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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->2. OS SONHOS DE DOLORES -- 25/05/2002 - 05:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ressonava a esposa de Fernando. Ao se movimentar o marido na cama, fez que mudasse de posição e adentrasse em outra etapa do sono.

De repente se pôs a sonhar com monstros, com espíritos malfazejos, com horrendos demônios. Verdadeiro pesadelo.

Via-se assaltada, violentada, maltratada. Queria desvencilhar-se, fugir, mas permanecia imantada à desagradável situação. De certa forma, sabia que sonhava, mas não conseguia acordar. Não reconhecia nenhum dos ofensores, mas parecia-lhe que o marido estava presente, sem tomar qualquer atitude para afastar os perversos.

Tentava gritar, agitar os braços, dar com os pés, mas o máximo que alcançava era perceber a inoperância das reações. Quando estava para sofrer cutelo no baixo ventre, lembrou-se de chamar por Deus, pelo santo protetor, por Nossa Senhora, pelos filhos...

A cena bruscamente muda. Banhada em suor, quase desfalecida, entra em processo de regressão de memória, mas não caracteriza com precisão as pessoas ou os fatos. Reconhece a mãe e o pai. Estava na casa do sítio onde nascera, mas tudo muitíssimo alterado. Aparelhos elétricos trituravam alimentos. Um irmão mais velho batia fortemente a carne. Os temperos recendiam, enchendo o ambiente de deliciosa vontade de comer. No fogão, a lenha ardia e crepitava, faiscando vermelho. Mas não havia fumaça.

Dolores lembrava-se de que estava faltando a fumaça. A negra fumaça que saía da boca por onde a lenha se introduzia. E subia pela chaminé. E punha fuligem no forro em treliças das ripas verde-escuro.

Queria chamar a atenção do pai. Indiferente, porém, ao seu desejo, prosseguia o velho a mastigar.

A mãe, encostada à pia, dava as costas a todos. Impossível ver-lhe a fisionomia, mas Dolores sabia que chorava.

Ali perto, na sala, sobre a mesa, repousava pequeno caixão aberto. Nele, uma criança muito nova. Uma menina. Era ela, Dolores. Via-se a si mesma.

Recomeçava o tormento. Queria fugir dali. Queria poder ressuscitar. Queria voltar a brincar no terreiro aberto para as plantações.

Desta vez conseguiu o intento e passou a correr pelo campo, montanha acima, em busca do rio... Não havia contradições. A paisagem se compunha e ela se viu sozinha, ouvindo a voz da mãe ao longe:

— Dolores! Dolores! Dolores! — angustiadamente.



Acordou sentindo forte peso na cabeça. Lembrava-se nitidamente dos sonhos, mas não atinava com os significados. Ficou quieta a rememorar todos os lances dramáticos. Hoje teria o que contar às amigas. Em segredo, que muita coisa feia poderia sugerir...

Voltou-se para o outro lado, desejando disfarçar as idéias que se insinuavam. Se continuasse, teria o que confessar. Era melhor não dar trela a sentimentos tão baixos. Que horas seriam? O relógio digital mostrava: duas horas. Dormira tão pouco ainda! Tinha mais três horas.

O medo de voltar a sofrer com as perseguições e com a sensação da morte, levou-a a levantar-se. Foi ao banheiro. Tomou uns goles de água. Não quis lavar o rosto para não despertar de vez. Voltou ao quarto. Fernando dormia, enrolado na coberta. Aborrecida, pegou uma colcha no armário, apagou a luz e sentiu a tepidez do colchão, como se se lembrasse ainda de seu corpo.

Que diria o Padre Timóteo a respeito dos maus pensamentos? Mandaria que rezasse dois terços inteiros. Não gostava de rezar. Fora o que mais fizera na vida. E de que adiantou? Nunca se sentiu verdadeiramente atendida. Talvez não orasse com devoção. Fá-lo-ia agora, pedindo íntimo perdão pela desconfiança da falta de carinho dos protetores. Lembrava-se de Maria, mãe impoluta, sem contágio sexual. Ela, não. Ela se dera totalmente às ganâncias daquele homem a seu lado e nem por isso engravidara.

Incomodou-se com os rumos dos pensamentos. Iria rezar para esquecer. — Ave, Maria!, cheia de graça! O Senhor é convosco...

Padre Timóteo é que rezava rápido, apressando o término do culto. Parecia que sempre estava com fome. Terça-feira era dia de oferecer-lhe o repasto mensal. Comia bem aquele sacerdote! Será que até a comida estava sonegando?!...

— Ave, Maria!, cheia de graça! O Senhor é convosco...

Às quatro, conciliou o sono. Às seis acordou, amarfanhada. Sonhara de novo, mas não se lembrava. Até se apagara muito do sonho anterior. Mas sabia que teria o que contar...

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