Usina de Letras
Usina de Letras
144 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->UM HOMEM NO ESCURO -- 28/09/2001 - 19:21 (Carlos Higgie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






UM HOMEM NO ESCURO


Corri e alcancei o ônibus quando já saía da parada. No instante em que a porta fechava, o vi. Estava jogado no chão, sob a proteção, encolhido como se estivesse com frio ou ferido na barriga. Nos testículos, talvez.
Através do vidro traseiro, aproveitando a iluminação de outros veículos, tive a última visão do homem, antes que o ônibus dobrasse e entrasse a toda velocidade, no túnel.
O cobrador me deu o troco e pensei: “falo com ele e peço para retornar à parada, recolher o homem e levá-lo ao hospital.”
Surgiu a primeira dúvida: seria ridículo? Olhariam- me como se fosse um louco? Talvez não o teriam visto e pensariam que eu estava delirando, vendo coisas, tratando de chamar a atenção.
Sentei num banco próximo à porta e pensei, enquanto o ônibus saía do túnel:” desço em seguida, corro através do túnel e o socorro. E se não estiver ferido? Se estiver bêbado e dormindo tranqüilamente?” Aquele era o último ônibus. O próximo passava uma hora após e me deixava a dez quadras de casa. Francamente, era muita complicação por um simples bêbado.
Na avenida, totalmente iluminada e deserta, o ônibus parou e voltou a arrancar. Movi- me inquieto e pensei: talvez não seja um borracho. Pode ser uma vítima de assalto, de algum tipo de violência; ferido, talvez, por alguma das tantas gangs de jovens que proliferam pela cidade.
Levantei-me e voltei a sentar, atraído para o assento por outra dúvida: “e se é ao contrário? Se ele é um assaltante, mais um marginal que se faz de ferido para que as vítimas se aproximem e fiquem a sua mercê?” Me agacharia para conferir e receberia um golpe na cabeça, um tiro na cara, uma punhalada no estômago.
Já nos havíamos afastado bastante do local. Voltar seria uma pequena loucura, que só me traria problemas. Se estava ferido, teria que levâ-lo ao hospital, passar a noite as voltas com a burocracia. Se estivesse morto, talvez me acusassem do crime e me complicaria muito mais.
Se era somente um bêbado, teria perdido o último ônibus e teria que esperar uma hora e caminhar dez quadras, o que me esgotaria e afetaria meu rendimento no trabalho, no dia seguinte.
O ônibus saiu da avenida e entrou numa rua pouco iluminada. Tranqüilizei-me, possivelmente não era nem bêbado nem assaltante. Nem assaltado.
Talvez fosse, simplesmente, mais um mendigo, morrendo de fome e de frio.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui