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Teses_Monologos-->Ética e Palavra de Deus 291102 -- 31/12/2004 - 22:11 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rodrigo Moreira Martins










Ética Gerada pela Palavra de Deus


























Londrina
2002

ÍNDICE


INTRODUÇÃO
I TEOLOGIA BÍBLICA 4
1 O DISCURSO ÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO..................................................... 4
1.1 No Êxodo............................................................................................................................. 4
1.2 Nos Profetas........................................................................................................................ 6
2 O DISCURSO ÉTICO NO NOVO TESTAMENTO.......................................................... 8
2.1 Em Jesus.............................................................................................................................. 9
2.2 Em Paulo............................................................................................................................. 12

II TEOLOGIA SISTEMÁTICA 14
2.1 PONTES ENTRE O REFERENCIAL ÉTICO HEBRAICO E O REFERENCIAL ÉTICO GREGO..................................................................................................................
14
2.2 O DISCURSO ÉTICO DA IGREJA PRIMITIVA............................................................. 15
2.3 O DISCURSO ÉTICO NA IGREJA ANTIGA................................................................... 16
2.4 O DISCURSO ÉTICO DA IDADE MÉDIA E DA REFORMA........................................ 18
2.5 O DISCURSO ÉTICO CONTEMPORÂNEO.................................................................... 20

III TEOLOGIA LATINO-AMERICANA 23
3.1 O CONTEXTO DA AÇÃO DISCURSIVA DA AMÉRICA LATINA............................. 23
3.2 O DISCURSO ÉTICO QUE É EMPREGADO NA AMÉRICA LATINA........................ 25
3.3 O REFERENCIAL ÉTICO DO DISCURSO BASEADO NA DEI VERBUM PARA A AMÉRICA LATINA........................................................................................................... 29

IV CONCLUSÃO..................................................................................................................... 31

V BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 34



INTRODUÇÃO

Nessa Monografia pretendemos ressaltar pressupostos ético-discursivos que remetam para a vida esperançosa, pois são realizados diante da ação refletida daqueles que são excluídos. Ou seja, qualquer pessoa ou classe que esteja sendo discriminada, pois sabemos que a comunicação está presente em todos os segmentos onde o humano vive.
A palavra Ética não aparece no Antigo Testamento nem no Novo Testamento. Essa idéia não é uma apresentada como um conjunto de regras ou conduta a serem seguidas, mas sim como vivencias determinadas pela própria vontade de Deus.
Estamos acostumados com a mentalidade ético-aristotélica fundamentada no hábito. Talvez essa concepção seja dada por causa da intenção do ser humano em apresentar um bem para si mesmo, baseando na sua própria razão a resposta para essa questão.
Já aqui podemos apontar uma das causas da distorção entre vontade divina e a ética discursiva aplicada pelos detentores do poder - o egoísmo - que posteriormente vai evoluir para toda forma de opressão e discriminação presentes na mentalidade humana, fechando as possibilidades de uma reflexão crítica que possibilite uma vida de esperança resultante da libertação curadora de um discurso ético baseado na vontade do Deus soberano. O próprio Jesus “denuncia as utilizações de Deus para encobrir a injustiça e autojustificar o egoísmo; denuncia uma fé em Deus que não está acompanhada da afirmação de seu reinado em suas relações com o próximo.”
É nesta perspectiva que pretendemos apontar alguns caminhos a serem seguidos por aqueles que desejam uma ação comunicativa fundamentada na Palavra de Deus geradora da vida esperançosa; promovedora de uma mudança ética que se orienta pela vontade divina inclusiva e exaladora do amor ao próximo.

A teologia se torna possível e atuante como teologia evangélica quando, no espelho e no eco da palavra profético-apostólica, o Deus do evangelho encontra-se também com ela: quando lhe acontecer que sua ação e sua palavra – como foram vistas e ouvidas pelo javista e eloísta, por Isaías e Jeremias, por Mateus, Paulo e João, e certamente também pelo autor dos Atos dos Apóstolos – no testemunho se tornem cognoscíveis também para ela, transformando-se em temário e problema também de seu raciocínio e discurso.

E é justamente nesta tensão entre validade e verdade que nos propomos a fazer a teologia do discurso, onde a análise do momento de transformação causada pelas conseqüências de um discurso tendencioso, pode revelar os desvios do verdadeiro propósito do Deus da vida que sempre opta por proporcionar esperança àqueles que sofrem.
Sabemos que o trabalho será árduo, porém o aprofundamento nas várias teologias e seus respectivos discursos, nos dará as ferramentas necessárias para uma averiguação mais precisa de como esse processo se deu. O contexto vai ser de fundamental valor para uma análise eficaz dos efeitos do discurso ético praticado nas várias épocas.
Tendo em vista que a ação comunicativa se dá através do processo de argumentação, e que estas “dão-se a conhecer como forma de reflexão do agir orientado para o entendimento mútuo” , todo discurso deveria promover algum tipo de entendimento, deveria dar lugar à voz do oprimido. Para HABERMAS, “no discurso argumentativo, mostram-se estruturas de uma situação de fala que está particularmente imunizada contra repressão e da desigualdade”.
Estes são argumentos para sustentar nossa tentativa de apontar os desvios que o discurso que vem sendo aplicado ao povo, como sendo discurso normativo de Deus, tendo a Palavra de Deus como instrumento de verdade para validar as ideologias excludentes que só interessam aos poderosos e opressores que se mostram na história.
Também devemos levar em conta a questão de que no meio ético-teológico há sempre um ingrediente a mais, que faz importante diferença entre a orientação filosófica da teológica: é a fé. Assim, citamos BARTH para nos ajudar em relação à questão da validade das Escrituras como pressuposto de verdade para nossa ética discursiva:

Entre a fé e o testemunho da comunidade se levanta o problema da compreensão autêntica da palavra na qual sua fé se baseia, o problema do raciocínio autêntico e da maneira autêntica de dar expressão a essa palavra. [...] O que está em jogo é a pergunta pela verdade. Não esqueçamos: a pergunta pela verdade não se coloca à comunidade a partir de fora, em nome e por autoridade de qualquer norma geral ou considerada de validade geral (é que a comunidade se deixou sugerir amplamente nos tempos modernos). Ela lhe é colocada a partir de dentro, ou melhor, a partir de cima, da palavra de Deus na qual ela própria e sua fé se fundamentam. [...] A pergunta pela verdade é: se a comunidade compreende corretamente a palavra proclamada em e com todo esse evento como sendo a verdade, se a compreende em sua pureza, na sinceridade que lhe é adequada, se reflete profundamente sobre ela e a expressa em termos claros, portanto se é capaz de dar o seu testemunho “de segunda ordem” com responsabilidade e de boa consciência?

O discurso ético só acontece quando há oportunidade de argumentação com consciência crítica, ou seja, quando o detentor da “palavra de Deus” ouve e faz sua teologia a partir do povo. Esta posição encontra segurança naquilo que diz o já citado filósofo alemão:

[...] os sujeitos que agem comunicativamente, ao se entenderem uns com os outros no mundo, também se orientam por pretensões de validez assertóricas e normativas. Por isso, não existe nenhuma forma de vida sócio-cultural que não esteja pelo menos implicitamente orientada para o prosseguimento do agir comunicativo com meios argumentativos [...]

Logo, as teologias que foram feitas a partir de discursos ideologizados, não podem pretender a validez de suas afirmações, mesmo fundamentadas na verdade que está inserida na Palavra de Deus. Talvez seja esse o grande problema de nossa ética cristã. No caso da verdade apresentada pelo discurso ético que a religião produz, temos grande empresa a realizar, pois estamos engessados e ultrapassados em relação ao Deus da vida, que desde os primórdios da civilização, interage com seu povo.
Em fim, diante de uma ética do discurso aplicada às situações vivenciais, vemos que a Palavra de Deus é recurso imprescindível para uma fundamentação válida da ação comunicativa. Sendo assim, temos que verificar a teologia que é praticada pelos comunicadores desta palavra que é verdade divina geradora de vida.












I – TEOLOGIA BÍBLICA

1. O DISCURSO ÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO

Ralph L. Smith vai dedicar um capítulo inteiro de sua teologia do AT só para falar de ética. Assunto que, segundo ele, muitos outros trataram rasamente por motivo da grande dificuldade de delimitar tal conceito na Bíblia. Contudo, aponta a soberania de Deus como fundamento ético para uma vida reta . Onde é o próprio Deus quem revela à pessoa aquilo que deve ser seguido, vivenciado. Finaliza dizendo que tudo converge para o: “ama ao Senhor teu Deus de todo teu coração e ao próximo como a ti mesmo”. (Dt 6,5; Lv 19,18)
Ao estudarmos o AT e sua ética, tanto no êxodo, com Moisés, como nos profetas, com Amós, percebemos que o discurso ali empregado visava apreender o chamado de Deus para um povo sem esperança, sem vida. Contudo, desde os tempos mais remotos este discurso se conforma de acordo com a necessidade de poder daqueles que lideram o povo. O modelo ético que Deus apresentou no Êxodo foi o da liberdade para servi-lo e adorá-lo, e é nessa perspectiva que o discurso da Esperança é lançado aos oprimidos. Um discurso que promove vida, pois remete a um referencial que se fundamenta no autor da vida e suas ações frente às necessidades do ser humano.

