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Cartas-->BANZO ( SAUDADES ) -- 20/01/2007 - 03:02 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Banzo ( Saudades ) – 11.Junho.2006 – 02:33


Recebi outro dia um e-mail de um simpático leitor me cumprimentando pelo texto Hoje Eu Chorei. Dizia ele que é bom pensar no passado. E comecei a meditar a respeito. Lembrei-me de minha metrópole particular. Sorocaba, de codinome Manchester Paulista, em referência à britânica cidade de Manchester, vizinha de Liverpool, de onde vieram os Besouros que modificaram o mundo da música. Essa cidade foi fundamental na Revolução Industrial, pois foi nela que a primeira linha férrea para passageiros foi construída, bem como o uso da máquina a vapor na indústria têxtil. Como Sorocaba também foi rica em sua ferrovia e no seu setor têxtil, a comparação não foi difícil.
Sorocaba foi fundada em 1654 por Baltazar Fernandes e seu nome de batismo, em tupi-guarani significa “Terra Rasgada” por seu solo irregular. Com o declínio da indústria têxtil a partir da década de 70, a cidade ampliou o seu parque industrial com sensível crescimento para a siderurgia.
Para meu gosto lúdico, Sorocaba só não é perfeita porque não tem praia. O mar, aliás, parafraseando alguém, chora por não banhar Sorocaba. E como não há praia, elegemos Mongaguá como nossa praia. Sorocabano legítimo, nas férias, vai à Mongaguá. Nossa Monga, de tantas estórias e história. No litoral sul paulista, depois de Praia Grande e antes de Itanhaém.
O nome Mongaguá vem também do tupi-guarani e significa “Água Pegajosa”. Confesso que não sei porque, afinal, sou homem branco, e não tenho a sabedoria indígena.
Subindo a serra, volto para Sorocaba, minha Sorô de coisas típicas de uma cidade do interior, embora já esteja com seus setecentos mil habitantes. Como não lembrar da frase “Se não comer tudo eu chamo o sordado” para ameaçar uma criança que não quer papar. Ou então...
- “Deeexe cara de peeexe, para dizer que não se importa com algo.
- “Comer comida de sal” ou “comida de verdade”, e não besteira ou porcaria.
- “Encheu o bule?”, para provocar alguém que perdeu uma discussão.
- “Encarnô nimim”, para se referir a alguma pessoa que pega no pé.
- “Apitou na curva”, quando alguém morreu.
- “Tchéééé”, expressão que equivale a “Você tá falando besteira”.
Ou de coisas que você ouve pela cidade..
- "abeia" ou "zabeia" para abelha.
- "farvester" para faroeste.
- "sandaia" para sandália.
- "marmitec" para marmitex.
- "ônibo" para ônibus.
Saudades de minha primeira escola, o EMEI 07, com minha primeira professora, tia Sueli. Ficou estupefacta ao saber que já sabia ler e escrever aos quatro anos, culpa de minha maior professora, minha mãe. Lembro-me de minha primeira composição – “A tinta é Suvinil”. Isso porque nossa casa estava em reformas e a inspiração veio de uma lata de tinta mesmo.
EMEI 07, grupo escolar, ginásio, colegial no Estadão. Judô na AABB.
Que delícia arrancar a tampa do dedão jogando bola no asfarto e sofrer vendo e sentindo minha mãe jogar água oxigenada na ferida. Uma espuma branca que ardia pra dedéu ontem, mas que hoje me causa nostalgia profunda. Ir ao grupo nos dias seguintes usando chinelos porque usar sapato colegial com o dedão naquele estado só se comparava às torturas chinesas.
Cortar cabelo no Baianinho que quase nos rapava a careca. Depois no salão do Dito e do Oscar. Dito, cuspindo na oreia da gente e falando do curíntia. Seu Oscar hoje mora no céu e o Dito continua firme. Bem, não tão firme, mas com a simpatia de sempre. E cultiva os hábitos de perdigotear na oreia alheia e torcer pro curíntia. Péssimos hábitos, por sinal.
E nossos casinhos? Márcia Loka, Betinha, Claudinha, Valquiria e Ariete; Patrícia peito-de pomba , Renata e Irmã Bacalhau; Salete, Mirna Cadáver e Fernandinha Palito eram o time que fazia a nossa alegria e enterrava nossa inocência. Graças a Deus não existia nenhum Parreira que inibisse esse esquadrão de atingir seus objetivos. Bons tempos, péssimas intenções.
Votorantim, Salto, Iperó e, principalmente Araçoiaba da Serra. Cidades satélites de Sorocaba onde íamos buscar nossas paquerinhas de fim de semana..
No esporte duas eram as atrações do bairro.
- Jogar pelo time de nossa rua ( Morvan ) contra o time da rua de trás ( Sérgio Labarca ). Sempre saía treta. E como o campo era de terra vermelha ( batizado de Vermelhão ), não demorou muito em ser classificado por minha mãe como seu inimigo número um.
- Ir ao estádio ( CIC ) ver o nosso querido Esporte Clube São Bento de Sorocaba jogar. Principalmente se fosse contra o Santos de Ailton Lira, Pita, Nilton Batata, Juari e João Paulo. Que delícia, meu Deus.
Lembro-me que adorava ir de ônibus da Viação Cometa para São Paulo e chegar na antiga rodoviária de teto colorido. Aquilo era muito bonito para um menininho caipirinha como eu. Hoje, Sorocaba já tem até o aeroporto Luiz Bertan Lepolz com ponte aérea da Ocean Air para a capitar.
Amo voltar à minha cidade para rever meus pais. Logo na entrada, o imponente Paço Municipal em forma de T, para satisfazer o egocentrismo do antigo prefeito Teodoro Mendes. Confessar devo, no entanto, que o Paço é lindo. Com um belo lago e o não menos chique Teatro Municipal ao lado. Dureza é ter que correr de um ganso que não vai com a sua cara de vez em quando.
Como cantavam Paulinho da Viola e Clementina de Jesus, quem me fez sorrir, não vai me fazer chorar. Por isso Sorocaba é só alegria para mim e peço licença a Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que escreveu em Ficções de Interlúdio:
- O Tejo é mais belo do que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
E Sorocaba é meu rio, meu riacho, meu corguinho.


- Wagner
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