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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->1. ACONTECIMENTOS INSÓLITOS -- 24/05/2002 - 05:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fernando sempre tivera vida calma. De repente, começaram a acontecer-lhe coisas estranhas. Andava pela rua e pensava ter visto a mesma pessoa diversas vezes. Reconhecia outras com quem jamais tivera qualquer relacionamento. Em casa, aparelhos elétricos punham-se a funcionar instantes antes de tocá-los, como se se regessem pela intenção. Certas vozes longínquas eram decifradas sem dificuldade, embora soubesse que a audição estava prejudicada há algum tempo, conforme comprovado em exame especializado.

Começou a temer que o fim estivesse próximo. Aos quarenta e sete anos de idade, porém, não havia nenhum indício físico do fato. Era apenas temor supersticioso.

Católico razoavelmente assíduo, conhecia o espiritismo de terreiro, por ter solicitado alguns trabalhos para as forças espirituais. Mas não foi atendido, porque não chegara a cumprir as obrigações, ameaçado pelo confessor de excomunhão. Era também o caso de que se arrependera do pedido, para que um antagonista de comércio fosse impedido de obter concessão importante do Governo.

Os tais eventos insólitos, contudo, não relataria ao padre, uma vez que não era ele quem os provocava, sendo espontâneos e inexplicáveis.

Ouvira falar nos fenômenos paranormais e lera algumas reportagens, segundo as quais existia a possibilidade de movimentação dos objetos a distância, cujo nome, “telecinésia” (ou “telecinesia”?), lograra guardar mais ou menos na memória. Um amigo comentara, tilintando o gelo do uísque, que os espíritas eram uns “bocós de mola” pretensiosos, que jamais foram capazes de promover o que consideravam absolutamente natural, como as pedradas misteriosas que quebravam telhados e janelas.

— Escrever uns “romancecos” de quinta categoria ou borrar algumas telas era o melhor que conseguiam. O mais assombroso, concluía, era que teimavam em atribuir as “obras-primas” a escritores como Vítor Hugo, Humberto de Campos (sob o pseudônimo de “Irmão X”), Camilo Castelo Branco (disfarçado como “Camilo Cândido Botelho”), ou a pintores, como Cézanne, da Vinci, Modigliani e outros.

Fernando não era grande conversador, mas ouvia com muita atenção. Admirou-se, portanto, com o fato de o amigo rejeitar o fenômeno mediúnico, demonstrando significativo conhecimento da matéria.

Lembrava-se de ter ameaçado de perguntar como é que sabia tanto, mas calara-se, temeroso de palestra inconvenientemente técnica. Afinal de contas, o sujeito era tão católico quanto ele, tendo-o acompanhado naquelas visitas ao terreiro. Com certeza, fora ameaçado também com as chamas do inferno.

Mas estava preocupado com a natureza dos fatos. Será que o aviso de morte próxima seria o mais correto?

No confessionário, criou coragem e perguntou ao padre se existia essa premonição, uma vez que estava inseguro quanto à vida. Alguns negócios não davam certo e a esposa, vencida a menopausa, estava intolerável, à vista de não ter conseguido gerar nenhum filho.

— Meu caro, disse-lhe a voz na escuridão, Deus é pai de misericórdia e, muitas vezes, envia os anjos para anunciar aos homens os acontecimentos futuros. Não se lembra da anunciação a Maria? Se você está tendo esse pressentimento, não tenha medo e prepare-se convenientemente. Confesse os pecados. Ajude aos pobres. Seja generoso para com a Igreja do Cristo. Faça o bem. E não se esqueça de elaborar um testamento, com a ajuda de bom advogado. Morrer todos vamos, mais cedo ou mais tarde. Prontos para falar “presente” ao Pai, poucos estão.

E foi por aí afora, em lengalenga de desesperar os três fiéis que permaneciam na fila.

Ao sair do confessionário, cumprimentou pelo nome as duas senhoras e o rapaz, caindo em si que nunca lhes fora apresentado. A perplexidade só não foi maior, porque o ambiente solene do templo impediu o natural interesse das pessoas.

Durante as três ave-marias e o padre-nosso da penitência, apenas pensava em que de nada havia adiantado a bênção de perdão do confessor.

Sobre todas essas ocorrências meditava, insone, na escuridão do quarto. Ao lado, ressonava a mulher, que não presenciara nenhum “fato insólito” e que apenas sabia que o marido estivera a pique de fazer grande bobagem, afastando-se da igreja. Fernando, aliás, desconfiava de que fora a mulher quem o denunciara ao padre, pois as suas meias-palavras foram decifradas com muita naturalidade.

— Não faz mal, terminou, bocejando, amanhã irei tomar algumas providências. Jeremias irá ter de me falar um pouco mais sobre aqueles escritos e aqueles quadros. “Padre nosso, que...”

Dormiu antes que terminasse de rezar.

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