Espelhei-me na água azul de um lago distante.
Ao meu lado, refletido, pousou um rosto de menina.
Era a verdade soberana que a todos domina.
E disse-lhe eu: — Quem és tu, que já tens olhar de amante?
Por que esse vestido transparente e cambiante?
Procurei-te por toda a parte, subi a colina,
Desci o monte, varei a terra, desci a mina.
Não na achei senão aqui, na água de mim diante.
E respondeu-me a menina desejosa
Do doce olhar que lhe enviava,
Entre triste, serena e lacrimosa:
— Pobre que sois, ó vós, que tendes consciência!
Desiludi-vos: procurar-me não adiantava,
Desde que, ficai sabendo, não tenho existência.
05, 06.12.57.
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