1.1 No Êxodo

“Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto” (Ex 5,1), este é o chamado de Deus para o povo oprimido. Este é o discurso que Moisés apresenta a eles por causa da ordem divina. Nesta ordem está implícita a carga de esperança para aqueles que não vislumbravam saída.
Estamos ainda refletindo sobre a situação do povo para com o “Rei opressor” . Sabemos que esse rei representa um modelo de egoísmo, onde seu poder observa seus interesses, fazendo com que os que não têm opção, careçam de esperança. Entretanto é mister aprofundar as investidas contra este sistema de discurso ético onde o rei se defende com a seguinte alegação: “Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. Eia, usemos de astúcia para com ele, para que não se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos inimigos, peleje contra nós e saia da terra.” (Ex 1,9-10)
Os reis sabem intuitivamente, que a decepção, os falsos clamores de prosperidade, a opressão, a situação religiosa, tudo entrará em colapso quando o ar da Aliança os atingir. O enigma e ao mesmo tempo, a intuição da fé bíblica é o conhecimento de que somente a mágoa leva à alegria, somente a angústia leva à vida e finalmente que a aceitação dos fins é que permite novos começos. [..] A comunidade alternativa sabe perfeitamente que não é necessário entregar-se à ilusão. Ela pode estar solidária com a morte e são estes os únicos que têm esperança.

A situação é de extremo caos, mas mesmo assim Deus chama o povo para celebrar no deserto. Faraó, que possui o discurso do rei, não permitirá até que Deus o force. No entanto, esse tempo de angústia para o povo entre o “deixa meu povo ir” e o “não deixarei”, faz com que a esperança tenha um sabor todo especial. É como se preparasse a terra para o plantio mais saudável, mais eficaz. É um discurso que conscientiza o povo de sua angústia e sofrimento colocando a esperança num prato de ouro, que deve ser buscado, que deve ser celebrado com todo o coração. Construindo assim, uma ética nova, um novo modo de viver: o da esperança.
Talvez esse tópico queira tratar de uma espécie de movimento circular que tem de ser cumprido para uma renovação de vida, ou seja, a conversão daqueles que dispõem dos meios do discurso ético, daqueles que são capazes de uma reflexão orientada pelo Deus libertador, daqueles que pretendem que o reino de Deus aqui, ainda embrionário, seja completo.
Deste modo, se coloca o choro frente à ilusão causada pela possessão e egoísmo presentes na mentalidade da realeza. O choro é ressaltado a partir de Moisés que enfrenta e posiciona-se contra o domínio faraônico e depois leva o povo a uma reflexão para a liberdade, apresentando uma realidade de esperança que nasce do contraste com a situação angustiante que era vivida no passado ilusório. A felicidade apresentada e imaginada pelos reis somente serve para o regozijo deles próprios, tanto Moisés como os profetas e posteriormente o próprio Jesus revelam que é necessário completar o círculo e avançar para a realidade nova que o reino de Deus apresenta. É a superação da situação presente através da negação investida de ação, ou o que passaremos a chamar de ética discursiva/ação comunicativa.
Para isso, dizem eles, é necessário passar pelo choro, pela angústia, ou melhor, pela cruz que nos leva a enxergar de modo único nossa vida e reconhecer que somos finitos. Além disso, levam-nos a aceitar essa finitude seguindo-se da celebração daquele que é infinito: IAHWEH. Pois só assim teremos plena liberdade para viver com esperança.
Essa vida esperançosa se apresenta como resultado de uma atuação consciente do povo em sua própria realidade. O discurso apresentado por quem detém a palavra, no caso Moisés, fez com que o povo tivesse oportunidade de gritar por esperança. Não uma esperança absurda e fora de seu contexto vivencial, mas algo que pudessem presenciar, realizando a ruptura na situação e colocando o ponto de vista daqueles que estavam sofrendo em pauta para a transformação necessária. É dessa esperança que estamos falando. É uma ética que transforma para a vida de esperança que apresentamos e defendemos. Algo possível para a realidade contextual de cada um, baseando sua força no discurso que leva em consideração não somente as palavras, mas também a situação sócio-política de cada comunidade.

1.2 Nos Profetas

A Questão continua a ser: o efeito da palavra de Deus utilizada pelos seus portadores enquanto ética discursiva. Nesta parte, acrescentaremos que no profetismo ainda é Deus quem é soberano, e é Ele quem anuncia através da boca dos seus escolhidos sua vontade que é justa e boa para a vivência em comunidade do ser humano. A voz daquele que É sempre provoca transformações. Entretanto, é justamente a compreensão dessa possibilidade de conversão por parte daqueles que dominam a massa através da proclamação dessa mensagem que faz a diferença no anúncio justo.

A segunda seção do cânon bíblico, os Profetas, trata primariamente da palavra que procede de Deus, enquanto a palavras dos profetas individuais são representadas no conjunto dos acontecimentos que as circundam. Qual é a significação da palavra de Deus no AT? É sobretudo a intercomunicação entre locutor e ouvinte e não tanto o conteúdo. É essencial que a palavra seja ouvida pelos homens visados e que provoque reação neles.

Depois que o Êxodo marcou profundamente a vida do povo que saiu do Egito, uma nova fase se iniciou. Deixaram de ser escravos para ser senhores. Conquistaram a “Terra Prometida” e neste momento, já faziam seus próprios escravos. Agora são os escravos que escravizam, fazendo-nos refletir se aquelas marcas, que se pensava profundas e relevantes, tiveram algum efeito real na conduta do povo, que depois de ser liberto, já não pensava mais na esperança como ética de vida. Pelo menos não na verdadeira esperança que Deus havia apresentado a eles.

O paradigma da imaginação profética é a formação de uma consciência que seja uma verdadeira alternativa diante da consciência do rei. [...] Mas, como observa David Noel Freendman, o que caracteriza o modo de ser de um profeta em Israel, é a poesia e a lírica. O profeta liga-se a uma fantasia futura. O profeta não se pergunta se sua visão pode ser efetivada, porque esta questão não tem importância, enquanto a visão não for imaginada. A imaginação deve vir antes da realização. Nossa cultura é capaz de realizar quase tudo, mas não imagina quase nada. A consciência do rei que torna possível tudo ou quase tudo é a mesma que reprime a imaginação porque esta é um perigo. É por isso que todo o regime totalitário tem medo do artista (Rubem Alves). A vocação do profeta é conservar viva a função da imaginação, conservar-se, relembrando e propondo futuras alternativas a cada um daqueles aos quais o rei quer persuadir de que uma única forma de vida é possível. Na realidade, a imaginação poética é a única maneira de desafiar e pôr a realidade dominante em conflito. (Grifo meu)

O fazer sem imaginação ou o repetir, lembra A revolução dos bichos de George Orwell, quando tudo torna ao começo opressor mesmo quando os porcos assumem o poder. A consciência alternativa/crítica pretende iluminar a pessoa/povo a pensar por si mesmos. Ela apresenta o sonho imaginativo como a saída para as situações mais diversas pois faz com que a realidade imposta seja questionada e, com essa leitura mais profunda, propõe o movimento que não é comum àqueles que sempre são dominados.
A leitura coerente da Palavra de Deus traduz-se em ética que gera vida, onde os discursos são verdadeiras ações comunicativas válidas justamente por proporcionarem vida aos necessitados. Propõe uma reação à consciência do rei que somente visa seu próprio ego. E é nessa alternativa que se encaminha uma ética de esperança. Pois somente quando podemos vislumbrar o futuro que nós mesmos ajudamos a construir com nossas reflexões, é que se apresenta liberdade e justiça.
Logo a seguir, veremos que a aceitação do fim humano é primordial para se compreender essa situação de escolha, ou livre arbítrio, conquanto se envolve num círculo para renascer juntamente com o reino de Deus.
Temos então seu foco desviado para um outro tipo de esperança, caracterizada muito bem por Amós no que ele chamou de “O Dia do Senhor”. “Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz. Não será, pois, o Dia do SENHOR trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade? (Am 5, 18-20)” A síndrome de realeza havia tomado a alma do povo escravo, do povo servo, daqueles que foram libertados para celebrar o Deus vivo. Já não mais pensavam em servir mas sim em escravizar. O discurso mudou totalmente e com ele, a ética do povo.


A pregação de Amós é um ‘discurso engajado’, não mero exercício acadêmico ou oratória virtuosística. Mas o que Amós proclama não é uma nova ideologia ou praxe política, e sim as exigências do Deus de Israel. E este é um Deus para o homem, um Deus que pede justiça, igualdade, liberdade, dignidade para todos.

