O inusitado aparece sempre de surpresa. Onde a gente menos imagina. André Breton que o diga. O pragmatismo da metáfora aconteceu em São Paulo. Aqui e agora. Surrealismo brasileiro.
O discurso estava perfeito e acabado. E sendo lido, no bom estilo. Palavra por palavra. Palavra jogada de encontro à multidão; multidão de estudantes. Alguém, no meio, ouvia tudo. Calado. Pensante por dentro. Ousado. Agressivo. Irritante. Até que se deu o inusitado. A galinha de cor preta, passou voando em direção à prefeita. Ou seria em direção ao discurso? Não se sabe, ao certo. Não era, assim, tão normal. Galinha não voa, afinal.
Veio o susto. Coisa de amigo urso. Coisa de sem juízo. E mudou-se o discurso. Passou-se ao improviso. Ao prato feito na hora. Com o sabor da indignação e da surpresa. A comida jogada na mesa. As penas esvoaçaram. Pretas, pelo ar comprimido. Em dó maior, sustenido.
Tudo no centro de macumba. Ou no centro acadêmico. Como queira. Galinha preta, sem a fita vermelha. Mas que dava medo aos mais incrédulos. Criou-se a expectativa de direito. O direito foi contido. Clamou-se pelo direito adquirido. O direito de ir e vir. Da galinha preta. Da liberdade de se expressar. E de voar e de protestar. Contra o quê, n ao interessa. Ninguém tem pressa. Não o que dizer. Não o que justificar.
Mas o contraditório não demorou. A justiça tardou, mas falou. Deu sua sentença final. Que se fez acompanhada de argumentos. Argumentos inconsistentes e metafóricos. Imprudentes. Inconseqüentes. Calcados no veado do Ministro. Logo ele, que é da Justiça.
Não havia elo causal entre o veado e a galinha. E a coisa virou piada. Não deu em nada. A mulher continuou sozinha. No seu cargo municipal. Sem avental. E o ministro, com certeza, n ao foi legal. Vive La France!....Surrealismo paulista. Em plena capital.