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Cartas-->Ciúme -- 04/01/2002 - 11:25 (Fernando Baldraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tenho meia hora e muito sono, tentarei ser sucinto. O soninho de leve
transformou-se num sonão de derrubar cavalo. A alma deveria aprender um
pouco com o corpo. As urgências deste não cessam se não remediadas. De
manhã um soninho, agora prestes a dormir de olhos abertos. A água, depois
de circular organismo adentro, fornecer o que lhe foi atribuído e dar a
parte que coube a cada parte do corpo, aguarda tranqüila na antecâmara
urinária. Aguarda algum tempo e não todo tempo do mundo, que logo virão
também outras águas e a bexiga não comporta a todas, as mais novas empurram
as antigas uretra abaixo e há de arranjar-se jeito de desaguar em algum
canto; o bolo alimentício, ainda que pressione o reto com menor eficácia em virtude de suas
características físicas e das particularidades da musculatura
intestinal, quando urge, urge, dá-se jeito de achar vaso sanitário, na
falta, vá-se ao mato, atrás dos muros, onde quiser. O corpo espera só o que
tem de esperar, dali pra diante, azar nosso. Os incômodos da alma, tais
quais os do corpo, não são por natureza ruins, dá-se este nome apenas
porque incomodam, daí julgarmos que seja males, nem todo incômodo é mal,
nem da alma e nem do corpo. O ciúme, por exemplo, é um incômodo da alma,
pode ser bom ou pode ser ruim, assim como podemos ter imenso prazer de ir
ao banheiro, pode ocorrer de termos terríveis cólicas intestinais e algum
desacerto muscular causado pela mudança de estado da matéria daquilo que
está a ocupar o espaço oco das tripas.
Há quem saiba despachar os incômodos da alma, mas como aqui não há matéria
para ser retida nem músculos para reter o inexistente, como aqui não regem
outras leis que não as nossas absolutamente particulares, a urgência na
resolução do incômodo pode ser indefinidamente prorrogada. Como dizia, há
quem saiba resolver tais coisas, deveras mais difíceis que as fisiológicas,
que resolvem-se por si e por nós, parecem tão nossas e, no entanto, tem lá
sua regra própria e pouco podemos teimar, são elas pra lá, a mandar e nós
pra cá, a obedecer. Das outras, dizemos costumeiramente, não controlamos,
quem há de domar os sentimentos? Que há de controlar o amor? Eis a mentira
toda. São precisamente estas coisas que podemos, senão comandar, ao menos
controlar, fazer com que caminhem conforme nosso gosto e não como lhes
convém. Eu e você, ontem, deixamos isto tudo claro, não podíamos fazer
parar as glândulas sudoríferas que nos empapam de suor, não podíamos
controlar o mecanismo involuntário que faz com que os olhos se fechem e se
abram continuamente enquanto vida houver no corpo, podíamos, todavia,
controlar o calor que sobe à alma quando contrariada; podíamos deixar ânimo
encontrar o exato momento de fazer presente esta ou aquela frase sem causar
dano a nenhuma das partes; podíamos transformar a raiva, o ciúme, o
despeito, o orgulho, todos estes ingredientes engenhosamente organizados de
modo a causar sério prejuízo, em uma enxurrada de beijos, de sorrisos e de
palavras que, se não fossem de amor, não haveriam de ser de
ódio. Podíamos.
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