A esperança que foi apresentada, foi esquecida, ou melhor, distorcida, pois agora esperavam mais alegrias do seu Senhor, contudo, não estavam cumprindo a ordem divina de celebrá-lo, fazendo com que a força centrípeta fosse maior que a ordem centrífuga de espalhar a esperança como povo escolhido e liberto por Deus. Essa conexão dinâmica aqui esboçada vai fazer emergir no Novo Testamento a consciência reflexiva/crítica necessária ao discurso esperançoso para o excluído.


2. O DISCURSO ÉTICO NO NOVO TESTAMENTO

A vida clama por esperança, que só pode ser apresentada por um modo de agir pautado no Deus que tudo efetua. As situações em que Ele age recebem nomes em favor de sua glória, que tem como conseqüência a vida. Sua palavra, a Bíblia, “existe em defesa da vida, principalmente da vida ameaçada, que tem na cruz de Cristo uma indicação clara para a percepção a partir da margem, um lugar hermenêutico privilegiado de definição da missão”. E é com essa mentalidade que pretendemos caminhar na elaboração da teologia no Novo Testamento, para que a ética da esperança seja apresentada como referencial válido para a nova vida que foi primeiramente dada por Deus e cumprida por Jesus Cristo, que nos traz outra vez a verdadeira esperança como regra de vida, como ética discursiva eficaz/válida.
Da mesma forma, é este autor da vida – Jesus - agora no Novo Testamento, que diz: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” (Mt 22,37-40)

O mais específico de Jesus é sua afirmação de que o reinado de Deus – que é de Deus, quer dizer, que responde a uma iniciativa divina – está ocorrendo com sua pessoa e atuação; que a esperada revelação definitiva está sendo realizada e a soberania e o poder de Deus estão se tornando presentes de uma maneira nova no mundo.

Só que em Jesus temos a concepção de Reino de Deus como resultado de uma ação comunicativa que transforma e cria uma tensão entre o já e o ainda não, pois se mostra escatológica. Gerando vida no presente para uma vida de esperança, mirando a plenitude em Cristo que, certamente, vivifica não somente a pessoa, mas também a comunidade onde está inserida e atuante com seu discurso ético. Esta mesma posição vai ser aplicada por Paulo em suas cartas e, conseqüentemente, à sua área de atuação frente aos gentios.

2.1 Em Jesus

A teologia do Antigo Testamento demonstra ter no anúncio sua história normativa básica, podendo servir como uma moldura de estudos bíblicos em qualquer futuro estudo de teologia. Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar a palavra de Deus, introduziram suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo: "assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que veio da parte do Senhor." No Novo Testamento, vários textos do Antigo Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss). E muitas leituras são feitas baseando-se no Antigo Testamento.
Na história da paixão o NT reproduz o Sl 22. Do grande número de citações depreende-se que a Igreja primitiva descobriu analogias interpretativas desde já como profecias e argumentos em favor de Jesus de Nazaré. [...] O grito de Jesus crucificado (Sl 22 = Mc 15,34 3 Mt 27, 46) interpreta perfeitamente o sentido geral deste salmo como prece. [...] Ecoando o mesmo grito, Jesus se solidariza com a sensação tenebrosa dos homens de seu povo. A dor expiatória é a dor da solidariedade com os que sofrem pelas gerações em fora. Ele morreu pelos padecentes e pelos pecadores. Mediador, certamente, mas também um dos muitos sofredores anônimos.

O próprio Cristo viveu num contexto veterotestamentário, por isso a necessidade de maior atenção às influencias do Antigo Testamento sobre seu discurso. Vimos na citação acima que o Novo Testamento contém várias inclusões hermenêuticas do Antigo Testamento. Poderíamos até aprofundar nossa idéia dizendo que a ética presente na cruz de Cristo reflete sua apreciação pela soberania de Deus e sua justiça. Entretanto, é Cristo quem completa e realiza a vida reta que é proposta por Deus, e nisto consiste seu discurso que liberta e conscientiza os sem voz ativa.
O sermão da montanha atesta esse cumprimento da Lei e dos Profetas: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.” (Mt 5, 17) É impressionante a clareza com que Jesus trata do tema da justiça nos versos seguintes do mesmo capítulo. Ele apresenta o aprofundamento daquilo que já estava instituído, porém distorcido pela palavra anunciada, pelo discurso ideologicamente moldado às necessidades dos dominantes.
Em relação à crítica ideológica, vemos que “é afirmação da diferença como um princípio que impossibilita leituras unívocas e singulares de textos, culturas, interesses e ideologias”. É o discurso reconduzido pelas leituras (masculinas brancas de hoje) que fogem à justiça vivenciada por Jesus na cruz. Pois ali Jesus viveu aquilo que pregava. Contudo, nosso trabalho é justamente apresentar uma leitura ética capaz de modificar a mentalidade do escravo, daquele que não tem consciência reflexiva. A ética discursiva apresentada na cruz promete liberdade, promete esperança.

Ora, seguramente Jesus não é um defensor do status quo. Está igualmente correto que de sua mensagem saem impulsos para a renovação também das relações interpessoais. Entretanto, suas promessas não são realizáveis somente no plano histórico, e sua escatologia não pode ser reduzida a um horizonte de expectativas puramente intramundano. O Reino de Deus não se torna realidade apenas onde os famintos são saciados e onde os que choram podem novamente rir (Lc 6, 21). Da salvação completa fazem parte, por isso, além da cura e da integridade corporal, a proximidade de Deus que é anunciada aos pobres é evidente (Mt 11, 4).

Na expressão ‘Salvação completa’ está uma carga de significação muito ampla, contém, além do convite e recebimento para o Reino de Deus, também a noção de liberdade, que proporciona a capacidade de pensar por si próprio, refletir sobre aquilo que está sendo dito diante de uma orientação baseada na Palavra de Deus. Ou seja, é uma ação comunicativa que gera vida, pois vida reta só encontramos orientados pela salvação em Cristo, que sempre é completa.
Afinal, qual o conteúdo caracterizado na cruz por Jesus? Ele foi o próprio sofredor ali. Ele encarnou os excluídos e discriminados e, através dessa atitude, nos reorientou a depender totalmente da voz de Deus.

Se nos conscientizarmos de que os primeiros cristãos ‘compreenderam não somente a ressurreição, mas também a morte de Jesus na cruz num sentido messiânico’, e de que eles ‘não tinham possibilidade de recorrer a uma imagem pronta do Messias sofredor, para transferi-la simplesmente a Jesus’ (E. Lohse), então se torna muito provável que os primeiros cristãos viram que Isaías 53 descrevia a morte do Messias ressurreto, Jesus, como uma ‘morte pelos nossos pecados’ e ‘para os muitos’ (v. 5s. 12). Partindo desse trecho, interpretaram essa morte como condizente com a vontade de Deus e como morte em favor dos pecados dos muitos.

Esse conteúdo se qualifica na vida que é resultado de um discurso ético positivo/válido; é a partir da reflexão conscientizadora daqueles que sofrem que se pauta as relações em que o discurso se torna ético. Pois, sarador de mentalidades ideologicamente moldadas, faz com que o sem opção possa ser liberto, possa ter vida proveniente do próprio Deus. É esse o conteúdo da cruz de Cristo: a liberdade daqueles que dela carecem, pois viveu, morreu e ressuscitou em favor de muitos e, não é justo que aqueles que deveriam apresentar sua mensagem ao povo, o façam de modo distorcido.
O fio condutor do discurso ético pautado na verdade de Jesus é a esperança vivencial transformadora do presente. É a ação comunicativa conscientizadora que produz vida digna. É nesta mesma relação dinâmica que Paulo vai fundamentar seu discurso ético, porque lhe é permitido ampliar o campo de ação comunicativa. Agora, a salvação vai atingir também, e com mais força, os gentios.

2.2 Em Paulo

Para Paulo a questão ética se aproxima da vida que Jesus apresentou, dando início ao Reino de Deus, pois “o evento salvífico introduz uma transformação vital, que abrange o existencial humano em seu ser e nas modalizações de sua projeção operativa (querer, saber e poder), capacitando-o para sua plena realização na história como sujeito responsável.”
Esse sujeito responsável deveria se mostrar na sua atuação ético-discursiva, pois “o indicativo salvífico é no crente algo real, mas ainda não plenamente atualizado, e por isso continua sendo imperativo ético.” Vemos aqui a ponte paulina entre uma teologia que está em tensão e a concretude da ação. É o já e o ainda não em ação que se mostram no discurso ético causador de vida. Logo, “se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.” (Rm 8, 11)
A posição de VERDES encontra apoio em SCHRAGE, pois “se se tentar fazer um resumo do conteúdo, dever-se-ia dizer que o agir salvífico escatológico de Deus em Jesus Cristo constitui o ponto de partida e a raiz também da ética paulina.”
Vemos também que a ética paulina é apresentada de forma racional, ele aponta para a razão como um pressuposto de diálogo e iniciativa de ação. Assim, o discurso ético para Paulo se pauta naquilo que Jesus deu início conforme a razão implícita de cada situação: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12,2)
VERDES segue dizendo que, para Paulo, é a mente de Cristo quem plasma as ações éticas dos convertidos, ou seja, daqueles que passaram por uma experiência real com o Cristo vivo e, justamente por isso, conseguem ultrapassar a prisão da Lei e sua rigidez. Assim sendo, vemos que não somente os oprimidos precisam dessa experiência, mas também aqueles que estão no poder.
Essa superação efetuada por Paulo leva o aprendente a uma ética discursiva convergente para a vida apresenta na Palavra de Deus. Leva, também, à necessária reflexão por parte daqueles que antes eram discriminados, e agora possuem a ótica proporcionada pelo Cristo que se manifestou através do discurso Paulino. Conseqüentemente, é este mesmo discurso ético que vai direcionar a caminhada comunicativa do aprendente em relação ao próximo.

