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Artigos-->Manhã de primavera. -- 16/08/2003 - 04:06 (Sandra Moreira Ebisawa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Páro em frente ao micro e antes de começar a escrever, percebo que há um silencio insistente que não quer dizer nada. Ao mesmo tempo é um silencio rico de sentimentos e impressões. Queria "falar" um pouco sobre alguns comentários que recebi e praticar a expressão escrita. Mas meu corpo grita! Sinto fortes tensões nas costas e na cabeça, que chega a doer. Estou como uma árvore de inverno...por fora, ressecada e sem vida, mas com uma intensa atividade interna se preparando para a primavera. Sei que somos cíclicas. Regidas por estações e ritmos internos que nos ajudam a nos afinar com nosso destino. "Tendência evolutiva" é uma outra definição do caminho humano para mim. Como dizia nosso amigo: :"As coisas sempre terminam bem, se ainda não estão bem, é porque ainda não terminaram..."

Bem, recebi a pouco tempo um comentário de uma moça de 19 anos, dizendo que eu carregava em meu pescoço uma plaquinha dizendo: "Afaste-se de mim..". Sabe que eu pude perceber isso também...Belo comentário. Talvez eu pudesse ajudá-la a ser mais adequada nos dizeres dessa plaquinha. A frase mais exata seria: "Decifra-me ou te devoro" ;-)) ...ou "Uma relação é uma invasão de privacidade conssentida"...Interessante passear pela internet e ver o que as pessoas escrevem...e essas duas expressões são plágios de definições pessoais com as quais me identifiquei.

Minha estação atual é o inverno....estou em intensa atividade, mas nada pode ainda florir. Não está pronto. Não está na ápoca. E só pode se aproximar de mim um "jardineiro sábio" que possa compreender os ciclos da vida, para que não arranque uma arvore ainda viva desavisadamente. Não quero meras opiniões, nem sugestões de como devo proceder para me livrar da dor, nem para ter mais amigos. Não posso apressar esse meu rio...ele corre sozinho em direção ao mar. Não quero estar com pessoas ansiosas pela felicidade, nem pela paz. A ansiedade em si já é um sinal de despreparo. Se não podemos suportar na dor alheia e crêr na auto regulação, não podemos ajudar ninguém com nossas palavras de ansiedade. Sem a aceitação do que é, em nós mesmos e no outro, nada podemos fazer para desatar "nós". Antes de tentarmos desenrolar os "nós" de quem quer que seja, temos que nos certificar se isso não é mais um truque que nos distrai de nossa verdadeira missão...que é perceber, aceitar e permitir que nossa natureza retome seu verdadeiro caminho. A isso eu chamo de auto regulação...Chamo de fé na vida...confiança na natureza humana.

Todos temos um caminho a seguir, e nesse caminho os obstáculos e desafios são os medicamentos que nos fazem mais fortes e humanos. Aquele que nunca passou ("do verbo superar") pela dor, pela solidão e pelo desatino, nunca poderá compreender o sofrimento do semelhante. O Outro nunca se transformará noPróximo, enquanto nos deixarmos guiar pelo condicionamento de "felicidade" que a cultura moderna nos legou. Esse conceito de vencer e ser feliz a qualquer custo, de nunca ter que se submeter a dor, etc.., nos infantilizou e fragilizou. Vivemos hoje distantes dos grandes eventos humanos como o nascimento e a morte, que foram colocados numa "quarentena" científica. A tecnologia está em avanço vertiginoso enquanto o ser humano encontra-se numa decadencia na mesma proporção. Estamos atrofiados na nossa habilidade de lidar com nosso próprio ser...nossa própria natureza. Não dispomos mais de nossas próprias palavras nem de nossos próprios pensamentos. São todos frutos da manipulação daquilo que vemos e ouvimos. Somos reativos e não ativos. E como nos recuperar e resgatar nosso caminho sem a solidão? Sem a dor de encarar de frente a situação em que nos encontramos? A felicidade e a paz deveria ser uma conquista interna e não uma obssessão conveniente aos padrões estabelecidos.

Tudo isso me faz lembrar de frases que me acompanham em meus momentos de luta, nesse bom combate que é conquistar minha liberdade:

- Como ir para o "paraíso" sem morrer? Como fazer uma limonada sem espremer o limão? Como preparar uma fritada sem quebrar os ovos? Como parir um filho sem as contrações?

Talvez haja uma resposta na tecnologia para essas questões, mas são soluções inconscistentes e sem benefícios para a alma humana.

Enquanto o ser humano não se tornar sensível o bastante para não suportar o sofrimento alheio, não haverá paz no mundo...não haverá paz interior. Pois a realidade que vislumbro é que todos nós somos apenas parte de uma unidade, assim como nossos membros são parte de nosso corpo.

Essa "parte" de mim que fez o comentário não cogita o possibilidade de que tudo o que me acontece está perfeitamente adequado...assim como os rins cumprem uma função diferente da do pulmão e no entanto servem ao funcionamento global de um mesmo organismo. E mesmo a "doença"que aprendemos a rejeitar e a temer, poderia ser análoga a um alarme que toca quando se inicia um incêndio. Não tem sentido desligar o alarme se o incêndio não for controlado. Somos os responsavéis pelo que temos...nosso corpo e nossa alma estão sob nossa custódia e não devemos mais ignorar seus sinais de apelo, de socorro.

Minha tensão e minha dor de cabeça são os guias que me levarão à minha plenitude...se eu tiver a coragem de ver o que tem atrás desse véu. Caso contrário, serei mais uma que utiliza toda a minha energia para suprimir meus sintomas e adiar o confronto inevitável comigo mesma.

Bem, agora eu vou respirar um pouco, sondar e aprender com o que esse desconforto tem a me ensinar. Adoro fazer alongamento. Afinal, num Domingo de primavera, o que poderia ser melhor do que escrever, me exercitar e assistir meus filhos numa roda de capoeira num final de tarde??

Ótima semana para vc, que teve a boa vontade de ler essas palavras tortas de uma manhã de primavera. Obrigada!

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