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Artigos-->DE MOURA A MOURA FÉ - RESGATE DE UMA TRAJETÓRIA -- 17/08/2003 - 18:29 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DE MOURA AOS MOURA FÉ

– Resgate de uma trajetória



Francisco Miguel de Moura *





Ao receber o convite da Profa. Iracilde Maria de Moura Fé Lima para fazer o prefácio deste livro, senti-me bastante honrado e ao mesmo tempo receoso de não ser a melhor pessoa para tal empresa. Aos menos avisados, informamos logo de início que não se trata de uma simples genealogia mas de uma portentosa obra de história. Fabulosa e verdadeira ao mesmo tempo, porque pesquisada desde documentos existentes nos arquivos e museus de Portugal e do Brasil, aos nossos livros de nobiliarquia, história social e política, papéis existentes em bibliotecas particulares, paróquias, repartições públicas, além de fotos de lugares e prédios, depoimentos dos mais antigos membros da família e de outras.

Se há tantos historiadores com mestrado e doutorado em nosso Estado, por que fui o escolhido para ler em primeira mão e prefaciá-la? A resposta mais plausível é a de que eu pertenço à família MOURA e MOURA FÉ, cuja trajetória é levantada, embora muitos outros intelectuais lha pertençam e com muito mais gabarito do que eu, no caso citaria o Prof. Fonseca Neto, da Universidade Federal do Piauí.

Aceita a escolha, agora não importam mais as razões, não adianta vacilar. Aqui vai o meu esforço de desempenho e começo com algumas indicações do que seriam a história pessoal e história social. É sabido que todos fazemos a história, sofremos a história. O que alguns podem não ter pensado é que a história de uma pessoa não tem início com o seu nascimento e não termina com a sua morte. Nada disto. Já o disse Marx que “os mortos nos perseguem” e também que “a única ciência é a da História, sem ela não haveria nenhuma outra” – e o estou citando de memória, mas posso jurar que o conteúdo é esse.

Àquelas idéias de Marx queremos juntar outra – a do sentimento. É assim que chegamos à história das famílias, à genealogia como arte e ciência, não como banalidade ou simples exercício lúdico para encher de vaidade o vão orgulho de uns poucos. Neste sentido, entendo que a trajetória social e genética das famílias pode e deve ser escrita como História (ciência) ou como romance (arte, sentimento, etc.).

A Profa. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, aqui, com a mão de mestra no assunto e com os sentimentos de artista, faz o mais completo retrato da família MOURA FÉ e dos ramos que dispensaram a última expressão, assinando-se apenas MOURA – realmente vindos de um só e mesmo tronco – desde o seu aparecimento em Portugal, na Vila de Arucitana, recuperada dos mouros em 1.l60, pelos irmãos D. Pedro e D. Álvaro Rodrigues (agraciados pelo Rei, que acrescentou-lhes o sobrenome MOURA), até os nossos dias.

No Piauí, conforme irão ver os leitores, ela chegou com o acréscimo de FÉ, em 1755, na pessoa de LEONARDO DE MOURA FÉ, oficial do registro de terras do Reino, aqui se casando com MARIA BORGES LEAL, parenta direta e próxima de ANTÔNIO BORGES MARINHO, nobre senhor de terras, português e primeiro povoador de Picos, onde a família MOURA lançou seus traços mais vigorosos, a seguir espalhando-se por várias fazendas, vilas e cidades da Capitania de São José do Piauí, depois Província e Estado.

A Autora descobre que os Mendes, de Simplício Mendes-PI e redondeza, são também da família MOURA, daqueles que deixaram o sobrenome morrer e ganharam outros conforme pode ser verificado ao longo da parte prática do livro, que é a genealogia.

Além do deleite, na sua leitura descobre–se muito mais. Por exemplo, que Leonardo de Moura Fé, o primeiro a chegar ao Piauí, vindo do Reino mas através do Pará e não pelo caminho normal (Bahia, Pernambuco, como era comum aos sesmeiros e posseiros), justo porque era um fiscal do Reino, vinha observar o rumo das sesmarias, se as leis e a vontade do Rei, para que a justiça e a normalidade imperassem, estavam sendo cumpridas fielmente.