Redescobrir o filão de Paulo implica um retorno à capacidade criativa do projeto ético cristão. Paulo não duvida em ameaçar com exclusão do reino dos céus os que cometem os delitos por ele censurados (Gl 5,21), mas o dinamismo pelo qual se orienta em seu discurso é o dos ‘frutos’ (Gl 5,22). Esta dimensão projetiva que o indicativo introduz no dinamismo ético não pode, contudo, ser identificada com o modelo grego de uma ética da perfeição baseada na capacidade do sujeito de amoldar-se de acordo com o ideal prefixado. O indicativo cristão destina-se a dotar de ‘competência’ o sujeito visando a realização do projeto ético pertinente. Mas a competência neste nível tem sua origem no Deus que ressuscitou Jesus (2Co 3,5; Rm 6,4). Por isso, o fruto definitivo da vida é por natureza ‘graça’ (charisma, Rm 6,23). (Grifo meu)

Paulo pressupõe a verdade da Palavra de Deus como validade para uma ação discursiva que proporciona vida, apresentando-se contextualmente nas conversões; resultando na expansão da igreja. Esses são os “frutos” de uma ação discursiva que promove reflexão para uma vida esperançosa.
O discurso que Paulo utilizou, apresentou pressupostos éticos conforme a vida de esperança apresentada na Palavra de Deus. Jesus, sendo a Palavra encarnada, discursa vivendo a ação comunicativa. Ele exalava e exala vida, enchendo as pessoas de esperança, contudo, quando é confrontado por pressupostos contrários à verdade e validade que se encontram na Palavra de Deus, não exita em apontar para a morte eminente daqueles que pretendem outro referencial ético. Da mesma forma acontece com Paulo em seus imperativos.
Assim, podemos ter na base bíblica os pressupostos para adentrarmos na Teologia Sistemática onde, com a ajuda de outros pensadores, tentaremos aprofundar nossas reflexões acerca da Ética Gerada pela Palavra de Deus.



II – TEOLOGIA SISTEMÁTICA

2.1 PONTES ENTRE O REFERENCIAL ÉTICO HEBRAICO E O REFERENCIAL ÉTICO GREGO


Como já vimos, o termo Ética não aparece no AT nem no NT, contudo, essa idéia é apresentada como vivências determinadas pela vontade de Deus. “A despeito da perversão de suas faculdades primitivas, que não lhe permite reconhecer claramente a vontade de Deus, o homem tem nele uma lei natural que exprime esta vontade”. É a partir dessa lei que podemos discernir entre o bem e o mal. No entanto, essa lei natural não é suficiente para que o ser humano se oriente em relação com o outro, mas é suficiente para que ele seja encaminhado à Lei divina.
Segue-se que Deus revela sua Lei a Moisés e, aqui já podemos colocar toda a Lei e os profetas que vigoraram até João (Mt 11,13), entretanto

Esta lei não foi dada ao povo de Israel como uma simples e mera lei moral, destinada a regular-lhes as relações sociais. Para que o homem decaído pudesse viver uma vida digna de sua vocação divina, não bastava oferecer-lhe um código moral. Impunha-se ainda abrir-lhe a senda da liberdade, conferindo-lhe a possibilidade de viver segundo Deus. E como Jesus Cristo, Só, era capaz de operar esta renovação no homem, a lei de Moisés era, desde o início, uma prefiguração da vinda do Messias: devia ela preparar os homens para encontrar-se com seu Salvador. (Grifo meu)

Logo, vemos que as relações entre os referenciais éticos presentes, tanto nos ambientes hebraicos, com a preparação para a vinda do messias e sua concepção comunitária, livre da metafísica grega, quanto os presentes nos ambientes influenciados pelo pensamento grego, apresentando Jesus Cristo como inaugurador do Reino de Deus e sendo também o fim da Lei, apontam para uma evolução do conceito de vida reta, ou ética, o qual prepara o ser humano para o encontro com o salvador, formando assim uma consciência esperançosa. Entretanto isso não quer dizer que não seja crítica.
Assim, partimos de uma moral comunitária, onde as relações discursivas se davam concretamente com a mediação de Deus presente na vida diária, para uma ética individualista, que coloca o mediador Jesus Cristo como alguém que reúne em si a realização de toda a Lei e os profetas. Essa passagem constrói o fator centrífugo, onde o Espírito Santo atuante no indivíduo faz com que ele se comporte frente aos demais de modo eqüitativo, respeitoso. Enfim, com uma vida prática concordante com seu discurso teórico: uma ética que gera vida.
A distinção feita aqui entre moral e ética, se encontra no nosso pensamento atual, pois é a partir desse lugar hermenêutico que sugerimos as pontes dessa parte de nosso estudo. Então, vemos que a evolução da situação vivencial (sitz in lebem) à qual o ser humano está submetido, esteve provocando a cisão entre indivíduo e sociedade; ética e política, e também fez com que o problema da distinção entre os termos Moral e Ética se avolumasse. Entretanto, esses dois termos vão acampar num mesmo terreno: o da ação humana, mas cada um com sua perspectiva própria.
A semântica paralela de Ética e Moral apresentou-se evoluindo e fundindo-se à medida que as épocas do pensamento foram progredindo, contudo, sempre designando o mesmo objeto, seja o costume socialmente considerado, seja o hábito do individuo de agir segundo o costume estabelecido e legitimado pela sociedade. [...] No entanto, é na época moderna que começamos a verificar uma distinção mais clara dos termos. Assim, o termo Moral reflui progressivamente para o terreno da práxis individual, enquanto o termo Ética viu ampliar-se seu campo de significação passando a abranger todos os aspectos da práxis social. (Grifos meus)

Enfim, temos uma teologia nova e dinâmica, pois apresenta o mediador Jesus Cristo como referencial de vida para aqueles que se revezam no diálogo acerca das coisas divinas. Essa é a principal ponte entre os referenciais hebraico e grego do discurso ético. É somente quando temos Cristo como orientador de nosso discurso que temos a possibilidade de atingir a meta de causar vida através de nossa ação discursiva.


2.2 O DISCURSO ÉTICO DA IGREJA PRIMITIVA

Depois de ter recuperado algumas pontes entre a evolução do referencial ético presente no contexto de nosso estudo, estaremos partindo para nossa análise dos discursos propriamente dita.
Muitas transformações sofreu o referencial ético durante os vários séculos que influenciou a sociedade humana. E é de suma importância estabelecer os pontos de relevância que brotaram de situações temporais expressivas. A situação em que se encontrava a Igreja primitiva é uma delas.
No ambiente da Igreja primitiva encontramos o discurso ético validado por uma presença muito próxima do grande mestre Jesus. Esse discurso apresentava-se como um recém-nascido, como uma criança que acaba de vir ao mundo. É um discurso validado pelo sentir interior proporcionado pelo Espírito Santo – o Consolador; é assim que se dá a ação comunicativa nesse período.
As institucionalizações ainda estão longe de ser realidade; tudo acontece “nas casas”, através da mais íntima comunhão; todos buscando a verdade em comum.
É um discurso livre de preconceitos, aquilo que chamamos hoje de pensamento romântico, pois aquele que tenta ressuscitar este modelo, corre grande risco de esbarrar nas ideologias cristalizadas através dos séculos.


[...] na Igreja primitiva tudo se concentrava na mensagem, no Evangelho, tal como fora proclamado na pregação apostólica, tanto como nos sacramentos. A Palavra como meio de graça significa para a fé cristã a autocomunicação do amor divino na forma de mensagem. Ela se manifesta como uma mensagem divina. [...] Se a Palavra como meio de graça tem o caráter de mensagem dirigida aos homens, deve-se sublinhar que tal mensagem é para a fé expressão direta da voz de Deus que fala aos homens. Não se trata de uma comunicação da vontade divina e salvadora mediante certos intermediários. É o próprio amor divino que age nessa mensagem e que na graça e no julgamento se aproxima do homem diretamente. É uma ‘voz do alto’. [...] A fé recebe a Palavra não ‘como palavra de homens, e, sim, como a palavra de Deus’ (1 Ts 2,13; Gl 1,11).

