Quem sou eu para cantar
esse tempo de ameaças,
de fuzis e metralhas,
de seres marcados para a morte?
Como posso falar da paciência
desse viver ao sabor da sorte,
impregnando de sustos
o coração das gentes?
Como posso adivinhar
esse obstinado viver
em alçapões, pássaros
mudos, sem poder voar?
O que dizer da insígnia,
estrela nefasta, indicado
sina, odiosa divisa
em braços inocentes?
Como saber da menina,
sua vida, sua sorte, sua certeza
de que a foice seria suprimida
e chegaria um tempo de ternura?
Bergen-Belsen
foi sua sepultura.
(Do livro "Inventário do Medo" - Massao Ohno Editor, 1997.) |