Lenda da Cigana do Bacacheri
No final dos anos setenta, eu era travessa na escola e minha tia-avó resolveu me levar numa ¨curandeira¨, conhecida como: A Cigana do Bacacheri.
Então meu padrinho nos levou de carro e descemos numa casa de madeira, perto de uma linha do trem. Assim, fomos direto na sala onde esta benzedeira fazia os atendimentos. Logo, fiquei maravilhada com o altar cheio de santos e perguntei-lhe:
- Quais entidades são estas ?
A cigana respondeu:
- Da direta para esquerda, temos:
- Santa Bárbara, Santa Sara, Nossa Senhora Aparecida, a deusa chinesa "Cohin", Cosme com Damião e a Cigana das Sete Saias.
Mas, o que me intrigou mesmo é que tinha uma vaquinha de madeira, ao lado das estátuas das entidades. Deste jeito perguntei:
- O que esta vaquinha de madeira está fazendo ao lado das imagens ?
A ¨curandeira¨ explicou:
- Esta é a Vaca Cherry aqui do Bairro Bacacheri. Reza a lenda que há anos atrás, um francês que morava por estas bandas tinha uma bovina chamada Cherry e que este animal era mágico. Um dia, este bicho desapareceu, por isto seu dono ficou louco e começou a gritar, com seu sotaque típico, sem parar:
- Cadê minha ¨baca¨ Cherry ?!
- Quem roubou minha ¨baca¨ Cherry ?!
Dizem que, até hoje, esta vaca anda por este bairro nas noites de Lua Cheia. Este causo é uma lenda urbana e todos os videntes devem levar em consideração as histórias que o povo conta. Agora, com licença, pois tenho que atender uma mãe e seu bebê.
Como sou curiosa assisti ao atendimento, onde a cigana disse para a mulher:
- A sua filha está com olho gordo de uma parenta que não pode gerar um neném. Para ela parar de soluçar, coloque uma lãzinha vermelha no meio da sua testa. Pois, a cor carmim tem o dom de assustar os invejosos e quando é colocada no terceiro olho, o neném fica protegido de forças negativas. Agora, eu farei banhos para que sua criança cresça inteligente e com prosperidade, para isto lavarei os olhos da sua filha com um pouco de açúcar e banharei seu corpo numa bacia com moedas de ouro.
Desta maneira fiquei encantada com o ritual, até que chegou a minha vez e minha tia-avó falou que eu era levada na escola. Então, a curandeira disse que minha mãe deveria fazer a seguinte simpatia: abrir meus livros ao redor da minha cama e orar para meu anjo da guarda. Assim, minha tia-avó mandou minha mãe fazer esta simpatia. Porém, não me lembro dela ter realizado isto. Mas, de uma coisa tenho certeza: o dia em que conheci a cigana do bairro Bacacheri foi inesquecível. Há dias atrás, tentei saber sobre ela e me falaram que esta benzedeira faleceu e que sua casa foi demolida. Agora, ela é mais uma Lenda Urbana da cidade de Curitiba.
Luciana do Rocio Mallon
|