É o amor sendo vivido e comunicado ao outro como provindo do alto, de Deus. Contudo, logo após esse primeiro período, vimos os pais apostólicos , primeiros escritores pós-bíblicos, se sentirem donos de um precioso tesouro que precisava ser firmemente guardado. Então, dá-se início a uma espécie de conformismo cristão, ou fixação das idéias daquela geração tão criativa que foi a dos apóstolos.


2.3 O DISCURSO ÉTICO NA IGREJA ANTIGA

Já na Igreja Antiga, houve a grande necessidade da apologética, pois várias correntes de pensamento provindas do neoplatonismo, estavam influenciando o pensamento inicial do cristianismo.
Os apologistas escreviam com o objetivo de defender a fé cristã diante do mundo pagão exterior. Seu tema apologético fundamental era a apresentação do cristianismo como cumprimento da busca filosófica da verdade e a confirmação da filosofia grega como preparação para o evangelho.

Em nossa análise do discurso presente nesta época, apontamos para uma ética que reflete ainda a possibilidade de comunicação entre as partes. Pois, se se podia discutir questões de doutrina, é porque o discurso comunicativo era possível. No entanto, essas questões já se apresentavam com tonalidades teóricas, desprivilegiando as questões de vivência com relação à vida do povo, que deveria ser o foco e objetivo da ação discursiva que se propõe ética. A consciência livre começava a se tornar cativa e exclusiva de poucos, neste caso dos líderes religiosos.
Apesar de alguns autores romanos defenderem a caridade como “um dos pontos principais da parênese cristã da época patrística” , temos a clarificar que havia uma teologia não-acadêmica, que se voltava para a comunidade, entretanto, não é em nada parecida com a proposta dialogal presente na ética discursiva defendida neste estudo, pois para ter validade ética, é necessário que promova vida livre de incursões egoísticas, o que não acontece com esta época. Vejamos uma interessante nota de PEINADO:

Entre as constantes doutrinas que podem encontrar-se em nossos autores (os padres apostólicos) deve-se mencionar o rechaço do legalismo que caracteriza numerosas correntes do judaísmo. O centro se coloca na substancia interior da religião autêntica, no vinculo essencial entre a fé e a moral. A ética é preferencialmente religiosa, não se faz porém a análise da natureza humana; a moral é teocêntrica ou cristológica, e consiste em querer fazer o que Deus quer. Porém esse autores sabem bem que, se a palavra é o fundamento da moral, contudo é necessário o dom da graça, o qual exclui toda forma de farisaísmo (L. Vereecke, op. cit., p. 817). Por sua parte, os Padres Alexandrinos ‘tentam dar ao ensinamento da fé e da moral um fundamento não apenas escriturístico, mas também filosófico, quer estóico, quer platônico. Baseando-se nestes pressupostos, a moral consiste na imitação de Cristo, que é o pedagogo nas circunstâncias concretas da vida cotidiana’ (idem). [...] A cultura cristã se nutre da moral helenística, estóica e neoplatonica; porém com a mediação e o estudo da Escritura, confere a essa moral um importante e novo vigor.

Assim, vemos que as linhas de desenvolvimento do pensamento antigo na Igreja perpassaram o “discurso apologético dirigido ao mundo pagão de fora, o ataque polêmico voltado contra heresias dentro da Igreja e o interesse especulativo de construir um sistema que abranja a totalidade da verdade cristã.” E, além disso, as influências da filosofia da época, que apontava para uma metafísica, quer transcendente, quer imanente ao ser humano, faziam com que o referencial discursivo se desse sem levar em conta a questão da alteridade – do outro em quanto ser aprendente. Disso resulta um discurso que não dá oportunidade às pessoas que não tinham os privilégios da teoria da época.
Também é importante lembrar que neste período se deu a metamorfose do Império Romano, pois já nos dois primeiros séculos depois da morte de Cristo, viu-se enfraquecer com a sua enorme extensão e variedade de povos. Esse período de transformação atinge o cristianismo com o advento de Constantino , que promove a religião cristã às custas de um discurso político, tentando “salvar” o império através da ferramenta religiosa que deveria salvar vidas e não impérios. É a política do “Rei opressor” que somente visa seus interesses reapresentados novamente.

2.4 O DISCURSO ÉTICO DA IDADE MÉDIA E DA REFORMA

De uma teologia que, apesar de já estar indicando suas intenções puramente teóricas, no período pré-escolástico se manteve próxima às comunidades, a Escolástica se enclausurou na academia para desenvolver grandes tratados teológicos, esquecendo-se assim, da possibilidade do outro, ou seja, de uma ação através do discurso para se chegar à vida esperançosa em Jesus Cristo.

A autoridade e a razão constituíam o problema básico do escolasticismo. Qual era a autoridade medieval? Era a tradição substantiva sobre a qual se edificava toda a vida medieval. A autoridade residia, primeiramente, na tradição da igreja, expressa no reconhecimento dos pais da igreja, nos credos e concílios, e na Bíblia. [...] A razão apenas interpretava a tradição dada; não criava a tradição.

Como vimos, o discurso era totalmente desprovido de respeito das partes que argumentariam na relação intersubjetiva. Sendo assim, a Idade Média, por causa de sua ênfase na clausura do desenvolvimento da teologia e também da grande força da tradição, ou melhor, da ganância dos poderosos em manter esse poder, fez com que a ética de vida apresentada no início pelo Deus da vida fosse esquecida e abandonada, e juntamente com ela, a consciência crítica do povo.

A escolástica usava a razão para dar expressão à fé e à tradição. Anselmo de Cantuária formulou o princípio credo ut intelligam (creio para compreender). A fé e a tradição são os dados prévios; a razão e a teologia constituem um segundo passo, implicando interpretação e até especulação.

Na Reforma protestante, vimos uma retomada dos princípios éticos discursivos apresentados na Palavra de Deus, pois as orientações passaram da toda poderosa igreja, para as pessoas, que eram capacitadas a ter seu relacionamento tanto com o próprio Deus, quanto com seu próximo.

Lutero, enquanto monge, experimentaria a importância do monasticismo para a Igreja Romana. Dessa atitude monástica surgiu o padrão duplo de moralidade: os conselhos, para os que viviam mais perto de Deus, e as regras, para os outros. Os conselhos superiores para os monges, como o jejum, a disciplina, a humildade, o celibato etc., tornavam-nos ontologicamente superiores aos mortais comuns. Esse duplo padrão surgiu da situação histórica em que a igreja cresceu depressa demais. Pensava-se que as massas não poderiam assumir, como se dizia, o jugo de Cristo, demasiadamente pesado para elas. Então, um grupo especial tomou sobre si esses conselhos voltados para formas superiores de moral e piedade. Eram os religiosi, os que faziam da religião a vocação.

Lutero viu claramente a situação distorcida em que sua época estava vivendo e, sendo homem de clara consciência, deu o “ponta-pé” final naquilo que ficou conhecida como Reforma Protestante no séc. XVI. Assim, a característica da ética de Lutero é que se deve “servir aos homens e edificar a comunidade aqui da terra.”
Para Calvino, a Igreja tem a missão de levar as pessoas à igreja invisível, corpo dos predestinados, por meio da pregação e dos sacramentos. É o convencimento através dos argumentos que não exclui de forma alguma a participação do Espírito Santo para a conversão daqueles que pregam o evangelho. É a ação comunicativa pautada na Palavra de Deus para gerar vida.
Mas aqui já podemos verificar o método discursivo e ético com que este reformador trata a Igreja, ou o povo de Deus. Ele privilegia a argumentação, a livre consciência para poder ler a Bíblia e, sendo assim, livra aqueles que não tinham essa opção das mãos dos opressores.

2.5 O DISCURSO ÉTICO CONTEMPORÂNEO

Na teologia do séc. XX tivemos os adventos das duas grandes guerras, que fizeram muitos pensadores perguntarem:

Temos uma palavra de Deus para as crises de nosso tempo? [...]‘Hermenêutica’ tornou-se a palavra comum usada para expressar a preocupação por uma interpretação significativa do evangelho cristão em termos que pessoas modernas possam compreender.[...] Está claro que não há uma única filosofia que seja universalmente aceitável agora entre os teólogos como parceria para o labor teológico. [...] não é exagero afirmar que ‘pluralismo’ é a palavra mais apropriada para caracterizar a atual situação da teologia.

A situação é realmente plural, contudo, é nesta diversidade de opiniões que se faz mais necessário o discurso ético, pois é através do diálogo argumentativo que respeita o outro que se pode encontrar as melhores possibilidades de consenso.
A ética habermasiana aponta não o consenso em si como télos, mas a busca desse consenso. É na orientação argumentativa que encontraremos a forma da ética apresentada por Habermas e, diante dum mundo tecnologicamente globalizado, a força que as ideologias têm são de enorme extensão, sendo que somente um discurso baseado na Palavra de Deus como referencial de verdade, pode validar a busca do consenso que gerará vida de esperança para aqueles que não têm oportunidades.
É de teologia que estamos falando aqui, pois para se fazer teologia hoje, temos que levar em conta o poder das palavras, mas não como antes: “ ‘Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo (Wittgenstein)’. Que ocorreria, se no lugar da palavra ‘linguagem’ colocássemos ‘teologia’?”
A teologia baseada na ética discursiva tem que gerar vida para ser considerada verdadeira; essa verdade, muitas vezes, é pautada na pregação do evangelho. Mas o que é pregação do evangelho?

