Do Pelé
maria da graça almeida
O verbo julgar é realmente forte, eu diria, então: analisar. É mais liberal, menos policial, mais ameno, menos invasivo. E também, sem dúvida, mais político. Que seja...
Ao analisar a postura do Pelé diante das expectativas da filha, senti um gosto amargo na boca. O mesmo gosto para o qual nossas avós
recomendariam: tome chá de boldo! E, ainda assim, tal paladar não se renderia, nem ao chá, nem a qualquer outro paliativo.
Fico pensando...será que ao olhar o rosto da menina, tão parecido com o dele; ao ouvir sua voz, semelhante ao timbre da dele, não sentiu sequer uma certa ternura, uma vontade de tomar suas mãos, de reconhecê-la, de imediato, não só no papel, reconhecê-la, de fato, no tato, no coração?
Aquela moça...era sua filha!
Por onde andava ou anda a sensibilidade do moço?
Creio que, hoje, a ele não mais interessa a opinião popular e ainda assim as línguas têm sido ou omissas ou muito benevolentes com o ídolo. A justa análise que as pessoas poderiam fazer do procedimento frio deste pai foi extremamente suavizada, pelo respeito à idolatria explícita que os homens dedicam aos “imortais”. Não fosse isso, ah, a história assumiria rumos diferentes e receberia um tratamento vigoroso e rigoroso...
Comigo não! Não me impressiona o talento, tampouco o virtuosismo, o que importa acima de tudo é o caráter de cada um.
Coitado de você, moço, ao perder a excelente oportunidade de um necessário resgate, contraiu uma dívida impagável!
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