Confesso que em inúmeras passagens senti-me verdadeiramente emocionado, orgulhoso, como diz ela, de pertencer a uma família moralmente de tão bom gênio – onde não se verificaram, ao perpassar dos séculos, crimes ou pessoas de má conduta – e composta de espíritos dados às artes, às letras e ainda à alta política e administração pública, para não falar no mourejo das atividades mais comuns porém produtivas, como professores, funcionários públicos, profissionais liberais, criadores, agricultores, comerciantes, que povoaram estes sertões com a fertilidade de tantos filhos e filhas e conservando quase sempre a tradição do nome de Moura Fé, ou somente Moura.

Certamente aqui se aprende muito da história do Piauí, pontos ainda obscuros, não obstante tantas obras da importância das dos professores Odilon Nunes e Wilson Brandão, para citar apenas duas. Lendo-a com vagar, sentimos a Profa. Iracilde Maria de Moura Fé Lima perpassar pelo problema que ainda hoje é do Brasil e do Piauí: a distribuição de terras, a reforma agrária. Ela afirma, com base em documentos fidedignos e vozes autorizadas, que “o Rei queria que os que não possuíssem o título, desde que ocupassem e trabalhassem a terra, fossem equiparados aos sesmeiros”.

A despeito de a maior parte do livro ser tomada pela genealogia, como deve ser, pois o livro é o “resgaste de uma trajetória”, como tão bem foi subtitulado – isto é, o reconhecimento da persistência e da importância dos Moura e Moura Fé, em terras do Piauí, é indiscutível o valor da pesquisa sobre os primórdios de Portugal, época da reconquista de suas terras aos mouros, e, assim, parte do aprendizado de quem quer entender bem a História de suas origens. Pois, há, e não poderia ser de outra forma, um entrelaçamento muito grande entre a família MOURA FÈ e outras famílias, a partir mesmo de LEONARDO DE MOURA FÉ, que se casa com uma BORGES LEAL, como já indicado acima.

Para mim, a surpresa foi não ter encontrado na genealogia, pessoas com o sobrenome apenas FÉ, exceto uma – LEONOR MARIA DA FÉ – porém quando a Autora faz ligeira referência ao tronco dos SILVA MOURA, cuja árvore genealógica não pôde ser estudada nesta genealogia.

Na sua leitura, no original ainda, eu aprendi isto e outras coisas mais, como a lenda da Princesa Moura, que não posso nem devo dizer, para não tirar a curiosidade do leitor, em estilo sóbrio, agradável, fácil de entendimento, do princípio ao fim, inclusive a ordem, posição e clareza dos mapas, fotos, quadros, brasões, bandeiras, bibliografia e documentação.

Enfim, obra para estudantes, historiadores, pesquisadores e para o leitor comum. Livro que dá respostas mostrando dados e resultados de pesquisa séria, árdua, laboriosa, como lança perguntas. É quando, por exemplo, a Autora, ciosa do seu trabalho, informa que há certamente algumas falhas a serem corrigidas no futuro.

Que não se preocupe, assim, a Autora, pois, ao que se sabe, não há livros perfeitos. A perfeição é um ideal a atingir-se, nunca uma realidade.

Livro instigante é o seu Profa. Iracilde Moura Fé, eis que encontro o adjetivo certo. Estava faltando na bibliografia dos estudos piauienses e certamente avança mais alguns passos na discussão e conhecimento da nossa realidade, tão necessária de ser mudada pra melhor quanto difícil que é.

Assim, não só a grande família MOURA e MOURA FÉ está de parabéns por esta epopéia pensada, trabalhada e escrita por um de seus membros mais ilustres e de coração tão elevadamente amoroso – a PROFA. IRACIILDE MOURA FÉ. Estão de parabém todos os piauienses que tiverem a oportunidade de sua leitura.





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* Francisco Miguel de Moura é poeta, romancista, crítico literário, membro da Academia Piauiense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura.

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