"Ao amigo leitor - que desconhece esse monumento à sacanagem - devo informar que se trata de um complexo predial de onde se sobressai duas gigantescas bacias de concreto armado que abriga a Càmara dos Deputados e o Senador Federal".
Dizem as más línguas, que essa ilusionista e ufànica construção é uma obra de arte do mestre OSCAR MIEMAYER, comunista de "carteirinha".
Pois bem: cruzando o labirinto de corredores que une as duas Casas, tropecei no SENADOR ANTONIO CARLOS, mais conhecido como ACM. Ele passou por mim e, lançou-me um sorriso de ternura que me deixou órfão da sua cumplicidade puritana.
Posso informar que o Senador estava tenso e um pouco sisudo, mas não denunciava que por sobre sua cabeça pairava um painel de votação. No canto do olho esquerdo vislumbrei um certo ar de triunfo e desprezo para com os inimigos que habitam o mesmo subterràneo. Fiquei feliz que assim fosse. Para mim, que sou devoto de OGUM, é sempre bom manter uma relação amigável com toda sorte de divindades do Candomblé. E se na vida respeito é tudo, não de bom alvitre perder a proteção do nosso babalorixá maior.
Segui meu caminho. Estava preste a vencer o último lance da escada quando, colhido pelo acaso (acaso que só é acaso quando acontece por acaso): trombei com o SENADOR ARRUDA, o mais destacado e privilegiado Senador que Brasília já elegeu. Sorridente, o nobre Senador abraçava os transeuntes como se estivesse em plena campanha eleitoral. Se bem, que estava. E todos que ali estavam, estavam cúmplice do seu dilema.
Tara por painel eletrónico é uma doença contagiosa e mortal.
Pois bem, vamos ao que interessa:
Levando em conta que há muito desejava falar com o Líder do Governo, arrisquei interromper sua caminhada e cobrar uma promessa: um prefácio para o Romance/ficção, OS SEGREDOS DA PASTA ROSA. Pulei na sua frente e indaguei:
- Senador, e a Pasta Rosa?
- Pasta? Não tenho nada a ver com isso, meu rapaz. Tenho dito... a quem interessar possa, que isso é lá com o ACM.
- Mil perdões, Senador... Preciso de sua confirmação!
- Já disse e repito: o Senador António Carlos autorizou falar com a Regina, em seu nome.
- Mas Senador! Preciso da sua confirmação para preparar a lista de convidados!
- Quantas vezes devo dizer que não tenho nenhuma cópia da lista! Quando recebi a lista da Dona Regina... Levei-a ao Presidente. E, lemos nomes, votos e fizemos alguns comentários.
Ciente de que o Senador estava disperso, tentei fazer com que relembrasse do nosso encontro e da sua vaga promessa de prefaciar o livro.
- Estive no seu escritório, lembra-se? Falamos de preservação ambiental e da necessidade de haver um maior controle no adensamento populacional da cidade...
- Por favor, por favor! Não queira dar outro rumo à s minhas palavras. Tudo o que fiz foi pensando em garantir a fidelidade da votação!
- Estou certo de que sim, Senador. Mas Vossa Ex.a. falou que estava tudo bem... E tudo bem para mim, é: SIM!
- Nem sempre, nem sempre, meu rapaz! Veja o meu caso: sou membro do Conselho de Ética; se votar "SIM", estarei dando um não a mim mesmo. Agora, se votar "NÃO": estarei dando um SIM na absolvição do ACM que quer que eu me ferre sozinho. Dá pra entender?
Depois de ouvir tantas bobagens cheguei a conclusão de que aquele momento não era o mais propício para cobrar meias promessas de políticos. Deixei o Senador partir. Já estava de saco cheio daquela conversa sem pé e sem cabeça. Levantei a cabeça e, segui meu caminho.