Pregação do evangelho não é transmissão de sabedoria e verdade por meio de sentenças doutrinárias. Também não é transmissão de atitudes e comportamentos segundo a Lei. É manifestação, revelação e proclamação de eventos escatológicos. Revela o domínio do Ressuscitado sobre um mundo e liberta os homens pela fé e pela esperança da salvação vindoura.


Para falarmos de teologia contemporânea, temos que ressaltar a importância do discurso ético, pois somente através da igualdade de expressão é que poderemos chegar a tão falada ética gerada pela Palavra de Deus, que é vida e promove a esperança.

O estabelecimento do império da racionalidade num cristianismo sem o poder autoritário de uma instituição alheia à razão, conseguiu gerar grande variedade de interpretações, todas viciadas com a ilusão da verdade e com a tentativa de fazer com que as palavras andassem por um só caminho, muito embora, desta vez, os caminhos já se multiplicassem.

A interpretação, ou a hermenêutica que se faz presente em nossos dias, vem de uma longa tradição conformada por poderes reguladores, dando a impressão de um lugar vazio para apoio. É a falta da instituição centralizadora, também a falta de uma fé mística que foi sendo, aos poucos, abolida pela tecnologia e pela globalização das informações presentes em nossa época. Contudo, ainda podemos verificar a grande carga de ideologias dominantes, “a noção de ideologia tornou-se decisiva na perda dessa inocência” . Sempre querendo usufruir dos menos informados, ou impossibilitados de agir comunicativamente frente às suas inserções na comunidade, que hoje mais que nunca é universal.
A ética gerada pela palavra de Deus, tem que provir duma consciência que leva em conta a presença real de Deus nesse mundo, mesmo que dominado pelas vastas forças da tecnologia, comunicação, economia e religiosidade. É de suma importância que o discurso ético autêntico, que a ação comunicativa, se paute e se referencie pela verdade que está presente na Palavra de Deus, e que afirma Deus como criador e sustentador de tudo o que existe, inclusive do ser humano. Como pensar num Deus distante do mundo e suas relações? Como pensar num mundo humano onde, como já vimos, a linguagem é ferramenta fundamental para a comunidade em geral, sem ter o Deus da vida como referencial de verdade para gerar uma vida esperançosa? Seria utópico e vazio um discurso nestes termos.
Recorremos a BONHOEFFER:

Um discurso ético sem tempo e lugar carece de autorização concreta, coisa que todo discurso ético autêntico necessita. É a declamação pretensiosa, juvenil e usurpadora de princípios éticos que conflita com o caráter do discurso ético autêntico, mesmo que seja apresentada com a maior seriedade subjetiva e ainda que seja mais fácil sentir do que definir este conflito. [...] O autêntico discurso ético não se esgota numa única proclamação; exige repetição, constância e tempo. Este é o fardo, mas também a dignidade e credibilidade do discurso ético. A competência para o discurso ético revela-se na fidelidade, na comprovação, no entanto, já excedemos o ético propriamente dito.

BONHOEFFER fala de ética discursiva diante de um contexto de horror e guerra. Foi de seu lugar vivencial que criou de reflexões sobre a ética. Sabia muito bem que ali não havia espaço para comunicação ética. Apesar da opção de se ter uma consciência crítica ser presente, a situação de caos, causada justamente pela falta dessa consciência crítica frente ao discurso proferido e colocado em prática pelos poderosos da época, fez com que milhares morressem sem esperança alguma. Por isso ouvimos ainda hoje o grito de BONHOEFFER representando os calados à força dentro dos campos de concentração.
A ética discursiva toma forma quando dá possibilidades de se buscar em conjunto o consenso. Entretanto, não fora de uma realidade presente, mas com ela, mediada pela Palavra de Deus que é seu referencial de verdade, que validará/gerará ou não, conforme as intenções ideológicas dos agentes, a vida esperançosa. Claro que para isso é necessário saber observar as diversas situações em que estão inseridas as comunidades, os indivíduos. Seguindo-se de uma verificação do consenso, que é o julgar qualificado, interpessoal, pois atuante que é, faz com que as pessoas saibam da vida uma das outras; por fim, a ação gerada por essa “conversa”, palavra que pautada na verdade divina, construirá a vida que outrora fora roubada.

Vejamos como, agora com um outro enfoque – o da Teologia Latino-americana, daremos os passos seguintes para uma prática da palavra que tanto utilizamos no dia-a-dia, ou como viemos chamando: a ética discursiva.




III – TEOLOGIA LATINO-AMERICANA

3.1 O CONTEXTO DA AÇÃO DISCURSIVA DA AMÉRICA LATINA

O contexto da teologia da libertação pretende refletir uma possível autoctoneidade do pensamento teológico na América Latina, pressupondo o contexto global como o ponto de partida do discurso ético. E para embasar nossa reflexão sobre a teologia Lalino-Americana, começaremos com a construção da modernidade e suas respectivas conseqüências para o mundo periférico, assim como diz DUSSEL:

[...] a centralidade da Europa no “sistema-mundo” não é fruto só da superioridade interna acumulada na Idade Média européia sobre as outras culturas, mas também o efeito do simples fato do descobrimento, conquista, colonização e integração da Ameríndia, que dará à Europa a vantagem comparativa determinante sobre o mundo otomano-mulçumano, a Índia ou a China. A modernidade é fruto deste acontecimento e não sua causa. Posteriormente, a ‘gestão’ da centralidade do sistema-mundo permitirá que a Europa se transforme em algo como a ‘consciência reflexiva’ da história mundial [...].

Esta distinção apresentada no sistema-mundo de DUSSEL, provê uma ótica singular para nosso estudo, pois clareia as relações ético-discursivas que permearam o mundo e ainda hoje se fazem presentes. Pois a consciência reflexiva transformou vidas, ditou costumes através da prática do “roubo” da opção do pensamento livre. Durante séculos, os gestores do sistema mundo que se iniciou com a modernidade, agiram sem pensar no outro que encontravam em seu caminho para o enriquecimento. Foi assim nas conquistas das novas terras, em especial a América Latina, e o que depois viria se chamar Brasil.
A Europa, depois que se achou centro do mundo por causa das grandes descobertas geográficas, tornou-se dominadora geopolítica através do discurso ideológico, que continha a mensagem falsa de alguém que queria ajudar a desenvolver, a descobrir novos horizontes. No entanto, o que se viu e ainda se vê, é uma relação de dominador-dominado, que faz com que milhares de pessoas, de vários povos e raças, sofram as conseqüências de não ter opção.
Mas, poderia alguém perguntar, se seu discurso não foi pautado na Palavra de Deus, ou se não foi Deus quem ‘abençoou’ aquele povo para que enriquecesse com a descoberta de novos continentes, novas riquezas, novos meios de trabalho, mesmo que escravo. Sim, foi Deus quem criou todas as coisas, mas também foi Ele quem mandou que “amássemos uns aos outros”, ao contrário do que foi feito a partir das descobertas.
Neste contexto, surge um grito contra a opressão, e ele é diferente dos gritos provindos do centro do sistema-mundo. Esse grito é do excluído, é da vítima, pois sente em sua carne a falência do sistema imposto pelos dominadores. Esses dominadores possuem um discurso que valida somente suas vidas, excluindo a possibilidade do outro como Outro. Esse Outro não é somente o respeito pela alteridade presente nas relações discursivas dos aprendentes, mas contém uma carga semântica mais profunda, assim como assegura DUSSEL:

O Outro será a/o outra/o mulher/homem: um ser humano, um sujeito ético, o rosto como epifania da corporalidade vivente humana [...]. O outro não será denominado metafórica e economicamente sob o nome de ‘pobre’. Agora, inspirando-nos em W. Benjamin, o denominarei ‘a vitima’ – noção mais ampla e exata.

Essa noção de ‘vítima’ apresentada pelo pensador ético da libertação faz com que o contexto aqui exposto se torne algo válido para embasar qualquer discurso que tente gerar uma ética para a vida do mundo periférico.
O discurso da libertação se torna válido quando provém de uma situação vivencial da própria vítima; é assim que podemos fazer uma teologia da libertação consistente, pois temos uma Vocação De Liberdade (Rubem Alves), “é precisamente este elemento, esta vocação de liberdade, que tem conduzido muitos cristãos a descobrirem a si mesmos como parte da comunidade daqueles que se acham com a tarefa da libertação humana”. Só assim teremos terreno firme para construir uma ética que gere vida a partir da Palavra de Deus. É o discurso ético que transforma a partir do lugar primeiro, da vítima.
“A práxis ética se funda na fé e a realiza”. Talvez por isso a teologia da libertação leve em consideração o agir por causa do contexto de pobreza em que se encontra a América Latina. Sua ética visa suprir as necessidades concretas com esperança concreta. Trabalha para que Reino de Deus aconteça e demonstre o milagre da transformação de vidas através dos abastados. É uma faca de dois gumes, atinge os dois lados: o Reino de Deus é convergente e não exclui ninguém.
Mas, além das considerações acerca da teologia que se levanta a partir da vítima, temos o contexto em que o discurso opressor veio sendo construído, que é o alicerce para a mentalidade excludente presente nas relações de poder mediadas pelo discurso, que é a arma mais usual para a dominação presente em nossa atualidade.

