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Artigos-->Um basta para a audácia da Telefónica? -- 31/03/2000 - 13:45 (Carlos Alves Müller) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um basta para a audácia da Telefónica?

(texto publicado originalmente na newsletter Análise em dezembro de 99)



Carlos Alves Müller



O Sistema Telebrás foi privatizado no dia 29 de julho de 1998. O leilão surpreendeu pelo ágio alcançado pelas empresas, mas também pelos consórcios vencedores. O Tele Brasil Sul, do qual participavam a RBS e a espanhola Telefónica, tinha um objetivo estratégico conhecido: arrematar a Tele Centro Sul (responsável pelas telecomunicações em SC, no PR e nos estados do Centro Oeste. Para surpresa geral, acabou arrebatando o que Juan Villalonga Navarro (presidente da Telefónica) diria ser, com orgulho, “a jóia da coroa”, referindo-se à Telesp. O episódio, inclusive as circunstâncias que envolveram o não cumprimento pelos espanhóis do acordo com a RBS é conhecido. O que não se sabia era que se tratava apenas a primeira demonstração do ímpeto com que a Telefónica se lançava na disputa pelo mercado internacional de serviços de telecomunicações.

Segundo o The Wall Street Journal, quando o consórcio liderado pela Telefónica assumiu a Telesp, “muitos brasileiros saudaram a chegada da mais experiente operadora de telecomunicações da América Latina. O que eles não sabiam é que estavam prestes a enfrentar a agressividade dos espanhóis.” Desde então acumularam-se, na América Latina e na Espanha, as situações nas quais a “agressividade dos espanhóis” liderados por Villalonga desperta a admiração dos mercados, mas gera estupefação e mal-estar entre acionistas, usuários e autoridades dos países em que se instalou.

O que agrada aos investidores é o arrojo e a forma implacável com que Villalonga comanda o ataque aos mercados e com que busca a rentabilidade. Segundo a própria empresa, “A Telefónica Internacional (TISA) está presente em nove países, e tem o objetivo de se converter no quinto operador mundial de telecomunicações. “Telefónica Internacional mantém como objetivo a criação de valor para seus acionistas mediante a rentabilidade de seus investimentos e a liderança em seus mercados”, diz o texto, acrescentando que “a América Latina e especialmente Brasil e Mercosul seguirão sendo o âmbito fundamental dos investimentos e das operações da Telefónica Internacional”.

A Telefónica é, hoje, a maior empresa de capital aberto da Espanha e está entre os dez maiores conglomerados privados do mundo em telecomunicações (Além da Espanha, atua no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, Peru, Venezuela, El Salvador, Porto Rico, Portugal, Áustria, Romênia e Marrocos), operando 37,5 milhões de linhas telefônicas fixas, 14,4 milhões de acessos celulares e 2,3 milhões de assinaturas de TV paga. Com o resultado do leilão do sistema Telebrás, explora mais terminais na América Latina, que na Europa.

A holding Telefônica S.A. controla, além da TISA (que reúne as operações internacionais de telecomunicações), a Telefônica de Espanha, a Telefônica Móvel, Telefônica Mídia (entretenimento e multimídia), Telefônica Data (comunicação de dados), Telefônica Comunicações Interativas (Internet), Atento Holding (tele-serviços) e TPI (listas telefônicas). No Brasil, ao final de 1998, a Telefónica era o terceiro maior grupo em receita (US$ 9,4 bilhões) e o primeiro em patrimônio líquido (US$ 10,4 bilhões), operando mais de 11 milhões de linhas telefônicas fixas e celulares.

Os negócios da Telefónica no Brasil têm como carro chefe declarado a Telesp Participações (formada por Telesp – Telecomunicações de São Paulo e CTBC – Companhia Telefônica da Borda do Campo) e tem participação na Telesp Celular. No Rio Grande do Sul, de onde terá que se retirar atendendo às exigências legais do processo de privatização da Telebrás, o grupo detém o controle da CRT e Celular CRT. No Rio de Janeiro, tem participação majoritária na Tele Sudeste Celular Participações (holding da Telerj Celular, no Rio de Janeiro e Telest Celular, no Espírito Santo) e as operações da Tele Leste Celular Participações (Telebahia Celular, na Bahia, e Telergipe Celular, em Sergipe) Em 1999, implantou a empresa de tele-serviços Atento Brasil, que atua em atendimento telefônico e incorporou o ZAZ (segundo maior provedor brasileiro de Internet), que no início de novembro passou a integrar a Terra Networks Inc., empresa do grupo que reúne as operações internacionais na Web (Argentina, Brasil, Chile, Espanha, Guatemala, México e Peru), com mais de 800 mil clientes, 18 milhões de visitas mensais e 300 milhões de páginas. Dias depois da constituição da Terra Network na América Latina, suas ações foram lançadas em Bolsa simultaneamente na Espanha e Estados Unidos, alcançando uma valorização extraordinária, imediatamente denunciada pelos críticos como uma manobra de Villalonga e Cia.

O apetite da Telefónica parece insaciável. No dia 30 de novembro, conforme o jornal Clarín, foi anunciado em Buenos Aires que o grupo assumia o controle da Atlántida Comunicaciones (Atco SA), a maior rede de tevê da Argentina, incluindo os canais de TV aberta Telefé, as rádios Continental y FM Hit, e canais de TV nas cidades de Córdoba, Neuquén, Rosario, Bahía Blanca, Santa Fe, Mar del Plata e Salta, além da Azul Televisión. A transação, no valor de cerca de US$ 530 milhões, resultará na incorporação da Atco à Telefónica Media, a divisão que agrupa as empresas de comunicação de massa da Telefónica. Não foi uma investida isolada. "Nos próximos meses estaremos anunciando outras incorporações na Argentina, América Latina e muito provavelmente Estados Unidos", explicou José Antonio Ríos, presidente de Telefónica Media revelando que a operação faz parte do lançamento da Telefónica Media no mercado de língua espanhola e portuguesa, que deverá se estender por 10 países nos próximos três anos.

