A moda agora é falar no apagão. Apagões, melhor dizendo. Antes de qualquer coisa, vale observar que, ao contrário de qualquer expectativa, os apagões não estão sendo chamados de "black outs" como seria razoável esperar, ou "brécáuts" como não seria de se estranhar. Menos mal. O apagão é nosso, não vejo por que deveríamos internacionalizá-lo.
Dizer que não-sei-quem avisou e não-sei-quem não deu importància, não chega a ser novidade e, como sempre acontece, nada adianta. Nosso prezado dirigente já explicou que, tirando a falta de investimentos, a culpa é de São Pedro. Restaria saber quem não fez os investimentos, mas aí entra a turma do deixa disso e fica tudo como está. Escuro. Devemos agradecer emocionados, sensibilizados, ajoelhados, a grande benesse do cancelamento da multa draconiana que se pretendia aplicar, como se isto não fosse apenas a boa e velha técnica do bode. Os mais velhos haverão de lembrar da "Simoneta" que gravaria a gasolina na década de setenta. De qualquer forma, ficar no escuro sem um bode lambendo-nos a cara é melhor que ficar no escuro com um bode a nos infernizar o bolso. De qualquer forma, registro meus agradecimentos. O governo por certo é um encargo difícil em qualquer situação, mas isto não dá o direito de ficar assustando a população ou dela fazendo brincadeira.
Acho perigoso isto de atribuir a São Pedro a culpa pelos nossos apagões. Esquece o nosso presidente que São Pedro tem dois empregos e que, além de dominar secas, tempestades, raios, trovões, chuvas e estiagens, ele também é o responsável pelas portas do céu. Trata-se do mesmo São Pedro que com o polegar sinaliza a liberação da entrada no paraíso celeste ou o desvio do candidato para lugares menos interessantes. Eu não arriscaria uma polêmica com ele, muito menos usaria seu nome para justificar o injustificável. Com este ato, a despeito dos inúmeros méritos e intenções, poderá faltar um último carimbo ao passaporte de nosso ilustre líder. Espero que não.
Pois os apagões deverão chegar em breve e a questão maior não será a identificação da causa ou dos culpados. A questão realmente importante será definir o que fazer durantes os apagões. Amor é claro, por certo haverá muito amor e um leve aumento na taxa de natalidade. Considerando o horário previsto, assim no meio do expediente, imagino que em 2002 a demanda por exames de paternidade também deverá aumentar. Dizem que este horário diurno está sendo definido a bem da segurança mas há quem jure que é influência da TV Globo, menos por medo de prejudicar a audiência das novelas e mais para eliminar a concorrência da TV Senado.
Para os fiéis, seja por opção, seja por obrigação, talvez um grande campeonato nacional de palitinho.
Escrito em 09.05.2001 |
