LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
cronicas-->Colchonirico -- 11/10/2013 - 13:25 (Brazílio) |
|
|
| |
Colchonírico
Não chegava a ser feia aquela casa. Era como muitas outras que se alinhavam,
disformemente, em volta da igreja matriz. Paredes, telhado, porta, janelas e até
um alpendrezinho. O que lhe pegava mal talvez fosse a cor, aquele cinza que não
sorria. Também, a própria matriz, imponente e sobranceira, lhe dava as costas e lhe
projetava sua longa sombra, apesar de ela, a casinha cinza situar-se já bem no alto da
ladeira.
Os seus morenos residentes, embora a Deus tementes, formavam uma família de
colchoeiros e volta e meia estampavam a frente da casa com algum de seus produtos,
de panos listrados e capim, prontos a serem recolhidos. Não parecia faltar freguesia
ou o capim que o seu sono recolhia. Mas era também um negócio pouco elástico, pois
os colchões costumavam ser duráveis e a população do velho dormente burgo serrano
vinha se mantendo estagnada desde os tempos em que ouro parara de afluir - tempos
do onça e, agora, nem de uma onça ao menos. No máximo pepitas, y ya bien raritas.
Nos fins de semana era possível vê-los à janela, no alpendre ou mesmo na igreja,
em trajes domingueiros, e menos colchoeiros. O seu traço comum eram os olhos e os
cabelos negros que, ainda que luzidios, traíam e traziam aquele ar lúgubre da casa
cinza.
Um dia, mesmo sob a sombra protetora da matriz, aquela casa pegou fogo e, por um
triz, de escapar ilesa a família póde se sentir feliz. Alguma faísca aproveitara a secura
do capim, ou quiçá, foi só um sonho ruim. |
|