3.2 O DISCURSO ÉTICO QUE É EMPREGADO NA AMÉRICA LATINA

Foram as crescentes guerras religiosas que vimos acontecer na Idade Média e no pós-Reforma Protestante que serviram de amálgama para a mentalidade excludente e dominadora de nossos tempos. Além da ganância de poder econômico e religioso, temos que ressaltar que esses líderes, ou como vimos chamando – a consciência do Rei opressor – tem a habilidade especial de proibir o pensamento crítico. Eles conseguem através de distrações, muitas vezes teatrais, burlar a voz consciente da vítima. O discurso do Rei, que impõe a conduta de vida ou a ética, faz com que a vítima se esqueça de sua própria consciência, e dessa forma, mate a Vida em benefício de uns poucos gananciosos.
Isso se dá num contexto maior, tomando-se a América Latina frente aos dominadores sistêmicos Estados Unidos e Europa; e, num contexto mais restrito, no próprio Brasil, onde os dominadores econômicos/políticos extraem suas riquezas às custas de mentiras e falcatruas. Além disso, temos os dominadores religiosos, que ao invés de utilizarem a Palavra de Deus, que é verdade incontestável, para livrar a vítima de seus opressores, utilizam-na para confirmar/validar os discursos dos poderosos.
É justamente no eixo de reflexão dos dominadores religiosos que pretendemos aprofundar nossa pesquisa, pois como sabemos, a história de um povo que foi escravo no Egito e em muitos outros lugares serviu de base para um pensamento que privilegia aqueles que são oprimidos. Essa “história de salvação” está relatada teologicamente na Bíblia – Dei Verbum – que nos serve de verdade para validar nosso ponto de vista crítico. Assim, vemos que, conforme Maquiavel, a história é cíclica. E mais uma vez vemos um povo que antes era oprimido, vitimado pelos opressores, se esquecerem da esperança que descobriram a partir de um Deus libertador. Agora, eles preferem oprimir, e o ponto crítico é que se utilizam da própria Dei Verbum para isso.
“Liberta o pobre! Este é o princípio absoluto da ética”. Contudo, o discurso ético para gerar vida na região periférica, precisa “ver no pobre o Cristo pobre, critério absoluto do Julgamento e da história: ‘Porque tive fome e deste-me de comer’(Mt 25)”.
É um discurso que leva em consideração não somente a parte teórica da relação discursiva. É mais que isso, é uma ação comunicativa, uma performance concreta apontando para a vida contextual da vítima, do aprendente. Aprendente porque está em processo de reinterpretação de seus parâmetros de vida, de ética. Interpretação porque é motivo hermenêutico o refazer, reler a Palavra de Deus para construir uma ética na sociedade, nas pessoas. Logo, é testemunho, e

o verdadeiro testemunho não exclui o diálogo. Evidentemente pode-se por o problema teórico: como cumprir minha responsabilidade com o evangelho e, ao mesmo tempo, respeitar a liberdade do outro? Parece que a lei do diálogo consiste em os interlocutores se porem reciprocamente em questão na procura hesitante da verdade. Ora, o fundamento do meu testemunho é a certeza de ter descoberto em Jesus a verdade sobre o homem e a história. Gabdhi dizia: ‘como pode ser fraterno aquele que acredita ter a verdade?’

Conseqüentemente, não exclui, seja o pobre, o negro, a mulher, ou como disse Dussel: a vítima. Tudo causado por séculos de dominação sócio-econômica, além da política-cultural que foram impostas pelo sistema mundo com seu centro na Europa egoísta e falaciosa. A noção política de poder e dominação é tomada aqui optando por este viés: o da vítima que sofre frente ao opressor dominante. Além disso

a hermenêutica é produto da confrontação da Palavra com a Vida. O que vale hoje é a Palavra de Deus sobre os direitos do pobre colocada no contexto de nossa história. Assim se compreende que o direito do pobre é não apenas receber de Deus e dos homens aquilo com que se satisfazer suas necessidades, mas ser respeitado e apoiado quando quer ser sujeito de sua história e de sua própria libertação.

A questão mais urgente é o contexto de fome dos povos. Não a fome casual de quem está fora de casa e não tem onde arranjar comida, mas a fome endêmica dos que passam fome a vida toda. Será que esses “Reis” que dominam não reconhecem que o dom divino é o de respeito ao próximo a ponto de amá-lo como a si mesmo? A ação discursiva ética é tarefa urgente. A esperança de vida deve brotar da Palavra de Deus e, seu recurso mais usado – o discurso, tem que estar em sintonia com os pressupostos de verdade e validade para que essa vida seja anunciada no contexto Latino-Americano.
Sempre delimitando dentro da América Latina a situação religiosa brasileira, apontaremos o exemplo dado por Leonildo Silveira Campos, quando relata o caso da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD):

A única saída para quem está no ‘fundo do poço’ é a ‘libertação’, quando então o indivíduo é chamado a ‘tomar posse da salvação’. Uma ‘aventura de fé’ que começa no momento em que a pessoa ‘tomou a decisão’ e resolveu ‘fazer um desafio’ a Deus, ação respaldada num ‘ato de sacrifício’ de algo para ele tão importante, o dinheiro. Agora, ‘Deus está honrando a fé’ do fiel. E ele pode dizer que ‘tudo mudou’, tanto que as ‘palavras não conseguem expressar’. Nos ‘testemunhos de fé’ é comum dizerem ‘agora me sinto honrado por Deus’. esse encontro é uma experiência muito importante para quem havia perdido status na sociedade, e agora descobre que ‘há um Deus que se preocupara comigo’. É então que muitos choram ao apresentar o depoimento e o locutor pergunta: ‘Por que está chorando?’ E o fiel responde: ‘de felicidade, porque encontrei o Senhor Jesus na Igreja Universal’.

Assim, a felicidade buscada se transforma em pagamento de bênção, ou uma troca de algo (o dinheiro) distorcido pelo discurso elaborado com segundas intenções, que, embora pautado na Palavra de Deus, valida outra realidade, a da opressão da vítima.
Justamente por já estar inserido num contexto maior – América Latina historicamente dominada pelo sistema mundo - que já privilegia a ação sem reflexão, que a vítima aceita o discurso ético que muitos líderes religiosos lhes impõem. Logo, é preciso reivindicar a consciência crítica que é apresentada pela Dei Verbum de modo teológico, pois ela gera vida. Assim, como já dissemos, é Cristo quem completa e realiza a vida reta que é proposta por Deus, e nisto consiste seu discurso que liberta e conscientiza os sem voz ativa, e é nesta perspectiva que os líderes, que possuem o recurso do discurso como ferramenta para fundar modos de vida éticos, deveriam gerar vida através da Dei Verbum. Pois é assim que o Deus da Vida agiu na história da humanidade: Liberta meu povo...

Mas voltando ao exemplo citado, verificamos que o discurso empregado visa justamente o obscurecimento dessa consciência crítica, que é a imaginação do artista de Rubem Alves, ou como o próprio caminho iluminado de Jesus, quando disser: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Enfim, finaliza Leonildo:

A religião, entretanto, nunca coloca em discussão de que maneiras essas ‘palavras fortes’ se tornam centros rearticuladores do novo ‘mundo da vida’. O seu objetivo é exatamente retirar de debate essa questão, porque isso poderia gerar alguma perspectiva crítica quanto à legitimidade do processo comunicativo. É neste ponto que o discurso se torna ideológico, visto estar desconectado do contexto do qual suas partes e lógica foram apanhadas.


A fome não conhece espera. Ainda mais quando não se permite o grito diante dela. A religião dos famintos tem como sinal primeiro e principal a mesa farta, o pão, o vinho, a “eucaristia” (agradecimento) por causa do pão e do vinho. A fome do povo constitui a primeira urgência, a mais imediata. Jesus é o primeiro a se preocupar em dar de comer ao povo; uma comida simples de todos os dias: pão e peixe. Quem passa fome só vê diante de si a miragem da comida farta. Eis o grande sonho dos pobres de todos os tempos e periferias deste mundo. Foi o sonho na mente dos primeiros ouvintes de Jesus na Galiléia. Este sabe por experiência que o povo passa fome, pois freqüenta os ambientes de trabalho (Mt 13,55). Daí a orientação dada aos apóstolos: a fraternidade não pode limitar-se a palavras generosas, discursos teóricos, têm que ter dimensões concretas, inclusive materiais e financeiras (Mc 10, 21; Mt 19, 16-30). A ação comunicativa fala disso, de um discurso que se enraíza na Palavra de Deus para gerar vida, contudo não algo teórico ou ideologizado.
O que enraíza as narrativas evangélicas no chão da realidade vivida é essa íntima relação com o mundo dos famintos que aparece a cada momento. Jesus lida diretamente com famintos e dirige sua palavra e sua ação em benefício destes. “O evangelho é uma palavra dirigida aos famintos ” Esse deve ser o discurso presente no projeto de libertação da América Latina e todos aqueles que estão colocados à margem, em periferias do sistema-mundo centrado nas ideologias castradoras da Europa e afins. E também o discurso dos religiosos que deveriam estar ao lado da vítima para orientar e juntar forças contra os opressores.

