É inegável. Os bichinhos são mesmo úteis. Ao ponto de evitar que enfrentemos filas. Minha filha de oito anos está louca para fazer um trabalho escolar "Nele". Meu caçula está no ponto de jogar o joystick à s favas. Minha mulher não se cansa de vasculhar sites de culinária e de moda, fora os pornográficos que, por uma questão de manutenção da estrutura familiar, ela não me diz que consulta. Mal sabe ela que o Explorer mantém na memória recente os endereços consultados. Deixa pra lá! Também sou chegado a uma navegação promíscua. Mas, nesses últimos dias, tenho procurado sites que aliviem o sofrimento de quem tem que instalar um computador em casa. Sou daqueles que clamam pela simplicidade. Computador, pra mim, deveria ser ligado na tomada e, em dez minutos, permitir navegar pela internet. Mas não. Alguém complica. Em seu antigo site, o escritor Mário Prata se propunha a erguer uma faculdade para formação de escritores. Não só os escritores romànticos, dados a poesia, Cronicas e novelas intermináveis. Mas também para formar profissionais especialistas em redação de textos técnicos. Seres que fossem capazes de criar um texto compreensível para instalar um equipamento eletrónico. Ou então que tornassem as bulas algo inteligível para os pobres mortais que decidiram, por um acaso da vida, não seguir nenhuma carreira ligada à s ciências biológicas. Não sei se o Prata ainda tem esse sonho. Mas certamente tem meu apoio.
O problema maior dos computadores é que as pessoas não sabem bem ao certo por que devem tê-los. Já vi alguns pais desembolsando fortunas para os filhos aprenderem a operar o Windows e os pacotes básicos. Curso de seis meses para montar planilhas eletrónicas e transcrever as receitas culinárias do caderno da mamãe. E ainda se orgulham disso. "Meu filho de sete anos já mexe no computador". Acontece que as crianças de hoje em dia mexem em tudo. Controle remoto, telefone, qualquer coisa que esteja ao seu alcance. Definitivamente não dá para se orgulhar de o filho escrever "papai eu te amo" na telinha. Houve uma onda gigantesca, há pouco tempo, de pequenos comerciantes adquirindo PC´s e instalando softwares de toda espécie para demonstrar à clientela o caráter de modernidade dos estabelecimentos. Agora imagine, leitor, eu chegando num boteco e o cidadão digitando as cervejas que eu peço. Forma de pagamento: status "F". Fiado. Aí o programa calcula automaticamente o dia em que vou pagar e quanto vou desembolsar. Se não der baixa na data correta, é emitida uma fatura que vai para o endereço do cadastro. A cobrança chega à s mãos do porteiro do meu prédio e ele espalha para vizinhança que eu bebo fiado. Fico puto, é claro. Não pago a conta e o dono do bar ainda fica com o prejuízo da postagem da fatura. Tenha dó...
Outra classe interessante de usuários - é assim que os homens ligados à tecnologia nos chamam - é a dos antenados. Aqueles que compram o melhor dos melhores equipamentos e saem por aí alardeando os poderes extraterrestres de seus micros. O Joca é um exemplo típico.
- Tem que ver, Robertinho!... O danado só falta plantar bananeira. Disco rígido de 10, 128 de RAM, Pentium V...
- Mas já lançaram Pentium V? - perguntei.
- Para o mercado ainda não. Mas tenho um amigo que trabalha na Intel Corp. que trouxe uma placa dos EUA e me vendeu por míseros quinhentos reais.
Não quis saber quanto o Joca já consumiu do HD, mas creio que nem daqui a vinte anos ele vai usar os 10 giga. Mas ele, por conta própria, disse que catalogou em seu micro todas as fichas técnicas de seus quase trezentos CDs. "Pra quê?" Ele me olhou com uma cara de desprezo e afirmou que era para ter registrado. Algo assim como mostrar para os filhos, quando crescerem, as músicas que curtia. Para não ser indelicado, calei-me. Meu filho de doze anos nunca ouviu um dos meus CDs, e desconfio que seu interesse por minhas quinquilharias não vai aflorar tão cedo. A não ser que eu morra. E do jeito que vive me pedindo dinheiro, vai vender minha coleção para o primeiro cameló de raridades musicais que encontrar pela frente. Uma das compras do Joca, porém, me provocou inveja: fez assinatura de um acesso rápido. Gasta uma fortuna por mês, mas pelo menos não passa raiva esperando o sucesso de uma tentativa de conexão. Alegou que já fez download de dezenas de programas. Principalmente de games.
