bem assentadas, aguardando
a isca do flerte. Conforme a comunicação de olhares, ao começar o ritual da sessão,
discretamente, os rapazes se assentavam ao lado da garota flertada, e, de acordo com o
espírito da época, além de apertos de mão, rolavam beijos ousados e carícias libidinosas.
Especificamente, para isto, existiam as galerias, apelidadas “poleiros”, do Popular.
No Divinópolis, era uma atração esperar a entrada e apreciar o desfile, pelo corredor
central, do Alberto Fidélis de Melo, vestido em elegante terno de linho 130, com a bela
Nídia Gontijo, de costume claro, saia justa, meias de seda costuradas atrás, sapatos de
salto.
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