3.3 O REFERENCIAL ÉTICO DO DISCURSO BASEADO NA DEI VERBUM PARA A AMÉRICA LATINA

Aquele que se digna a construir a possibilidade de libertação para as vítimas do sistema mundo moderno, deve basear-se numa hermenêutica em perspectiva da periferia, do oprimido, daquele que não tem voz ativa. Seu discurso deve ser ação na medida em que se põe em luta contra os opressores. Para isso, esse agente da ação discursiva “deve ser do Espírito para animar e traduzir, em reflexão de fé, de esperança e de amor comprometido, as exigências do Evangelho confrontado com os sinais dos tempos, emergentes nos meios populares”.

No entanto, o compromisso do cristão que se coloca do lado dos oprimidos inclui duas modalidades. Uma se situa ao nível da proclamação ‘conscientizadora’. A outra se situa no plano da militância política propriamente dita. Uma e outra modalidade são igualmente necessárias. ‘O primeiro aspecto do compromisso é a opção diretamente política. Nela o cristão canaliza sua caridade – o serviço de Cristo no outro – pela mediação de projetos; e, por isso, ele tem necessidade de participar do poder. Isto fundamenta sua opção em favor de um partido, na qual a caridade encontra para ele sua melhor expressão de eficácia libertadora; aqui seu compromisso contemplativo se transforma em estratégia e política partidária. O segundo aspecto do compromisso a serviço dos pequenos é o da opção pastoral profética. Aqui, a caridade, fonte de contemplação, passa pelo anúncio eficaz e fecundo da mensagem de Cristo sobre a libertação dos pobres e pequenos. Esta mensagem se torna consciência crítica e é capaz de animar as transformações libertadoras mais profundas e mais decisivas. [...] A segunda forma, mais adequada ao ministério pastoral e à hierarquia – embora não exclua absolutamente estilos de compromisso – constitui a forma de militância que o próprio Cristo e os Apóstolos adotaram. Deste modo, eles renunciaram ao poder e à política, mas criaram em contrapartida, as condições de consciência necessárias à libertação progressiva de todas as formas de expressão. (Grifos meus)

Claro, o referencial para o discurso ético deve ser a Palavra de Deus. Entretanto, não com uma interpretação fora do contexto vivencial daqueles que terão suas vidas modificadas por esse discurso, mas a partir de um ver-julgar-agir, dando prioridade à realidade carente de vida daqueles que estão “jogados” e “esquecidos” na periferia do mundo egoísta. Assim, a proclamação conscientizadora a partir da ação pastoral profética vai proporcionar uma consciência crítica capaz de se colocar em posição de igualdade nas relações discursivas. Logo, o discurso do “Rei opressor”, daquele que se situa gerencialmente no sistema mundo, e até mesmo dos líderes religiosos de dentro das comunidades eclesiais/igrejas, vão ter que repensar o lugar hermenêutico de seus discursos éticos.

Entretanto, já que Deus na Sagrada Escritura falou através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras.

Forma-se assim, a mediação hermenêutica a que nos aponta BOFF, e é neste modelo de leitura da Palavra de Deus que temos o referencial ético para a vida ser gerada nas vítimas, a partir delas mesmas. “E assim, o teólogo da libertação vai às Escrituras carregando toda a problemática, a dor e a esperança dos oprimidos. Solicita à Palavra divina luz e inspiração. Realiza, pois, aqui uma nova leitura da Bíblia: a hermenêutica da libertação.”



















IV – CONCLUSÃO

Estivemos tratando, nesta monografia, do discurso ético presente nas mais diversas áreas da humanidade. Fizemos uma busca nos ambientes semitas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, e vimos que ali se apresentou um discurso onde a vida foi colocada em primeiro lugar, um lugar concreto, onde as necessidades do sujeito real, vivo, de carne e osso sempre foram buscadas em primazia às outras necessidades.
Entretanto, com o aumento do poderio intelectual e, conseqüentemente geopolítico, fez com que as éticas, os modos de vida, ou mesmo a vida reta apresentada pela pauta divina, na Dei Verbum, se transformassem em ferramentas de ganhos exorbitantes e egoístas. É a fome “ontológica” de DUSSEL, que faz uma leitura a partir do helenocentrismo imposto pelas culturas ocidentais às outras culturas, na medida em que iam descobrindo que não estavam sozinhas no mundo.
Esse mundo tornando-se maior, fazia com que as possibilidades de riqueza aumentassem proporcionalmente, contudo, não levaram em conta a alteridade, não respeitaram os princípios divinos declarados na Palavra de Deus para gerar vida.

Há muitos séculos, o homem começou a descobrir que é capaz de transformar acelerada e controladamente o mundo em que vive. Essa experiência mudou o curso da história e marcou definitivamente a nossa época. Desse modo, abriram-se possibilidades insuspeitadas para a vida do homem na terra, mas sua utilização em proveito de uma minoria da humanidade provocou a frustração e a exasperação das massas despossuídas.

As características da sociedade e suas relações , originada pela ascensão da classe média democrática, é a discussão livre. Os numerosos círculos de discussão são ligados pelas pessoas que levam as opiniões de um lado para outro, lutando pelo poder de comando maior. Assim como relacionamos ética e teologia em nosso trabalho, pressupomos que o pensamento ideológico presente no sistema-mundo está impregnado dessas categorias. Contudo, os caminhos percorridos apontam para uma práxis libertadora, como também “a filosofia da libertação de DUSSEL quer, assim como APEL, ‘inspirar a práxis humana por meio da constituição dialógica de sentido’, com a distinção de que na casa da primeira se trata da práxis libertadora”.
Na sociedade democrática supunha-se que a consciência individual era a sede final de julgamento e, portanto, o último tribunal de apelação. Há também uma harmonia de interesses natural e pacífica entre os indivíduos que formam esta sociedade. Dizia-se que antes da ação haveria uma discussão racional entre indivíduos que determinaria a ação e, que dessa forma, a opinião pública resultante constituiria a voz infalível da razão. Uma vez determinada a atitude autêntica, certa e justa, o público agiria de acordo com ela, ou faria com que seus representantes agissem.
Como vimos, a ação discursiva somente promove vida quando tem por referencial ético a Palavra de Deus. No entanto, não é somente esse critério de verdade que gera vida nos aprendentes, mas os frutos de um discurso eticamente pautado nesta verdade que é a soberana vontade de Deus, presente tanto no Antigo como no Novo Testamento.
O egoísmo mortificador presente na essência do ser humano conduz a caminhada deste para o domínio do próximo. Não existe respeito, somente opressão. A vida esperançosa fica transcendentemente aquém das possibilidades reais de realização. Este tipo de discurso faz com que a vida seja morte para a morte. Ao contrário, quando a Palavra viva do Deus vivo entra em ação comunicativa, promove a tensão dialética entre a morte para a superação do presente, algo que se realiza no agora com vistas escatológicas. É a morte que promove vida, pois morre uma semente para que a árvore floresça.
Assim como o exemplo baseado no livro Teatro, Templo e Mercado de Leonildo S. Campos, onde a IURD é classificada como uma das formas de distorção da ética gerada pela Palavra de Deus, temos também ali um dos caminhos pelos quais todo leitor sincero, que se encontra diante da verdade do Cristo vivo, que já passou por uma experiência real de “conversão” (ou de fé), ou seja, a intenção de produzir através do discurso, uma consciência crítica, que dê a oportunidade de reflexão em busca de um consenso, que gerará vida para ambas as partes participantes do diálogo. Para isso, é lógico, tem de haver diálogo, e é por isso que nos propomos a levantar diante da ética a questão do discurso, pois somente assim podemos pretender uma ação comunicativa entre falantes de modo que a Palavra de Deus – Dei Verbum – seja geradora de vida.
Afinal, nosso problema inicial ainda continua a ser: qual a validez da Ética no discurso presente em nosso contexto vivencial, partindo da Dei Verbum numa perspectiva bíblico-teológica, para uma ação comunicativa que leve à vida de esperança em Cristo Jesus? Nossa conclusão é que somente uma Ética gerada pela Palavra de Deus pode dar ao ser humano a capacidade de ter vida em abundância e esperançosa em Jesus Cristo.




























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