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Cronicas-->mestre justino -- 21/04/2013 - 14:26 (josé paulo pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mestre Justino

Tenho dito às pessoas com quem dialogo a respeito de Redenção que o Mestre Justino é seu cidadão mais ilustre. Tantos outros existem, no passado e no presente, que são brilhantes cidadãos, o que valoriza o que digo, mostrando que entre os maiores ele está em destaque e a afirmação feita, no contexto da conversa, só mostra o grande valor de nossa terra.
Haverá uma oportunidade de me referir a outros, mas agora vou falar do Justino.
Foi meu amigo e trocamos muitas impressões. Conheci sua trajetória e consegui entender o seu íntimo. Por isto posso afirmar que era um artista de verdade e não alguém que aprendeu a pintar quadros. Sei que, ainda menino, morando num sítio humilde, lá na beira do Paraitinga, pintava nas paredes, nas folhas de papel, parecendo ter dentro de si, aquela chama que exigia dele a manifestação artística, impulsionando-o a criar e a transferir para a tela as suas emoções, sem o que a inquietude não lhe permitiria viver sossegado.
Era muito jovem e não conhecia os caminhos, correndo o risco de não ter como sair do lugar, até que encontrou em um dos homens mais importantes de seu tempo, o grande incentivador e o primeiro mestre. Foi Manoel Rocha Filho, o Manezinho da farmácia que, na condição de prefeito e homem de conhecimentos, abriu as portas do mundo da arte ao Justino, fazendo-o crer em seu talento e empurrando-o para a cidade grande, onde haveria maiores possibilidades de sucesso.
Vir morar em Taubaté significaria ter que ganhar a vida. E sendo seu objetivo viver de sua arte, necessitava de alguma coisa afim, senão perderia seu tempo e não saberia o que fazer de seus sentimentos. Arranjou emprego numa fábrica de louças, fazendo desenhos em pratos e xícaras, transformando uma peça comum num objeto artístico, de muito mais valor e beleza. Foi bom para ele e bom para a empresa que muito lucrou com o investimento.
Durou algum tempo, mas por inquietude ou incompreensão, teve que se mudar. Andou por outras cidades onde também não se acomodou e, voltando, passou por uma fase amarga quando passou a fazer gravuras tristes e desarranjadas nas quais assinava como "Barra Seca". Neste tempo morou em casa de minha tia, onde o conheci. Era perceptível que aquilo seria passageiro, só faltando um novo impulso para brotar novamente a arte esplêndida e encantadora que todos viriam a conhecer, em seguida.
Outra característica era sua humildade e timidez. Geralmente os artistas são intrometidos e passam uma imagem de bons comunicadores, facilitando suas apresentações. O Justino era muito tímido e mesmo depois de tanto sucesso, não conseguiu fazer um personagem olhando nos olhos do admirador. Reparem que suas figuras ou estão de costas, ou olhando para o lado ou para o chão.
As coisas não acontecem por acaso e este jeito de ser o levou ao seu estilo, filiando-se à arte impressionista, onde cada traço representava uma emoção e as cores misturadas com imagens não tão nítidas, demonstravam aquilo que sua visão e sua cabeça queriam mostrar aos seus admiradores. Desnecessário afirmar que eram inúmeros. Cada um que passasse os olhos por uma de suas criações seria obrigado a sentir um impacto e passar a meditar. Ele estava sempre dizendo alguma coisa transcendente. Não era um quadro normal, só belo, só colorido, só valioso. Era uma imagem que chamava o cidadão a penetrar sua visão naquelas tintas, tentando entender o sentimento de quem a fez.
Acompanhei a fase doída, quando sua visão começou a se perder. Seus quadros ficaram mais escuros e parecendo mais tristes. Um dia me disse que quando iniciava uma obra, sabia, de antemão, como ela ficaria. Isto me fez entender esta fase. Ele já via a obra terminada conforme estava sua visão. Mas é importante observar que, se mudou um pouco a cor das telas, jamais caiu a qualidade e, talvez, ficassem mais emocionantes. Isto é uma prova de que aquilo que o artista faz está dentro de seu ser e é exposto de acordo com suas habilidades. E é fácil a constatação de que inspiração e habilidade eram companheiras inseparáveis do Mestre Justino.
Morreu muito cedo, mas deixou toda uma população satisfeita por conseguir ver em seus caminhos algo feito por ele, nos painéis, nos afrescos, nas escolas, nos museus. É reverenciado e respeitado por todos aqueles que o conheceram, conviveram com ele ou admiraram sua arte. Por isto será fácil constatar que o artista não morre, porque aquilo que produz, por todos os tempos, continuará enfeitando nossas vidas.
Obrigado, Justino.

Paulo Pereira
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