Os investimentos na área de mídia são um movimento estratégico para fora do setor de telecomunicações e incluem o avanço no campo da Internet por meio da Terra Networks. A decisão nesse sentido foi confirmada ao Clarín, na semana passada, por Juan Perea, presidente da Terra e ex-diretor mundial de planejamento estratégico da Telefónica. O executivo reconheceu que o esforço do grupo na Internet e na Telefónica Medios significa uma "profunda mudança estratégica", acrescentando que “as telefônicas são, por enquanto, uma maneira de obter os recursos para crescer nesta direção, ainda que isto não signifique que seja necessário vender os ativos em telefonia fixa ou móvel.”

É a audácia e a capacidade de engenharia corporativa, mesmo que ao preço de milhares de demissões, da imposição de taxas de administração aos acionistas minoritários e de atritos com governos, que fascinam os analistas de investimentos. Para isso contribui, não resta dúvida, o perfil de Villalonga, assim resumido por Alvaro Tizón, do jornal espanhol El Mundo: “Financista antes que empresário de telecomunicações, sobrinho-neto do fundador do Banco Central, e amigo do presidente do Governo (o primeiro-ministro José Maria Aznar) desde os anos em que ambos estudavam no Colegio del Pilar de Madri, Villalonga acumulou um impressionante curriculum na banca e nas finanças antes de ser nomeado, em 1996, presidente de Telefónica. Nove anos na McKinsey, uma passagem mais breve pelo Santander, um cargo de confiança na sociedade estabelecida na Espanha por Carlo de Benedetti e os Albertos e no banco de investimentos britânico Wallace Smith até se converter no principal executivo do Crédit Suisse-First Boston, presidente de Bankers Trust para España y Portugal...” A experiência e as relações de Villalonga certamente explicam a naturalidade com que opera financeiramente no comando da Telefónica. Mas talvez tenham lhe conferido excessiva autoconfiança. Uma autoconfiança que pode beirar a temeridade diante dos inúmeros focos de descontentamento que vão se formando diante dele.

Na semana passada, ao mesmo tempo em que ia às compras na Argentina, a Telefónica Media convocava, na Espanha, seus sócios na Distribuidora de Televisión Digital SA (que explora serviços de televisão digital por assinatura) para uma assembléia no próximo dia 13 com o objetivo de promover um aumento de capital (o segundo deste ano) de 31,4 bilhões de pesetas (cerca de US$ 200 milhões) a fim de cobrir prejuízos acumulados ao longo de 1999 no valor de 24,4 milhões de pesetas. Dos problemas no horizonte, esse talvez seja dos menores, mesmo levando-se em conta que alguns analistas do mercado comecem a revelar preocupação diante do elevado endividamento do grupo.

Villalonga parece convencido de que seu trabalho – e o de seus colegas na direção do grupo Telefónica merece um prêmio à altura, se não dos lucros, pelo menos da expectativa deles e da movimentação financeira que provocam. Em princípio, não enfrentaria grande oposição se não fosse a forma como planejou fazê-lo – a criação de um programa de opções de compra de ações em favor dos principais executivos, no montante de 100 bilhões de pesetas (mais de US$ 600 milhões ou um pouco mais do que 13% do valor pago pela Telesp).

As críticas já não vêm apenas de sindicatos pressionados pelas demissões promovidas nas operadoras de telefonia, nem de usuários insatisfeitos com a qualidade dos serviços, como ocorreu em São Paulo. A fina flor da elite espanhola vai trocando a complacência por críticas cada vez mais duras aos atos de Villalonga. No dia 23 último, a Conferência dos Bispos da Espanha divulgou nota condenando o “enriquecimento súbito e espetacular, que não seja fruto do esforço mas de uma informação privilegiada”. O texto foi considerado pelo jornal El País, o mais importante da Espanha, como “um direto na cara dos diretores da Telefónica”. O pior, contudo, ainda estava por vir. Menos de uma semana depois, os golpes partiram do presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE), José María Cuevas, para quem “a essência de ser empresário não coincide plenamente com valores puramente especulativos, mas consiste em assumir riscos permanentes para criar riqueza”. O puxão de orelha foi feito sem mencionar nomes, mas diante de um público que nada tinha de ingênuo: momentos antes de seu discurso na Assembléia Geral das Câmaras de Comércio, diante do Príncipe de Astúrias e de 3.000 empresários.

Até o primeiro-ministro e amigo Aznar começa a vacilar na defesa de Villalonga. Numa debate parlamentar em que não faltaram insultos, o premier ouviu o líder da oposição, Luis Martínez Noval (PSOE) acusar um de seus ministros de “embusteiro” por tergiversar quando indagado sobre as circunstâncias da indicação pelo governo (que detinha 20% do capital da Telefónica em 1996) de Villalonga para a presidência da empresa. Para os governistas, a oposição procura um escândalo para capitalizar politicamente. Para os socialistas do PSOE, o escândalo já existe e se politiza pelo apoio de do governo a Villalonga, para quem os desafios começam a deixar de ser apenas financeiros ou de mercado.

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