Adeus Papai, Vou Morar no Céu – 22.Novembro.2006 - 2h50
Sábado chuvoso, chegava eu da Vila Belmiro após mais um jogo do meu amado Santos Futebol Clube. Atravessei o encharcado e fustigado estacionamento do condomínio e ouvi aquele som que aprendi a amar desde pequeno. Bem baixinho, escondido, tímido, consabido e forte em sua fragilidade.
- Miau!
Olhei nos arbustos e de novo...
- Miau!
Tirei os óculos para melhor ver. E vi. Vi uma linda gatinha branca de olhos azuis. Respondi-lhe.
- Oi!
E ela continuou a nossa primeira, porém íntima conversa...
- Miau!
Não tive dúvidas. Aproximei-me devagar e a tomei no colo. Tal qual um pai apaixonado carrega seu filho para dentro de casa assim que esse deixa o hospital. O início de uma relação, a abençoada construção de uma não menos abençoada família. Pelo menos assim deveria ser.
Sua chegada foi repleta de curiosidade por parte do dono da casa, o gato Beto. Assim chegou Tina, minha esbelta felina que era a primeira a pular na cama. Bastava eu desligar a TV à noite e me dirigir ao banheiro para escovar os dentes que ela já dava sua desengonçada corridinha rumo ao quarto para se esparramar no melhor lugar da cama. Que se lascassem eu e o Beto. Ela já estaria lá, espichada e ronronando.
Nesse último fim de semana, porém, mesmo com meus agrados, ela não mais ronronava. Ficou quietinha e dormiu no sofá. Não mais correu para a cama. Não mais dormiu sobre minha barriga, sobre minhas pernas ou sobre minha bunda ( desculpe-me leitora ). Não mais ficou em cima do sofá, tomando seu solzinho por detrás da cozinha. Não mais pulou sobre o teclado do computador enquanto eu o usava, não mais deitou-se sobre o jornal enquanto eu o lia, e, pior, não mais me acordou com um tapinha no nariz como fazia todas as manhãs.
Eu acordava e dava com a cara de um gato me encarando como se dissesse... “ alimente-me”.
Doença no sangue que afetou os rins, disseram-me os veterinários enquanto eu lhe dava um beijo de adeus e a sentia fria em meus braços.
Minha filhinha foi morar no céu.