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Cartas-->Carta de Miguel Nagib à CNB do B -- 21/12/2006 - 17:37 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CNBB e o aumento dos Deputados e Senadores

Brasília, 18 de dezembro de 2006

Prezado Padre J.,

Minha família e eu temos freqüentado a igreja da Paróquia ... nos últimos dois anos. Todos gostamos muito do ambiente – simples, alegre, despretensioso e impregnado de espírito cristão. As missas são bonitas, as músicas bem executadas pelos jovens do conjunto e bem cantadas pelos fiéis. Os sermões são excelentes. Suas palavras são edificantes, inspiradas, verdadeiras e cheias de espiritualidade.

Gostaria de falar-lhe, no entanto, e com todo respeito, sobre o sermão do último domingo, quando o Senhor, avisando que se tratava de uma “recomendação da CNBB”, criticou duramente a atitude dos deputados e senadores que concederam para si mesmos um aumento expressivo de remuneração.

Não sou parlamentar e não tenho amigos ou parentes parlamentares. Não aprovo e não reprovo a atitude dos deputados e senadores (cuja remuneração, diga-se de passagem, já foi muito maior do que é hoje, mesmo depois desse aumento). Alguns, possivelmente, até merecem receber tal salário; outros deveriam estar presos. Em suma, diante de tudo o que temos visto nos últimos vinte anos, eu diria que o aumento da remuneração dos parlamentares é um fato menor, que não me escandaliza e não me preocupa de modo especial.

Preocupante, no entanto, segundo me parece, foi a recomendação da CNBB e a reação dos fiéis que aplaudiram a crítica feita aos parlamentares durante o sermão.

Apesar de inusitada, essa reação parece ter sido não apenas esperada como calculada pela CNBB. Afinal de contas, essa entidade não ignora a proverbial má-vontade do cidadão comum em relação à classe política, nem pode subestimar os resultados da campanha publicitária – tão massacrante quanto insincera e oportunista, a julgar pelos políticos, jornalistas, religiosos e intelectuais de esquerda que a promovem –, a favor da “ética na política”.

Conscientemente, portanto, o que fez a CNBB ao pedir que o tema da remuneração dos deputados fosse abordado nos sermões foi convidar a comunidade dos fiéis a participar de uma lapidação. Levou para o meio da praça um bando de deputados e senadores surpreendidos em “adultério político” e chamou o povo para apedrejá-los, isto é, para referendar, com o seu previsível aplauso, a condenação já estabelecida.

Mais preocupados em agradar a opinião pública do que em seguir o exemplo de Cristo, os bispos da CNBB perderam a oportunidade de recomendar que se incluísse também nas homilias a incômoda advertência do Evangelho: Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”.

Afinal, dentre os que aplaudiram, quem não elevaria o próprio salário se pudesse? Quem não pertence a alguma corporação ou sindicato que procura a todo custo, por meio dos mesmos deputados e senadores, aprovar leis que aumentem sua remuneração? Quem nunca participou de uma greve abusiva, em prejuízo do próximo anônimo, para reivindicar salário maior? Quem nunca passou das medidas ao agir na defesa do próprio interesse?


Mais uma vez, a meu ver, a CNBB não agiu corretamente. Não satisfeita em se rebaixar ao nível de outras tantas entidades seculares e altamente politizadas da chamada sociedade civil – como a OAB e a CUT, por exemplo –, a CNBB, usando de sua influência para fazer com que o tema do aumento da remuneração dos parlamentares fosse abordado durante as homilias, induziu grande parte dos católicos que foram à missa neste domingo a encenar, inconscientemente, o papel do fariseu na parábola de Lc 18, 9-14:

Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ‘Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ Eu vos digo que este último desceu para casa justificado, o outro não. Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.”

Lisonjeado pelos meios de comunicação (que desejam sua audiência) e pela classe política (que deseja seus votos), o povo brasileiro adquiriu, nas últimas décadas, um critério de julgamento moral que é, ao mesmo tempo, rigorosíssimo para com os outros e extremamente complacente para consigo mesmo.

Somos, hoje, um povo fariseu: hipócrita, fingido, inconsciente das próprias faltas, mas sempre pronto a apontar o dedo na direção dos outros, principalmente se nos sentimos protegidos pelo anonimato da multidão. Quanto aos políticos, o povo os despreza em parte porque os inveja, em parte porque vê neles o reflexo dos próprios vícios e das próprias fraquezas.

E os bispos brasileiros, em vez de envidar todos os esforços para nos arrancar desse estado de falsa consciência, dele se aproveitam para agradar a opinião pública, na esperança de conseguir um bom desempenho para a Igreja Católica nas próximas pesquisas de prestígio e credibilidade institucional. Em vez de usar sua influência e sua autoridade para que a Igreja fizesse o que só ela poderia ter feito, usaram-na para que a Igreja fizesse o que todos já estão fazendo.

Estou certo de que o Senhor não considerou estes aspectos ao aceitar a recomendação da CNBB. Admito, por outro lado, a possibilidade de estar fazendo uma avaliação equivocada. Mas, tal como a vejo, a situação é muito grave e eu não poderia, como católico, deixar de expressar minha opinião de maneira respeitosa e fraterna.

Cordialmente,

Miguel Nagib (*)

(*) Editor do site www.escolasempartido.org





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